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Críticas

Reis e Rainhas

Visita a Nouvelle Vague

Por Luiz Joaquim | 03.02.2006 (sexta-feira)

A narrativa do novo filme do francês Arnaud
Desplechin, “Reis e Rainha” (Rois et Reine, Fra.,
2004), em cartaz no Cinema da Fundação, é bastante
diferente de tudo o que se tem visto no cinema francês
atual. Mas não é tão diferente do que se via no cinema
francês de 40 anos atrás. Há uma velocidade na câmera
e um frenetismo na montagem de “Reis e Rainha” que o
remete imediatamente ao estilo cinematográfico
mundialmente conhecido como ‘Nouvelle Vague’.

Apesar do deliberado desejo de quebrar convenções, que
aproxima o novo filme da estilística comum à escola de
Truffaut e Godard, a temática em “Reis e Rainhas” não
é exatamente idêntica àquela a que os
nouvellevaguistas buscavam como inspiração. Mas é
próxima. Dividido em dois longos capítulos com um
epílogo, o enredo acompanha o trajeto de dois
ex-amantes.

Ela é Nora (a exótica e elegante Emmanuelle Devos).
Nora é a mãe solteira de um garoto de dez anos, que
reencontra Abel (Jean-Paul Roussillon), pai dela, como
portador de um câncer num estágio avançado. Abel é um
escritor aclamado que encerra um novo livro no qual
põe alguns pontos nos “i” de sua vida. A surpresa e
desespero de Nora a faz refletir sobre a fragilidade
de sua própria existência e a faz temer pelo futuro do
filho. Esse pavor e solidão a leva ao ex-amante,
Ismael (Mathieu Amalric, em cartaz também em
“Munique”, como Louis).

Ismael é uma espécie de Antoine Doinelle (personagem
alter-ego de Truffaut, presente em cinco de seus
filmes), com o nível de charme com uns degraus abaixo
daquele defendido por Jean-Pierre Léaud. Sempre
correndo e mal-compreendido pelas suas convicção
(“mulheres não possuem alma, mas a culpa não é delas”,
afirma ele), Ismael é um violinista que acaba sendo
levado equivocadamente a uma clínica de tratamento
psicológico. Pelo seu comportamento alucinado, sua
permanência se estende além do necessária.

É por Ismael que “Reis e Rainhas” ganha cores
humoradas, constrastando com as cores sombrias que
circundam Nora ao confrontar o ódio de Abel e o
fantasma do pai de seu filho, cuja morte ela teve
responsabilidade. Abrangendo três estágios da vida
(infantil, adulta e velhice), o filme de Desplechin
abre e encerra ao som de “Moon River”, canção
imortalizada pelo filme “Bonequinha de Luxo”. Sugere,
assim, que o ciclo da ‘infelicidade’ foi fechado na
vida dos dois errantes protagonista.

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