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Críticas

O Homem nas Trevas

Tensão cega, definitiva e paralisante.

Por Luiz Joaquim | 07.09.2016 (quarta-feira)

Catapultado ao sucesso imediatamente, se olharmos pela perspectiva do mercado – custou US$ 9 milhões e arrecadou US$ 51,1 milhões nos sete primeiros dias de exibição, apenas nos EUA – o novo filme do uruguaio Fede Alvarez, O homem nas trevas (Don’t breathe, EUA, 2016), surge coma um dose de sobrevida, com oxigênio extra, ao já tão sem ar gênero do terror no mercado mundial (perdoem o trocadilho com o título original do filme).

Acontece que Alvarez não tem mais o que provar a ninguém desde 2013, quando apresentou ao mundo a refilmagem de A morte do demônio. Não havia desafio maior para um jovem realizador do que tornar atraente um clássico absoluto do gênero, com três décadas de diferença entre as produções.

Alvarez passou na prova ali, e aqui com este O homem… Percebe-se a liberdade que teve, ainda que com recursos reduzidos (e produzido por Sam Raimi), para criar esse ambiente e circunstâncias tensas, paralisantes, que mostra no novo filme.

A premissa é simples. Em alguma cidade no Michigan, três jovens, Rocky (Jane Levy, de A morte do demônio), seu namorado Money (Daniel Zovatto, de Corrente do mal) e o amigo Alex (Dylan Minnette, de Goosebums: monstros e arrepios) vivem de fazer pequenos roubos na casa de residentes que são protegidos pela seguradora do pai de Jack.

A soma do valor dos produtos roubados não pode passar de US$ 10 mil dólares, avisa Jack, pois caso sejam pegos a pena não será tão dura A precaução do rapaz já adianta que ele é o prudente do trio.

No plano de mudar-se para Califórnia, alimentado por Rocky e Money, Jack não se inclui. Diz que precisa ficar com o pai. Já sobre a família de Rocky, o filme deixa claro que o ambiente em casa é o pior possível, daí sua justificativa, inclusive para o roubo.

Essa cuidadosa apresentação dos personagens são importantes – e o bom roteiro de Alvarez com Rodo Sayagues sabe bem disso – para que o espectador venha a torcer por eles durante todo o perigo em que se colocam ao tentar roubar um velho cego (Stephen Lang), que mora num bairro deserto.

Entrar na casa de um velho cego que mora sozinho num bairro isolado e guarda com ele a fortuna de US$ 300 mil, fruto de uma indenização pelo acidente que matou sua única filha, parece ser a coisa mais fácil de fazer pela lógica de Money, parece ser a coisa mais rápida para que Rocky se mude de vez para Califórnia e parece a coisa mais estúpida a fazer para Jack, que no final cede a pressão dos amigos.

 

Daí por diante, Alvarez vai criando camadas sobre camadas de dificuldades que coloca o trio em situações de tensão absurda, tornando a casa numa espécie de presídio, onde a única coisa que interessa a fazer é sair dali. Vivo.

Não é pequena a sacada de apresentar a vítima como uma pessoa cega e, supostamente, indefesa. Essa lógica muda de sentido a certa altura e, numa determinada sequência, a brincadeira feita pela fotografia de Pedro Luque dá um espetáculo quando todos estão no escuro absoluto, dando vantagem para o velho cego. Mas, como apresentar ao espectador ações num ambiente totalmente escuro? Com infravermelho? Não. Há aqui uma solução fotográfica que deverá ser usada em próximos filmes que queiram trabalhar a mesma circunstância.

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Nesse sentido, O homem nas trevas inaugura uma nova sacada cinematográfica e aproveita-se da cultura clássica do gênero do terror/suspense para oferecer um belo produto que parece não ter fim na agonia. Entre as referências, Alvarez coloca sua mocinha Rocky numa sequência inspirada em Cujo (EUA, 1983), filme de Lewis Teague adaptado da obra de Stephen King.

E O homem… não terá fim mesmo. O finalzinho da história acena para alguma sequência, que só aguardava o retorno das bilheterias acontecer. Como tal retorno veio sorrindo e cantando para os produtores do filme, é só aguardar o anúncio de O homem das trevas 2.

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