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Críticas

O Motoqueiro Fantasma

Chamas frias

Por Luiz Joaquim | 01.03.2007 (quinta-feira)

Para defender sua aparição numa adaptação
cinematográfica a partir de um herói de quadrinhos (no
caso em questão da Marvel), Nicolas Cage, há algumas
semanas nos EUA, ressaltava o potencial dos HQ para
reavivar temas esquecidos para o mundo pop. Temas que
Thomas Mann e Goethe, por exemplo, teriam tratado com
teor existêncial na literatura. Cage até estaria certo
se estivesse empregado sua analogia para personagens
como Super-Homem ou Batman, mas nunca para o
Motoqueiro Fantasma, personagem da Marvel, que ele
encorpora em filme homônimo (Ghost Rider, EUA, 2007)
que estréia amanhã.

Dono do título da melhor estréia, até agora, nas
bilheterias americanas de 2007 (o que não deve servir
de referência para o público brasileiro), “O
Motoqueiro Fantasma” veio ao mundo pelo mesmo Mark
Steven Johnson que cometeu a versão de “O Demolidor”
(2003). Mark Steven, péssimo diretor e roteirista,
apagou aqui no filme qualquer indício de poesia que
poderia existir no drama da figura alada criada em
1972 pelos desenhistas Mike Ploog e os escritores Roy
Thomas e Gary Friedrich.

No enredo, Cage é Johnny Blaze que, ainda na juventude
vende inocentemente a alma ao diabo Mefisto (vivido
pelo “Sem Destino”, Peter Fonda), em troca de que o
coisa-ruim cure o cancer de seu pai. Já adulto, Blaze
vira uma lenda nos shows de motociclismo, superando, a
cada apresentação, um obstáculo cada vez mais
perigoso, como campos de futebol com dezenas de
caminhões enfileirados.

Acontece que, quebrando o pacto com o cão, Blaze é
amaldiçoado a vagar à noite na pele, ou e melhor, no
osso do Motoqueiro Fantasmas sempre que a presença do
mal estiver por perto. Ele é um esqueleto em chamas e
blusão de couro que, armado com uma corrente, arrasa
com os pecadores através de seu “Olhar da Penitência”
(ou algo assim), e ainda escala arranha-céus com sua
moto flamejante, que, ridiculamente, lhe obdece como
um cachorrinho adestrado.

Apimentando a situação, Coração Negro (Wes Bentley), o
filho do demo, aparece e começa a caçar a caveira
queimada para, através dele, alcançar um contrato que
vai lhe garantir proclamar o inferno sobre a Terra. A
parte romântica fica com a bela atriz Eva Mendes (de
“Hitch”), ex-namorada de Blaze na adolescência, que
ressurge como uma jornalista que, com seus lábios e
decotes, é mais quente que todas as chamas
charmuscadas pelo motoqueiro.

É difícil escutar frases de efeito escritas para o HQ
sendo literalmente transpostas para a tela. O
ambiente não é propício para se ouvir discursos
imponentes sem uma ambiência apropriada – o que muito
acontece aqui em “Ghost Rider”. E, ao contrário da
sugestão de comicidade, o motoqueiro de Cage soa bobo
com sua mania pelo música dos Carpenters e em “tomar”
jujuba em taças de vinho. Apesar de se ter dito
satisfeito com o resultado do filme, Cage parecia
saber que metade de sua imagem no filme estaria
representada por efeitos CGI onde o que menos importa
é sua interpretação. Num filme assim, talvez o
videogame valha mais a pena.

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