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Críticas

Acossado

Uma leitura ingênua e encantada para a obra de Godard. Escrito em 1996

Por Luiz Joaquim | 27.05.2007 (domingo)

Estamos em 1959. Uma nova onda toma as telas do cinema francês. Capitâneada por um certo rapaz chamado Jean-Luc Godard, de 29 anos. Com seu primeiro longa-metragem, Acossado (À Boute de Soufle).

Em sua juventude, Godard gostava muito de filmes de Gangster americano, daí ele acabou por fazer um filme sobre uma espécie de gangster, só que a moda francesa. Ou melhor, à moda da Nouvelle Vague. Com poesia e modernidade, com cortes brúscos, secos. Narrativa fragmentada e personagens existencialistas.

Godard era um conhecido e respeitado crítico do mais influente, acredito, periódico do meio cinematográfico nos anos 50. A Cahier Du Cinèma. Junto com Godard estava Truffaut, que já havia publicado na Cahier seu artigo chamado “Uma Certa Tendência no Cinema Francês”. Nele o jovem crítico propôs o que viria a ser conhecido como “a teoria do autor”. Ele dizia ser o filme, em primeira instância, uma responsabilidade única do diretor e que, sua visão de sociedade e seus valores, poderiam ser facilmente visualizados através de sua obra. Ou seja, um filme poderia ser um produto individual e revelador.

A propósito, Acossado foi escrito a partir de uma idéia que Truffaut teve quando leu uma notícia no jornal. A notícia dizia um motociclista havia matado um policial e depois tinha ido se esconder na casa da namorada.

O personagem principal de Acossado é Michel Pocard (Jean-Paul Belmondo aos 26 anos), um ladrão cínico que está viajando de Marselhe a Paris para cobrar um dinheiro de outro gangster, e dalí viaja para Itália com Patrícia, uma jornalista americana (Jean Seberg). Vejo que Patrícia serve como que uma representação do que é a América pra Godard. Ela serve, além de outras coisas na história, para que o diretor coloque sua opinião sobre alguns valores americanos. Michel fala das virtudes e defeitos de Patrícia como se estive falando das virtudes e defeitos da América. Tem até uma referência ( e reverência) engraçada a Humprey Bogard.

Uma outra coisa é uma entrevista que a jornalista Patrícia faz com um cineasta, e aquilo não tem importância nenhuma para o desenrolar da história do filme. Mas é deliciosa. E é como se Godard tivesse colocado aquela seqüência apenas para que os outros soubessem o que ele acha as mulheres, o amor, o cinema e a França. Ele coloca na boca do cineasta entrevistado as suas palavras.

A própria caracterização de Belmondo é muito irônica. Ele usa um chapéu e um óculos escuro bem a moda dos filmes de gangster americano no início da década de 40. O Michel que ele faz é uma espécie de anti-herói. Godard mostra mais de uma face do bandido, que na realidade é o heroi da história. Não é exatamente um herói, mas apenas um cara legal. Não há maniqueísmo, o bem não é tão bem assim, e o mal não é tão mal também.

Godard fez de seus personagens humanos muito próximos da gente. Existe um seqüência maravilhosa em que O casal Michel e Patrícia conversam na cama onde é discutido assuntos que vão desde felicidade, liberdade, a ignorância, o nada e até morte; Sendo que o relacionamento dos dois é mostrado da maneira mais natural possível.

Em outra seqüência, se não me engano, é quando Michel encontra Patrícia vendendo jornal numa rua, o enquadramento e a forma de mostrar e bem original para a época. Ele mostra o casal conversando de costas. E tem mais, o casal fica indo e vindo o tempo todo, e aí dizem que, para fazer aquela cena, Godard estava sentado, com a câmera no colo, numa cadeira de rodas. E a cadeira ficava seguindo os atores o tempo todo. Esse tipo de enquadramento obriga a gente a perceber o que familiar e o que não é familiar naquele tipo de cena. Aí você percebe uma crueza no resultado da filmagem que Godard chamava de querer dar ao filme “o senso de se mostrar o momento vivido”.

Acho que um grande mérito de Acossado é o seguinte, mostrar que, como num bom livro, a maneira como a história é contada pode ser mais importante que a própria história. Seguindo esse raciocínio, que o filme pode ser considerado um produto autoral, pessoal, Truffaut escreveu seu artigo “Uma certa tendência do cinema Francês”

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