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Críticas

Maria

Abel Ferrara questiona a fé e o ceticismo, com fervor

Por Luiz Joaquim | 17.05.2007 (quinta-feira)

Durante a gestão de Celso Marconi a frente do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe), foi inaugurada uma sala de projeção em vídeo batizada e “Fernando Spencer”, em homenagem ao cineasta que é uma referência viva, aos 80 anos, para todos os outros em Pernambuco. Hoje, às 20h, surge um novo spaço – uma das três salas do Cine Rosa e Silva – a ser identificada como “Sala Fernando Spencer”. A celebração, com a presença de Spencer na cerimônia para onvidados, é para dar partida ao novo projeto da administradora Sandra Queiroz em direcionar a programação da sala para filmes que suscitem a reflexão ou, “filmes alternativos”, como alguns preferem.

Sob a curadoria da jornalista Carol Ferreira, a sala “Spencer” já começa propondo uma forte sacolejada na alma quando estréia amanhã “Maria” (Mary, EUA, 2005), o novo filme do “enfant terrible” nova-iorquino de 56 anos, Abel Ferrara, diretor de “O Assassino da Furadeira”, “Olhos de Serpente” e “O Rei de Nova Iorque”, entre antos.

Com “Maria”, Ferrara ganhou quatro prêmios no Festival de Veneza 2005, entre eles o Prêmio Especial do Júri, trazendo à luz uma história sobre fé e redenção que se desenha entre três personagens. Marie Palesi (Juliette Binoche) é uma atriz uropéia em ascensão que interrompe sua carreira após interpretar Maria Madalena em “Esse é Meu Sangue”, uma produção dirigida pelo vaidoso cineasta hollywoodiano Tony Childress (Matthew Modine). Marie viaja para Jerusalém, visita o Muro das Lamentações, e, vivenciando um elo espiritual com Cristo, abdica em absoluto do showbusiness.

Ao mesmo tempo temos Ted Younger (Forrest Whitaker, preciso), o apresentador de um programa de entrevistas com PhDs em religião – no qual participam especialistas reais, como Jean-Yves Leloup, Amos Luzzato e Elaine Pagels. Apesar de mostrar uma pequena fagulha de sensibilidade religiosa em Younger, o roteiro de Ferrara deixa claro que o jornalista é um fraco, ou um perdido, como preferirem. Isso fica claro quando sabemos que Younger trai sua esposa (Heather Graham), restes a dar a luz, com uma atriz (Marion Cotillard).

Na seqüência, colocando Younger numa situação limite, trágica na verdade, o roteiro de Ferrara (co-escrito com Simone Lageoles e Mario Isabella) dá uma tocante dimensão para um homem desesperado. Impressiona também a performance de um ótimo Whitaker, transformando falas à princípio clichês (“Eu tenho um vazio em mim. Me puna”, diz ele em oração à imagem do Cristo crucificado) em gritos intensos de dor e desorientação espiritual.

Apoiado pela forte trilha sonora de Francis Kuipers, Ferrara (ele próprio um católico fervoroso) cria uma atmosfera densa, dando espaço à reflexão para o cinismo do cinema e da imprensa quando o assunto é religião. A crítica é estendida àqueles cujo objeto de trabalho é a fé. Situações criadas em torno da estréia de “Esse é Meu Sangue”, o filme “dentro” de “Maria”, remete ao polêmico “A Paixão de Cristo” (2004), de Mel Gibson, levando o espectador a pensar profundamente sobre o real valor de algumas opções.

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