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Reportagens

Morre o filósofo Evaldo Coutinho

Pensador falece vítima de infecção pulmonar

Por Luiz Joaquim | 14.05.2007 (segunda-feira)

“Filosofia” significa amor à sabedoria. Num sentido mais amplo, pode significar qualquer questionamento ou reflexão sobre os princípios da existência. Estes aspectos sempre foram as causas primárias que nortearam os estudos do escritor Evaldo Coutinho, falecido aos 95 anos na madrugada de sábado (12), vítima de uma infecção pulmonar.

Nascido em 1911, Coutinho formou-se em ciências jurídicas e sociais aos 22 anos, quando, na realidade, gostaria de ter feitos cursos que não existiam naquela época: arquitetura, filosofia e cinema. No exercício da paixão pelas imagens em movimento do cinema, Coutinho chegou a trabalhar com crítico de cinema do Jornal do Commercio na década de 1920.

Exerceu também o título de advogado por oito anos, mas seu carinho era voltado para pensadores como Spinoza, metafísico existencialista do século 17. Ainda estudante, o filósofo pernambucano publicou um texto na revista acadêmica da Faculdade de Direito do Recife sobre este holandês racionalista que desenvolveu as idéias de Descartes sem considerar a doutrina de que o mundo é constituído por dois elementos radicalmente independentes e absolutos – como o bem e o mal.

Foram os estudos sobre Spinoza que lhe estimularam a escrever e criar um sistema filosófico original e independente, ao qual chama de “A Ordem Fisionômica”. Suas anotações sobre a morte absoluta foram desdobradas em seis livros publicados entre 1978 e 1986 pela editora Perspectiva, que é vinculada à Universidade de São Paulo.

Aos 32 anos, começou a lecionar na Universidade Federal de Pernambuco, onde trabalhou até a aposentadoria, em 1978, ensinando Literatura Brasileira e Teoria da Arquitetura. No início da década de 1950, residiu no Rio de Janeiro onde escreveu para o principal jornal da cidade na época, o “Diário de Notícias”.

Nos anos 1960 disponibilizou alguns discursos pela Editora Universitária e em 1970 publicou “O Espaço da Arquitetura”, no qual define as matérias das expressões artísticas. “A matéria da música é o som. Da arte é a cor. Do cinema e o movimento. Da escultura o volume. E da arquitetura, o espaço vazio”.

Nesta obra, Evaldo Coutinho explica que a arquitetura é a única arte em que o homem constrói e é construído por ela. O ser é elemento natural da arquitetura quando se inclui no vazio da edificação, ou seja, se você entra, por exemplo numa construção de traços góticos, então você passa a carregar elementos deste estilo artístico e arquitetônico.

Em “A Imagem Autônoma” (1971), o professor fala da pureza da imagem, hoje tão maculada, e explica porque o cinema “representa um gênero artístico que se frustrou sem atingir a plena maturidade, toda explicitude de sua matéria”. Já no livro “O Lugar de Todos os Lugares” (1976), Coutinho faz uma análise crítica dos dois livros anteriores e sugere como leitura introdutória a sua doutrina.

Em 2001, o pensador ganhou uma cinebiografia no média-metragem “A Composição do Vazio”, dirigido por Marcos Enrique Lopes. O filme traz depoimento da filosófica paulista, Marilena Chauí, considerada a mais competente tradutora de Spinoza no Brasil, na qual diz que Coutinho na época aos 22 anos, antecipava em 40 anos a interpretação sobre holandês por aqui.

O diretor do Departamento de Filosofia do Pará, Benedito Nunes, tendo sido o principal responsável pela tímida divulgação da obra Coutinho pelo Brasil, também depõe, assim como o semiólogo e proprietário da Editora Perspectiva, Jacó Guinsburg.

Na área do cinema, o professor da UFPE, Paulo Cunha, explica, sentado na poltrona do Cine São Luiz, que muito antes de André Bazin versar sobre a ontologia do cinema e vir a fundar a Cahiers de Cinéma, (a bíblia do cinema sério), Evaldo Coutinho já escrevia ensaios de vanguarda. ôO detalhe é que Coutinho desenvolvia coerentes teorias sobre a estética fílmica tendo apenas como referência as poucas fitas que chegavam ao Recifeö, explica.

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