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Entrevistas

Entrevista: Jorge Furtado

Cineasta comenta Saneamento Básico

Por Luiz Joaquim | 19.07.2007 (quinta-feira)

ENTREVISTA: Jorge Furtado

Jorge Furtado já não é nenhum desconhecido da mídia há anos. Lá em 1989, o gaúcho, sócio da produtora Casa de Cinema, lançou o seu “Ilha das Flores” tornando-o o curta-metragem mais premiado no exterior e referência audiovisual obrigatórias em faculdades de comunicação. 18 anos depois, Furtado lança seu quarto longa-metragem – “Saneamento Básico, O Filme” – vindo de outras experiências neste formato não menos exitosas. Nesta entrevista concedida por telefone, Furtado conta como vão surgindo as idéias para seus filmes, do humor refinado em seus trabalhos, de seu interesse pela cinema como tema narrativo e da adaptação que faz de ‘O Paí, ó’ para a TV. Acompanhe.

Quando pensa num argumento para um filme, qual seu primeiro critério? o humor, a fácil comunicabilidade com o público?

Eu penso num assunto que eu queira falar. Começo com um texto anotando coisas que não sei no que vão dar. Não sei se será um livro, um conto, um programa para a TV. Mas “Saneamento” eu sei como começou. Queria fazer uma Commedia dell’Arte (nota: uma forma de teatro cômico e improvisado que teve início no século 16), daí fui mapeando os personagens principais. Não tinha nem história para contar, foi quando soube do “Revelando os Brasis” que e um projeto do MinC que premia cidades com até 20 mil habitantes para realizar um vídeo. Aí pensei numa comunidade com descendentes de italianos e o título de “Saneamente Básico” logo de cara porque provoca curiosidade como nome para um filme.

Em algum momento pensou em usar como título do longa o nome do vídeo – “O Monstro da Fossa” – que Marina (Fernanda Torres) e sua turma tenta fazer?

Não porque o nome “fossa” não é legal. Poderia parecer até um documentário e de qualquer forma ia sugerir uma redução que poderia dar ao filme um tom trash, que não é o caso do nosso filme.

O espectador pouco íntimo com os meandros do cinema vai perceber toda a riqueza do seu humor refinado em “Saneamento…” ?

Essa é minha maior dúvida. Eu estava agoniado para ver uma estréia. A rubrica do tema `cinema` podia assustar. Não sabia se as piadas de referência iam funcionar. Mas a dúvida acabou quando vi uma pré-estréia para um grupo de pessoas no interior do Rio Grande do Sul. Funcionou porque não tenho aqui uma metalinguagem, temos personagens que nunca fizeram cinema na vida, que vão aprendendo do zero. Para eles, o problema começa logo no conceito de ‘ficção’ (rindo). Isso de não saber definir o que é ficção parece piada mas é sério. Na minha locadora tem uma sessão para ‘ficção’ ao lado de ‘romance’, ‘drama’ e por aí vai.

Com “Sal de Prata” (2005), do Carlos Gerbase, e os seus curtas “Sanduiche” (2000) e “Barbosa” (1988), percebo que a produção gaúcha parece ter um interesse especial pelo assunto ‘cinema’ como tema para fazer cinema.

É mesmo um tema pelo qual sempre me interessei. Acabo colocando a linguagem do cinema como assunto nas coisas que produzo, mesmo para a TV. Acho que “Houve uma Vez Dois Verões” (2002) é o que foge um pouco disso, no sentido de ser meu filme mais clássico, num sentido de ser realista.

E sobre o lançamento de “Saneamento Básico”, foi uma coincidência acontecer na mesma época em que dois atores de seu filme (Wagner Moura e Camila Pitanga) fazem muito sucesso numa novela da Rede Globo?

Coincidência absoluta. Não tinha esse planejamento. Quando acertei com Lázaro Ramos em 2004 para estar em “Saneamento…”, por exemplo, ele colocou no contrato que assinou para a novela “Cobras e Lagartos” que teria de estar disponível para atuar no meu filme. Foi muito difícil juntar essa turma (Fernando Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Bruno Garcia), precisei me antecipar anos para conseguir. Sobre o sucesso dessa novela estar no ar hoje, foi muita sorte.

A música em seus filmes é sempre importante. Como foi o planejamento musical de “Saneamento…” e qual o custo para conseguir os direitos das canções que você queria por no filme?

A trilha mais cara foi a de Billie Holiday (“It Had to Be You”). Em “Saneamento…” digo que ela custou 3 mil Reais mas custou três mil dólares. Quando estou escrevendo o roteiro vou anotando logo as músicas que vão acompanhar as cenas. E há uma pesquisa musical andando junto com o roteiro. Ouvi toneladas de músicas italianas, de várias épocas, desde um rock dos anos 1960, da banda Os Rokos, até clássicos como a ópera de Gaetano Donizetti (Nota: tocada quando os personagens de Tônico Pereira e Paulo José mostram seu carros um ao outro). No site do filme (www.saneamentobasicoofilme.com.br) tem a letra de todas as canções e é possível baixar a música dos Rokos, que compramos os direitos.

Está trabalhando em novos projetos?

Acabo de terminar a segunda temporada de “Antônia” para a Rede Globo. Preparo duas series novas também para a TV, uma baseado no filme “O Paí, à”. A outra ainda não tem nome. Para o cinema tenho dois roteiros em que trabalho ao mesmo tempo. Devo filmar ano que vem.

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