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Entrevistas

Entrevista: Marina Person

Fiz o filme para conhecer meu pai além do elogio

Por Luiz Joaquim | 10.10.2007 (quarta-feira)

A cineasta e jornalista Marina Person, mais conhecida como VJ da MTV, esteve no Recife na terça-feira (ontem), para promover debate após a sessão de seu documentário “Person”, em pré-estréia no Cinema da Fundação, na noite daquele mesmo dia. O filme fala não só da trajetória do fundamentel cineasta Luís Sérgio Person (pai de Marina) nos anos 60/70, como também de seus aspectos familiares. A diretora conversou com o CinemaEscrito não só sobre o processo de confecção deste projeto, que nasceu em 1997 ainda como idéia de um curta-metragem, mas também de como o filme lhe ajudou a reencontrar a figura paterna (que perdeu quando tinha seis anos) sob uma nova perspectiva. “Person”, entra em cartaz sexta-feira, na Fundaj (Recife).

O projeto de “Person” é antigo, começou como idéia para um curta-metragem há quase dez anos, teve uma versão para a TV com 52 min. (em 2003) e agora é um longa nos cinemas. Como vê esse percurso?
Quando meu pai morreu (1976), eu tinha 6 anos e cresci escutando muita história sobre ele. Que era um cara empreendedor, um cara atirado, corajoso. A minha memória e a da minha irmã Domingas sobre nosso pai era muito formada pela memória dos outros. Meu pai morreu antes dos 40, e quando alguém morre jovem, a tendência é a família só ressaltar as coisas positivas, principalmente para os filhos. O filme era também para eu descobrir alguma coisa mais profunda, ir além do elogio. Aí eu fiz uma faculdade de cinema e foi quando decidi que eu mesma é que tinha de desbravar isso, e poderia ser fazendo um filme. A idéia era sempre fazer um longa, mas achava que não ia conseguir, não tinha grana. Mas aí ganhei um concurso da Secretaria de Cultura de São Paulo em 1998, levantei uma produção e quando montei o curta, pensei, ‘Ih, não vai dar pra contar nada’. Aí começamos a batalhar para fazer um longa.

Como o projeto demorou muito para chegar até o longa, deve ter sido delicada a escolha do que incluir e do que deixar de fora na edição final. O recorte que vemos hoje no longa, já estava definido desde o início do projeto ou foi tomando forma nestes dez anos?
Foi mudando muito. O primeiro corte, só de entrevistas, tinha duas horas e meia. Só de falação. Pra eu diminuir e editar também a entrevista de meu pai (realizada pela TV Cultura pouco antes dele morrer), além das imagens dos filmes dele, muito coisa teve de cair. Esse tempo todo foi bom. Funcionou como espaço de maturação pra o que fizemos hoje. Cheguei a montar uma versão e ficar um ano sem olhar pra ela, o que foi bom, porque quando a gente fica em contato todo dia, o dia todo com aquilo, perdemos a visão objetiva e nos viciamos em algumas coisas. A versão definitiva do cinema é um pouquinho diferente da anterior. São apenas três cenas que acrescentei mas dão um diferencial impressionante. É quando falo da morte dele, e mostro manchetes de jornais da época por exemplo. O Serginho Meckler me ajudou na montagem com alguns toques assim.

Vendo o filme hoje, acha que ainda faltou acrescentar alguma coisa?
Acho que não. Pelo contrário. Tive acesso a muita coisa. Até mesmo as cenas do enterro dele consegui. E elas apareceram apenas há quatro anos. Consegui na TV Cultura. Sempre vão aparecendo mais coisas. Outro dia recebi um e-mail da Itália, de uma ex-namorada do meu pai, dizendo que tinha algumas coisas feitas por ele que eu poderia usar, mas aí já não dava.

Você acha que “Person” ajuda a compreender ou enxergar melhor algumas coisas nos filmes de seu pai?
Espero que sim. O impulso inicial do filme era um busca minha. Uma descoberta minha. Eu queria falar daquilo, aquilo me comovia. Meu pai foi tirado da minha convivência muito cedo, e no filme existe muitos aspectos de familiaridades, pessoais e de amigos, mas não dava pra ignorar o lado profissional porque ele era um cara muito ativo. Fez muita coisa. E o filme chama a atenção pra isso também. Quando as pessoas saíam das primeiras sessões, vinha me falar ‘Quero conhecer mais a obra de seu pai, fiquei super-curiosa!’. Isso pra mim é a melhor resposta.

Pela sua presença, a de sua irmã e a de sua mãe no filme, com questionamentos sobre como era o homem Luís Sérgio Person, seu documentário ganham um tom feminino inusitado, você enxerga isso também?
Não ninguém nunca chegou pra me falar isso. Mas acho legal sua observação, mesmo porque tem muito pouca mulher fazendo documentário. E você falando, agora lembro do “Rocha que Voa”, do Eryk Rocha (filho de Glauber Rocha, aqui cinebiografando o pai), que é realmente totalmente diferente do “Person”.

Algum outro projeto para dirigir no cinema?
Tenho um roteiro de um longa de ficção chamado “A Vida Não É um Filme”. Ainda estou captando recursos. Fala de um grupo de jovens que viveram nos anos 1980.

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