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Críticas

Patativa do Assaré: Ave Poesia

A poesia que vem do Ceará

Por Luiz Joaquim | 02.03.2009 (segunda-feira)

Coisa rara a Sessão de Arte do UCI/Ribeiro (Recife) trazer um documentário brasileiro para exibir em suas sessões espalhadas por três multiplex do Recife. Hoje, em sessão única às 19h na sala 4 do Shopping Tacaruna, é exibido “Patativa do Assaré: Ave Poesia”, pelo qual o cineasta cearense Rosemberg Cariry retrata a vida e obra do poeta conterrâneo que dá título ao filme. Cariry, à propósito, está no Recife e participa de um debate com o público após a sessão de hoje (02-mar-2009).

Os 84 minutos de “Patativa do Assaré: Ave Poesia” estão à altura da importância de seu cinebiografado para a poesia cearense. Com uma diversidade de imagens de arquivos do próprio acervo de Cariry e de outros (em Super-8, 16mm, 35mm, S-VHS, Hi-8, U-Matic, Betacam) o veterano cineasta conseguiu desenhar a trajetória deste poeta popular que, com seu versos sobre a família, o amor, o sertão e a política, chegou a ser estudado por franceses.

A propósito, pelo depoimento de especialistas em lingüística, Cariry não esconde o lamento em constatar que um artista da estirpe de Patativa ainda precisa de referências no exterior para ganhar mais crédito em sua própria terra. Ao mesmo tempo, escutamos pela boca do próprio poeta (falecido em 2002) o reconhecimento a Miguel Arraes quando, em 1955, intermediou a transcrição de seus poemas narrados para o livro ‘Inspiração Nordestina’, fazendo a arte de Patativa circular por todo o país.

Outro momento importante do documentário mostra a polêmica da gravação por Luiz Gonzada de “A Triste Partida”, hino inconteste do sertanejo que busca uma vida melhor na cidade grande, ilustrado (com inspiração) por Cariry com imagens do filme “Viramundo” (1965), de Geraldo Sarno.

O realizador vai também marcando a passagem do tempo na vida de Patativa pela ótica política, incluindo aí filminhos oficiais da campanha no período da ditadura. Não deixando de lado as hoje cômicas propagandas políticas. Tudo isso deu um tom mais ‘engajado’ nas palavras de Patativa que talvez ele pensasse aplicar. De qualquer forma, temos também o registro, cantado pela voz trêmula do poeta, daquilo que foi sua criação voltada para o que há de essencial na vida.

“Ave Poesia” foi exibido pela primeira vez no Cine-Ceará, em 2007. Na sessão de lá, acompanhada pela CinemaEscrito, a platéia do festival aplaudia, mais de uma vez, em cena aberta, principalmente quando saía da boca de Patativa uma melodia, quase como uma reza ou um lamento. Um desses momentos fortes está logo no início, quando o poeta recita sobre a morte da filha pequena, de seis anos de idade. É um cartão de apresentação tão forte que a empatia torna-se imediata com a arte daquele velhinho frágil.

Além da sessão de hoje, “Patativa do Assaré: Avé Poesia” deve exibir em sessões especiais na próxima sexta-feira e sábado (às 21h e 11h, respectivamente) no Shopping Boa Vista, e de segunda a quinta-feira da próxima semana, em torno das 19h, no Shopping Center Recife.

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