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Entrevistas

Entrevista: Micael Langer

Simonal estava a frente de seu tempo – diz diretor

Por Luiz Joaquim | 15.05.2009 (sexta-feira)

Hoje, o Box Guararapes (Recife) exibe o documentário “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”. Concebido a seis mãos – Cláudio Manoel (o “Seu Creysson” do Casseta), Micael Langer e Calvito Leal -, a obra resgata a imagem de uma das melhores vozes do Brasil e revê a polêmico que o colocou no ostracismo e depressão por 30 anos. Nesta entrevista por telefone com o diretor Micael Langer, a CinemaEscrito questionou alguns aspectos técnicos e éticos do filme. Acompanhe.

Como foi fazer um documentário a três, vocês tinha funções especificas?
Foi um surpresa agradável. Tudo era dividido em três. Tudo era debatido por nós três e isso agregou um valor diferenciado ao resultado. As discussões evitaram também alguns desvairos artísticos. Se alguém tinha uma idéia, tinha de passar pelo crivo, tinha de convencer os outros dois.

Qual era o maior cuidado ao retratar uma figura tão polêmica, que foi do amor ao desprezo da mídia?
Foram muitos. Era um assunto delicado. Várias pessoas sofreram. Não atingiu apenas o artista e sua família, mas a família do contador de Simonal – que teve aquele final trágico. Tínhamos de manter a sobriedade ao contar essa história. (O contador foi sequestrado em 1970 e sofreu torturas. Simonal foi acusado como mandante do sequestro).

O filme é rico em imagens históricas, provavelmente difíceis de encontrar. Qual foi a imagem de arquivo mais desejada e a mais complicada de conseguir?
Não sei qual a mais desejada. Uma boa surpresa foi encontrar o filme do Domingos Oliveira “É Simonal” (1970). Outra grande surpresa foi quando conseguimos material da TV Record da época dos festivais de música. Muita coisa foi perdida e o que encontramos foi apenas material comemorativo, de fim de ano, etc, e lá tinha muita coisa legal, como o número que Simonal faz. É uma crítica ao racismo, se fantasiando de palhaço, no estereótipo do negro. Coisa que Spike Lee só veio fazer décadas depois com o filme “A Hora do Show” (Bamboozled, 2000). É uma apresentação muito a frente de seu tempo e contundente.

Você pensaram ou tentaram pegar depoimentos de ícones dos anos 60 / 70 como Gil, Caetano, Chico Buarque, ou mesmo Domingos Oliveira, Marília Pêra (que contracenou com ele em “É Simonal”) sobre a ausência deles em sair na defesa de Simonal quando foi acusado de ser dedo-duro do regime militar?
Nosso processo foi um pouco caótico. Não tínhamos dinheiro. Trabalhávamos quando os três podiam trabalhar. Às vezes ficávamos sem conseguir falar um com outro e quem fazia as entrevistas era quem de nós três estava disponível para fazê-la. Quando encontramos o contador do Simonal, o filme mudou bastante e aí paramos para vermos se já tínhamos um filme naquele material todo. Sentimos que sim, que conseguimos e por mais que sentíssemos falta de algo, estávamos satisfeitos. Sempre podia ficar melhor, mas achamos que do jeito que estava, estava bem.

Você sabe como ficou a imagem de Simonal no exterior após o episódio do sequestro?
Nunca tive muita informação sobre a imagem do Simonal no exterior. Sabemos que ele fez sucesso lá. Eu pessoalmente tenho amigos na Argentina que conheciam a história do sequestro, mas não temos ideia da extensão que essa história tomou mundo afora.

Pretendem fazer o filme circular no exterior?
O filme já passou em alguns festivais lá fora. Passou inclusive nos EUA, na Embaixada Brasileira. É um filme muito particular. Mais nosso que para pessoas de fora.

Qual a maior contribuição do filme para a imagem do Simonal?
Olha, acho que primeiro o resgate de sua música para várias gerações que não o conheceram. Independente do que ele fez ou deixou de fazer, trazê-la de volta era necessário. Outra coisa é esclarecer, para quem era fã, aquela confusa história mais que mal contada de que ele era dedo-duro.

Há um depoimento forte da segunda esposa do Simonal lembrando que ele estava apagado da história da música brasileira.
Sim. Apagado da história. Não há uma compilação feita de suas músicas. O curioso é que, a partir da notícia que estávamos fazendo um filme a seu respeito, algumas pessoas foram perdendo o pudor e começaram a procurar a música dele. Isso é bem gratificante.

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