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Críticas

A Mulher Invisível

Selton Melo só pensa na mulher dentro de sua cabeça

Por Luiz Joaquim | 05.06.2009 (sexta-feira)

Era estranho e interessante o primeiro longa-metragem de Cláudio Torres, “O Redentor”, quando lançado em 2004, mas ainda assim era claramente carregado de um barroquismo que distraía mais que contribuía. Depois veio uma comédia adaptada de uma peça de Domingos Oliveira, “A Mulher do Meu Amigo” (2008), cômica e bem traduzida para o cinema, mas ainda em tom descartável. Hoje chega seu terceiro filme, também uma comédia de costumes, chamada “A Mulher Invisível” (Bra., 2009), com forte sugestão tornar-se o novo arrasa-quarteirão brasileiro.

Há em “…Invisível” um apelo próprio que deve agradar ao espectador que se habituou a pagar para sorrir no cinema com piadas em sotaque nacional (carioca). Mas há também ali um apelo universal que torna seu roteiro (já vendido para uma adaptação na Turquia) um chamariz para os mais diversos espectadores. A idéia simples, confronta um homem (Selton Mello) diante da materialização de sua mulher ideal (Luana Piovani).

Ele é um controlador de tráfego no Rio de Janeiro que ama sua esposa (Maria Luísa Mendonça, co-responsável pelo roteiro) e quer apenas uma vida saudável e eterna a dois. Quando é deixado por ela, mergulha numa frustrante farra sexual até decidir-se pela solidão. Eis que surge uma loira de short jeans a sua porta, dizendo-se sua vizinha, e lhe pedindo açucar. A loira mostra-se a mulher perfeita, dentro de um estereótipo masculino nacional, ou seja, além de linda, adora sexo, gosta de futebol, e não tem ciúmes. Na verdade, ela é uma ilusão, fruto do desejo perturbado de Pedro (Selton).

Toda a construção desse envolvimento inicial feita pelo filme flui num ritmo admirável, que só realça a mão forte de Torres na direção, além de salientar a perfeita seleção de elenco. Selton Mello adequa com primazia alguns de seus cacoetes para o personagem frágil e digno de piedade de Pedro; enquanto Piovani escancara sua competência – quase que constantemente em cena apenas de lingerie – deixando claro que estratégias para seduzir homens via sex appeal é mesmo o seu terrítório.

Passado o momento em que Pedro descobre, ajudado pelo irmão (Vladimir Brichta) ser vítima de sua própria imaginação, “A Mulher Invisível” inicia uma nova fase menos feliz que a primeira. A da condução à realização pessoal de Pedro a partir de, talvez, o personagem mais interessante do filme, a vizinha (de carne e osso), Vitória (a atriz de teatro Maria Manoella).

“Menos feliz” pelas opções fáceis que fazem o final do filme um deja vu de qualquer outra comédia romântica gringa, na qual a mocinha desiste do mocinho e ele sofre por ela até perceber que a moça é realmente o amor de sua vida e ir ao seu encontro para o beijo romântico dos créditos finais. Nada contra beijos românticos nos créditos finais, mas tudo contra a construção de uma história que inicia original que e encerra-se em cima de clichês.

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