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Críticas

Apenas o Fim

Antes do tocar da campainha

Por Luiz Joaquim | 02.09.2009 (quarta-feira)

No Recife da década de 1920, alguns jovens apaixonados por cinema produziram filmes que formariam aquilo posteriormente nomeado de “Ciclo do Recife”. Entre eles estava Jota Soares que aos 20 anos dirigiu “A Filha do Advogado”, e hoje é um clássico brasileiro. Na década seguinte, outro jovem cineasta, Mário Peixoto, aos 22, fez “Limite”, tornando-se um mito por décadas pela genialidade. Com a estreia de “Apenas o Fim” no Cinema da Fundação, do carioca Matheus Souza, 20 anos, volta a idéia sobre a precocidade de alguns artistas que assumem a produção de um longa-metragem.

Mas, por “Apenas o Fim”, Matheus deve entrar no time de Jota Soares e Peixoto mais pela faixa etária e menos pela genialidade. Na verdade, não há nada de genial no novo filme carioca. Enquanto “A Filha do Advogado” mostra um drama humano e social regado a um assassinato e ao julgamento do algoz, e enquanto “Limite” desdobra uma sofisticadíssima linguagem de entrelaçamento sobre a memória de três personagens isolados num barco. “Até o fim” cria situações de diálogos pop entre um casal juvenil que está por se separar, durante 80 minutos.

A princípio, esta premissa já vale crédito, considerando-se que 80 minutos de diálogo não são fáceis de construir sem que fique enfadonho. Mas, Matheus não tem aqui um filme para qualquer geração, e sim para a sua.

Levado quase que em sua totalidade pelos atores Erika Mader (sobrinha da Malu) e Gregório Duvivier, tudo acontece por que a personagem de Erika informa para seu namorado, prestes a fazer uma prova no curso de cinema, que vai embora da cidade, deixar tudo e todos. A razão e o local para onde vai a menina não são informados, mas, a partir daí o casal inicia uma revisão do relacionamento e de sua visão de mundo, que vem a ser e do próprio Matheus. Não há nada de errado em papos levados a sérios sobre a banda Los Hermanos, Strokes, internet, videogames e filmes pop, o problema é quando o papo é só sobre isso. Sendo assim, alguns espectadores contemporâneos de Matheus podem até assimilar e sentir muito prazer com “Apenas o Fim”, mas aí ninguém pode duvidar que temos aqui um filme segmentado.

O próprio Matheus estuda cinema na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, e resolveu tocar o projeto com a ajuda de amigos, que juntaram R$ 8 mil, além da renda vinda da rifa de um uísque.

Fica difícil dizer se o personagem de Duvivier é uma espécie de alter-ego de Matheus sem conhecê-lo, mas não fica dúvida que temos no personagem a caracterização de uma espécie de jovem Woody Allen. Sujeito de suposta sensibilidade cultural, com referências cinematográficas, não muito bonito e meio sem jeito com as mulheres mas delicado, ao mesmo tempo neurótico e inventivo. Sempre falando rápido. Uma espécie de Nerd. E Duvivier tem as melhores falas ou, as mais difíceis. Difíceis mais pelo tamanho que pela sofisticação. Já Erika não faz muito além de mostrar sua beleza e acompanhar Duvivier na caminhada que é interpretar.

Apesar do visível esforço do casal, há um problema claro no biótipo dos dois. Nem Duvivier sugere realmente um nerd, nem Erika suscita o ideal de mulher esplendorosa pela qual vale tanto sofrimento.

Vê-se também uma tensão latente na brincadeira de edição do filme, que só ressalta a excitação juvenil do diretor e sua intenção de criar agilidade para diálogos que nem precisavam de tanto dinamismo linguístico assim. Talvez o maior exemplo disso esteja na conversa numa escadaria da universidade. E nem é uma referência a “Potenkim”. Saudades da maturidade em “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol”.

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