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Críticas

O Bem Amado – o filme

Um bem amado videoclíptico

Por Luiz Joaquim | 23.07.2010 (sexta-feira)

É chegado o momento de conferir se a força de Guel Arraes ainda resiste nos mercado cinematográfico. Tendo no currículo agitado a recente história do cinema brasileiro a partir de “O Auto da Compadecida”, há 10 anos (obra também foi levada à TV), o realizador lança hoje no País “O Bem Amado”(Bra., 2010). É mais um projeto seu que foi pensado novamente de olho na TV. Vai virar (ainda sem data) quatro capítulos na televisão, o mesmo veículo pela qual a original peça (1962) de Dias Gomes fez extremo sucesso em 1973, numa telenovela (a primeira à cores), e depois numa série entre 1980 e 1984.

Mesmo sabendo dos riscos da comparação, Guel resolveu proseguir com o projeto e fez a premiere do filme no Cine-PE, em abril. Mas quando foi projetado, ali, para 2,4 mil pessoas, o filme apresentou suas fraquezas sem que nem precisássemos avaliá-lo sob a luz da antiga versão para a TV.

É provável que a mais gritante destas fraquezas esteja na disposição narrativa das situações pelas quais vivem o prefeito Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), Zeca Diabo (José Wilker), Seu Dirceu Borboleta (Matheus Nachtergaele) e as Irmãs Cajazeiras (Andrea Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa) entre outros. Vendo o filme, ficam claras as amarrações duras de diversas situações a partir de um único mote – a inauguração do cemitério de Sucupira.

É a situação da eleição de Odorico, mais a situação das três irmãs desejando o prefeito, mais a situação de Violeta (Maria Flor) se apaixonando pelo jornalista da cidade (Caio Blat), mais o bloco do morimbundo importado, mais o bloco do casamento de Seu Dirceu, e por aí vão. Os blocos parecem funcionar isoladamente, mas nunca dando unicidade ao longa. Na verdade, alguns blocos, nem isoladamente, conseguem seduzir, ou fazer rir. É fácil entender o porquê de se fazer essa narrativa quebrada quando se sabe que depois os blocos serão dividos em quatro partes para a TV.

O único mérito é do ator Marco Nanini. Foi ele quem comprou os direitos autorais da peça e procurou Guel para transformá-la em cinema. Com sua versatilidade, Nanini nós dá na tela um Odorico com toda uma nova (e convincente) feição e expressão corporal. Uma pena que a montagem acelerada, e outras artimanhas cinematogáficas (a trilha sonora, por exemplo) nem dá tanto tempo para essa e outras performances “respirem” na tela.

A julgar pela reação do público no Cine-PE, pode-se dizer que a melhor deste “O Bem Amado” ainda é o texto de Dias Gomes, ou seja, é um mérito extra-filme. Sempre que Odorico largava uma de suas expressões, como “streptisicamente”, “acontecimentos hemorrágicos”, ou “pratrasmente” entre outras, a gargalhada era autêntica no cineteatro. Que nos falem agora os números frios das bilheterias deste final de semana.

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