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Entrevistas

Entrevista: Gabriel Mascaro (Valeu Boi!)

Símio defende projeto na Holanda

Por Luiz Joaquim | 01.02.2011 (terça-feira)

O cineasta pernambucano Gabriel Mascaro está na Holanda. Após participar da 14a. Mostra de Cinema de Tiradentes – encerrada sábado – o realizador viajou sexta-feira (28.01) para Roterdã onde participa CineMart 2011, evento que encerra amanhã (02.02) no mercado de coproduçao do Festival Internacional de Roterdã. O projeto de longa-metragem “Valeu Boi!”, de Gabriel, foi o único brasileiro selecionado entre 434 inscritos do mundo inteiro.

Juntos com o pernambucano, foram selecionados outros 32 projetos que trazem nomes como o mexicano Carlos Reygadas (de “Luz Silenciosa”), o russo Sergei Loznitsa (de “My Joy”), o animador da república Tcheca Jan Svankmajer entre outros. O grupo devem ser apresentados a cerca de 850 envetuais coprodutores. Ainda em Tiradentes, Gabriel falou com exclusividade ao CinemaEscrito sobre suas expectativas para a viagem, além de outros projetos.

“É um evento importante para a gente legitimar a pesquisa que já começamos. O que acontece lá não é um disputa. É mais um espaço onde se pode credenciar pessoas que mapeiam o cinema mais alternativo do mundo”, comenta, fazendo menção ao catálogo de Roterdã, que conta com mais de 800 cineastas do mundo.

Para Gabriel, passar por lá é fazer com que “Valeu Boi!” tenha uma maior longevidade. “Vamos levar um bom material e procurar parceiros e conhecer pessoas”, adianta, mesmo tendo já acertado um acordo com um produtor uruguaio Sandino Saravia, o mesmo de “O Banheiro do Papa”, de César Charlone. “Acho que levar ‘Avenida Brasília Formosa’ vai servir como um bom cartão de apresentação”, especula.

Neste lugar privilegiado, onde já passou gente como Lucrecia Martel, Apichatpong Weerasaethakul e Marcelo Gomes (com “Cinema, Aspirinas e Urubus”) – que, à propósito, ajuda Gabriel com o projeto de “Valeu Boi!”, o cineasta da Símio Filmes vai buscar novos parceiros e tentar já na gestação do novo projeto alcançar êxitos no exterior como alcançou com “Um Lugar ao Sol”, que circulou em quase 40 países, tendo exibido em quase 50 festivais.

“À propósito, ‘Um Lugar ao Sol’ vai ser distribuído em Londres pela revista ‘Creative City’, que discute arquitetura e urbanismo no mundo inteiro. Serão dois mil exemplares. Aqui no Brasil ninguém se interessa por isso”, alfineta o realizador.

Sobre “Valeu Boi!”, Gabriel adiante que vai mostrar os desejos e a dinâmica que movimenta um mercado milinário pelo interior do Nordeste. As vaquejadas, que, segundo pesquisa do diretor, faz circular cerca de 100 mil pessoas todo final de semana, durante todo o ano, em cidades diferentes. “Os organizadores dão à festa o status de esporte e dizem que é o segundo, depois do futebol, com maior circulação de dinheiro no Brasil”, explica.

“O evento rememora um passado onde as vaqueiros tinham de derrubar o boi pelo rabo. As festas movimenta tanta gente quanto a final de um campeonato de futebol. Há também uma mercado musical rico que agrega diversas bandas que nem conhecemos, ao lado de outras que já possuem projeção como ‘Aviões do Forró’ e ‘Saia Rodada'”.

Gabriel ainda está elaborando como irá abordar este universo. Já fez uma grande pesquisa, quando ficou acampado ao lado do caminhão dos vaqueiros. “Fomos a Bezerros e Surubim (em Pernambuco) e encontramos coisas loucas com o futeboi, com o pessoal jogando bola com o boi no meio. É uma loucura, enquanto o boi tenta chifrar o povo, as pessoas tentam acerta o gol”, lembra sorrindo.

“Não estou com pressa nesse projeto, quero definir esboços narrativos que o filme vai ter. Acho que quando a gente já sabe o que quer a gente sofre correndo atrás disso por até dois ou mais anos. Tenho um tratamento do roteiro mais não ficarei preso a ele. Quero desconfiar dele e ficar atento a esse tempo de maturação”, comenta.

Até “Valeu Boi!” ficar pronto, Gabriel deve tocar outros dois projetos. “Um diz respeito às casas de praia que foram submergidas e outro sobre as relações humanas em áreas de serviços dos apartamentos e casas urbanas. “Os procedimentos serão diferentes dos que já fiz, pois cada trabalho opera diferente, mas o vetor é sobre a arquitetura alterando espaços e desejos”.

Sobre “Área de Serviço”, o diretor adianta: “Este é um espaço que não é para você vienciar, mas sim para uma pessoa que vai trabalhar na sua casa. Isso remonta a uma escravatura. É um modelo escravocrata no cotidiano de nossa classe média, dentro do plano diretor de nossas vidas”, encerra.

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