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Reportagens

O programador do São Luiz (Recife)

Geraldo Pinho assume a programação

Por Luiz Joaquim | 22.04.2011 (sexta-feira)

Na terça-feira, a assessoria de imprensa da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambudo (Fundarpe) enviou um informativo a respeito do recesso pelo qual passaria o Cinema São Luiz, o qual administra desde março de 2008. O espaço só reabre dia 6 de maio, após sofrer uma manutenção no sistema de refrigeração e de som. A notícia é boa, considerando o baixo nível de qualidade destes dois quesitos com o qual o cinema vinha operando (sua última sessão aconteceu há cerca de três semanas com a globobagem “De Pernas pro Ar”). Mas, o mais interessante vinha ao final do anúncio, que citava o nome de Geraldo Pinho como a pessoa que planejará a programação do palácio da rua da Aurora.

É provável que uma novíssima geração de cinéfilos da cidade não reconheçam em Geraldo Pinho o profissional que ele foi, tendo tornado, nos anos 1990, o Cineteatro do Parque numa referência de sucesso no Brasil em termos de cinema de rua. Tendo assumido o Parque em abril de 1993 – projetando o filme “Rádio Auriverde”, de Sylvio Back -, o espaço virou notícia nacional particularmente por aliar uma tripla combinação difícil: atrair um bom público popular para acompanhar uma programação inteligente ao módico preço de R$ 1,00. Lá no início da retomada do cinema brasileiro, por exemplo, Carla Camuratti fez questão de, aqui no Recife, exibir seu já histórico “Carlota Joaquina: A Princesa do Brazil” (1994) no cinema da rua do Hospício.

Após nove anos nessa função, tendo também assumido o Cineteatro do Apolo entre 2000 e 2002, Geraldo passou a gerenciar o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe), onde está até hoje quando, na segunda quinzena de março, recebeu o convite da Secretaria de Cultura do Estado, por Célio Pontes, para pensar e produzir a programação do São Luiz.

“Quem gosta de cinema no Recife, se preocupa com a situação daquela sala. E eu gostaria que as pessoas se orgulhassem do São Luiz não apenas pela sua história e pela sua beleza, mas sim pelo que ele tem para oferecer hoje e no futuro”. E provoca: “Por mais lindo que seja um cinema, chega uma hora que ele é igual a qualquer outro. Esse momento é quando as luzes se apagam e aí ficam só o espectador e a tela branca na frente dele. É aí que o cinema tem de provar que é mesmo bom”.

Nesse sentido, o programador lembra que, além de bons filmes, a correção técnica e o conforto influenciam nessa relação. Por isso, já existe um orçamento feito para se adquirir um novo processador de som Dolby analógico, além da licitação para a compra de seis novos compressores para refrigeração de ar. “Essa compra pode demorar alguns meses em função da licitação, mas irá acontecer. É claro que eu gostaria de um processador de som Dolby digital, assim como também um projetor digital, mas para podermos voltar à ativa rápido e com uma qualidade aceitável, isso já é suficiente, uma vez que temos amplificador, leitor de sons e caixas acústicas novas”, pondera.

Geraldo lembra que o atual e velho processador CP55 na cabine do São Luiz já saiu de todos os parâmetros possíveis. E para fazer novos ajustes na distribuição do som, eles aproveitam a vinda ao Recife, na próxima quinta-feira, do técnico José Luís de Almeida, o mesmo responsável pela projeção do Cine-PE no Centro de Convenções.

“Ainda pretendo aumentar a potência da lâmpada de projeção da atual de 3 mil watts para uma de 4 mil. O problema é que aí acredito ter de mexer no retificador também, uma vez que hoje ele já funciona no limite”, especifica.

Sobre a programação, Geraldo diz que fará um grande esforço para estrear filmes ali, mas lembra que é um processo lento, de sedução com os distribuidores, os quais precisa conquistar como o fez durante sua experiência no Parque. “Quando bolei uma sessão à tarde no início de minha gestão no Parque diziam que era loucura. E chegamos a passar filmes apenas para 23 pessoas numa sala de mil lugares. Mas, cinco meses depois, tivemos de criar uma terceira sessão, pois já tínhamos demanda para isso”, recorda.

“A programação tem de ser agressiva, por isso já estou criando cadastros com distribuidoras de São Paulo e do Rio de Janeiro”. Para o próximo dia 6, ele negocia com a Universal para lançar no Recife o novo filme de Sofia Coppola, “Um Lugar Qualquer” (“Somewhere”), vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2010.

Os preços continuam R$ 4 e R$ 2 (meia), com duas sessões por dia (por volta das 16h30 e 19h), entre terça e domingo. “Também gostaria de sessões de domingo a domingo, sendo três sessões por dia, mas veremos a possibilidade de efetivar isso com o desenvolver das coisas. Quero ainda criar novas situações de exibição e algumas sessões especiais”, adianta; e destaca que as sessões dominicais para crianças (às 10h e 14h) também serão mantidas.

“Gosto de dizer que não sou um curador, mas um programador. Esse profissional pensa a longo prazo e se preocupa com a visibilidade de seu cinema. Porque o São Luiz, apesar de ser enorme e de estar ali na esquina da rua da Aurora onde todos sabem onde é, mesmo assim ele hoje está invisível. O que ele precisa é chegar as pessoas. E essas pessoas vão não só interagir com o que o cinema vai lhes oferecer no futuro, pelos trailers e cartazes, como também pelo telefone (81) 3184.3157″, termina Geraldo Pinho. Uma figura lembrada também por cinéfilos mais antigos pelas longas conversar sobre cinema que mantinha nos corredores do Parque, antes do apagar das luzes.

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