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Festivais

1o Lume (2011) – Brillante Mendonza

ENTREVISTA / Brillante Mendonza

Por Luiz Joaquim | 17.07.2011 (domingo)

SAO LUIZ (MA) – A convite do 1o Festival Internacional Lume de Cinema, o cineasta filipino Brillante Mendonza esteve na capital maranhense para apresentar “Lola”. O filme, que esteve no Festival de Veneza em 2010, abriu o evento por aqui e já tem lançamento certo no Brasil pela Lume. Em entrevista coletiva concedida na tarde de sábado, Mendonza já iniciou elogiando a iniciativa do diretor do festival, Frederico Machado: “Não importa o tamanho de um festival, mas sim o seu espírito”, disse .

Comparada por uma colega jornalista com uma das master classes que ocorrem em Cannes, quando um diretor convidado ilustra seu modo de pensar e fazer o cinema, a entrevista com Mendonza durou 90 minutos e, nela, o espírito que ele se referia, de liberdade e prazer pelo bom cinema, personalizou-se da melhor forma quando uma das pessoas na platéia, a lavadeira Cleonice Bezerra, interagiu fazendo uma pergunta ao convidado sobre “Lola”.

Mendonza começou contando que conseguir apoio para fazer “Lola” – um projeto antigo sobre uma avó que prepara o funeral do neto assassinado, e de outra avó que trabalha para tirar o assassino, que é seu neto, da cadeia – foi mais difícil que no caso de “Serbis” (2008) e “Kinatay” (2009). “A premissa saiu de uma nota do jornal, e os produtores não gostavam da idéia de bancar um filme sobre idosos. Só depois que passei por Cannes e usufrui de sua repercussão é que soube que poderia rodar ‘Lola’ como desejava”, lembra.

Mas como ‘vender’ um roteiro como o de ‘Lola’?: “Apesar de fazer uma grande pesquisa sobre o assunto, falo apenas da idéia do filme. Nunca o roteiro. Nem gosto deles. Acredito que o roteiro cobre 50% do filme, e o resto de 25% fica com a realização, e mais 25% com a montagem. ‘Lola’ por exemplo, rodei em 10 dias”.

E contextualiza: “Todos meus projetos são baseados em pessoas reais, daí o estilo documental, para ser mais convincente. Eu não faço filmes para mim mesmo. ‘Lola’ é uma tributo a todas as mulheres idosas. Elas são esquecidas. Venho de uma família de mulheres. A Filipina é o pais mais católico no sudoeste da Ásia e tem uma cultura matriarcal forte. Já tivermos duas presidentas”, relembra.

Brillante conta que ele próprio estudou numa escola católica. “Me formei em belas artes e fui ser diretor de arte dos filmes mainstream feitos por lá. A Filipina, nos anos 1970, era a terceira maior indústria de cinema do mundo. Eram cerca de 300 filmes por ano contra 20 de hoje. Depois trabalhei dez anos com filmes publicitários até que me ofereceram para fazer meu primeiro longa, ‘O Massagista’ (2005)”.

Influenciado pelo cinema de seu conterrâneo Lino Brocka (1939-1991), Mendonza lembra que, antes de sua projeção internacional, faziam 24 anos que o cinema filipino não ganhava destaque no exterior. “Antes de ‘Serbis’, tinha sido com o Brocka”. Assim como seu mestre, Mendonza diz que sua responsabilidade é com o filme. “Não estou aqui para dizer o que as pessoas ou o governo devem pensar. E não quero um discurso construído para o filme. Aposto na capacidade do espectador julgar o que vê na tela”, diz.

Sobre o próximo projeto, “Prey” (presa, caçada), que acaba de filmar com a atriz francesa Isabelle Huppert – que conheceu em São Paulo -, o diretor disse ter tido um início não tão fácil. “Ela é uma atriz clássica e eu lhe dei um roteiro, mas no set dizia: `não vamos seguir o roteiro`. Foi complicado mas ela se adaptou muito bem logo no segundo dia, e depois deu entrevistas elogiando a experiência. Foi muito inspirador para mim também”.

Encerrando a conversa, matou a curiosidade de um fã na platéia que queria ouvir rápido do realizador, sem tempo de pensar, seis filmes que o marcaram. Saíram quatro: “4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias”, “Ladrões de Bicicleta”, “Elefante” e “ Os Incompreendidos”.

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