X

0 Comentários

Entrevistas

Entrevista: Marcelo Pedroso

Repensando nosso próprio olhar

Por Luiz Joaquim | 18.08.2011 (quinta-feira)

Depois de circular por diversos festivas de cinema (e ser premiado). Depois de virar objeto de estudo acadêmico na Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Depois de gerar incontáveis discussões sobre autoria, uso da imagem alheia, sobre a privacidade e os efeitos do fácil acesso à tecnologia audiovisual, finalmente o filme pernambuco “Pacific”, de Marcelo Pedroso, entra em cartaz no Brasil. O filme é construído inteiramente a partir de imagens feitas por turistas num cruzeiro em direção a Fernando de Noronha. Já amanhã poderá ser visto no Cinema da Fundação e, depois em outras 13 cidades do País. Nesta entrevista, Pedroso comenta as expectativas do lançamento, o impacto que “Pacific” causa no espectador e de seus interesses ao documentar a vida humana.

Quando iniciou a produção de Pacific?
Em 2007 nos terminávamos o filme e tivemos a ideia para “Pacific”. Em 2008 fizemos uma primeira viagem de teste no cruzeiro, bancado com nossos próprios recursos. A viagem em que as imagens foram feitas aconteceu entre novembro e dezembro de 2008. Em novembro de 2009, o filme teve sua primeira exibição pública, no 2º Janela Internacional de Cinema. Ficamos cerca de um ano e meio circulando em festivais até chegar a este lançamento de agora. Prevíamos lançar em seis salas, mas ao todo serão 14. Além do Recife, o filme passá, com datas de estreias diferentes até outubro, no Rio de Janeiro, Salvador, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, São Paulo, João Pessoa, São Luís, Maceió, Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Campo Grande, Belém, Florianópolis

Qual a estratégia de lançamento de Pacific?
A gente carece de meio de divusão audiovisual no Brasil. A hegemonia é a TV, nossa referência audiovisual está nela, e ela é uma das piores no mundo. Quando fazemos um filme queremos que ele atue na de um quadro de formação. Além das salas de cinema, “Pacific” vai ganhar um material pedagógico, com textos de quatro a cinco laudas escritos por cinco colaboradores para o público universitário. São cinco recortes abrangendo a biopólitica, a sociologia, a tradição dos documentários no Brasil, a etica, as relações com os personagens. São professores teóricos de diversas áreas: André Brasil, Illana Feldman, Laércio Ricardo no campo do cinema; Pedro França, no campo das arte plásticas; e Pablo Holmes, no da sociologia. Esse material que acompanhará o DVD, com tiragem de mil cópias a ser distribuido um universidade e cineclubes. Mas foco o a universidade mesmo. É um material para as pessoas lerem e alimentar os debates sobre o filme a partir dos textos. Nos cinemas, faremos uma promoção também que consiste no sorteio de seis assinatura de uma revista aos espectadores. Eles ganham um cupom com um número e ao final da temporada do filme, acontece o sorteio.

Parece que não haver receio de pirataria. Isso seria porque seu foco está menos na geração de capital a partir desse trabalho e mais na geração de uma reflexão social, humana, cultural ?
Piratiria para nós seria um luxo. Fiz “A Balsa” (curta-metragem) e ainda tenho 300 copias em DVD comigo. Ideia agora agora é distirbuir no pirata. O cara compra “Crepúsculo” e leva a balsa de graça. O cinema no Brasil é feito com dinheiro público. É com ele que se faz os filmes hoje. Estes filmes devem voltar para a sociedade. Voltar em forma de debate e reflexão sobre o mundo.

O filme funcionou em bons festívais de cinema, agradou boa parte da crítica e intelectuais, e agora ganha um novo público? qual sua expectativa do impacto no público menos especializado?
Tivemos já várias leituras assim, mesmo circulando em festivais onde tem gente não ligada ao cinema. As reação são diversas. Há entusiasmo. Rejeição. e eu massa. Tem gente que até enjôa no cinema pela imagens amadoras, tremidas. Sempre acho curioso e imprevisível essa resposta.

Algumas questão reflexivas que sempre cercam o filme é o de sua autoria e a do acesso à privacidade da classe média, além da facilidade e os efeitos na utilização da tecnologia audiovisual. Que novos questionamentos podem surgir agora com o olhar do público leigo?
Todos os debates são interessantes, porque o filme se presta a refletir sobre o mundo de hoje. Adoro reflexão estética, mas me pergunto porque não pensamos em como construímos nossa felicidade. Em busca de que sonho estamos indo? Qual nossa constituição como sujeito no mundo? Que roteiro queremos incorporar para nossa felicidade? Etica e autoria são preocupações nossas sim, mas em alguns debates ganharam muito destaque.

Você concorda que, no futuro, “Pacific” possa funciona como um obeto que sintetiza o modo como nos olhavámos nos anos 2000?
Ele foi feito com essa inquietação como pano de fundo, de buscar um olhar pra nós mesmo. Mas não sei se irá servir com um documentário etnográfico. Mas, ao mesmo tempo, essas questões são onipresentes nos dias de hoje, em todo o lugar. O que conseguimos foi catalizar esse ‘modo como nos olhamos’ em cima de um mesmo eixo. Se formos no Facebook, as imagens de gente se fotografando e se filmando estão todas aí, “Pacific” espelha isso. E a autoria retrata-se num espaço de indeterminação. A autoria aqui é um olhar sobre o olhar de outro. A escritura se dá de forma quase invisivel.

Produzir um documentário sem que o dispositivo seja algo tão marcante para a narrativa passa pela sua cabeça?
Quando falamos em “documentário tradcional”, penso em tema. Não dá pra dizer que “Pacific” é sobre Noronha, ou sobre pessoas, ou tecnologia. Não é só sobre isso, e é sobre tudo isso. Mas sim, me interesso por temas específicos. De qualquer forma, o filme tem de ter dimensão política e se prestar a refeltir cosas do mundo, as que não vemos no dia a dia; a constiuuição do mundo, a sociedade, as relações de poder e nos fazer enxergar isso. É como se a gente agenciasse esse olhar.

Algum dia veremos algum longa em ficção, dentro dos moldes mais tradicioais da ficção no cinema, feito por Marcelo Pedroso?
Eu estou lançando um curta-metragem de ficção agora no Festival Internacinal de Curtas de São Paulo (25 agosto a 2 de setembro). Chama-se “Corpo Presente”. Um longa-metragem… sim, mas a narrativa não seria tradicional não.

Mais Recentes

Publicidade