X

0 Comentários

Entrevistas

Entrevista: Beto Brant (Eu Receberia…)

Brant: Queríamos todas as cores do Norte no filme

Por Luiz Joaquim | 10.11.2011 (quinta-feira)

Recife será a quinta cidade a conhecer “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, versão cinematográfica feita por Beto Brant para o livro homônimo lançado em 2005 por Marçal Aquino – que co-assina o roteiro (com Brant e Renato Ciasca) do longa-metragem. O filme passa às 21h de hoje no Cine São Luiz, na programação do 4º Janela Internacional de Cinema do Recife, depois de ter exibido no Festival do Rio e na Mostra de SP em outubro; no último sábado em Belém do Pará e, antes de ontem, em Manaus.

Foi de lá que Brant concedeu esta entrevista ao CinemEscrito e, por telefone, falou das dificuldades da produção desse projeto que iniciou há seis anos, dos tratamentos dado ao roteiro, da opção por Camila Pitanga como sua protagonista, e do uso do erotismo no seu trabalho.

No enredo que logo mais será visto na majestosa sala da rua da Aurora, conhecemos Lavínia (Pitanga), uma mulher misteriosa que, enquanto é casada com o pastor Ernani (Zé Carlos Machado) no interior do Pará, é uma pacata e discreta senhora, mas que ao se envolver com o fotografo paulista Cauby (Gustavo Machado) vira um furacão sexual. Saiba mais sobre essa história.

Podemos dizer que “Eu Receberia…” é seu projeto mais ousado do ponto de vista da produção?

Sem duvida. Tivemos a dificuldade de filmar na Amazônia. Transitar por ali, pelo rio e tudo mais, não era fácil. Havia também questões com a humidade que interferia tecnicamente. Temos ainda a questão de que adaptávamos um romance de sucesso do Marçal. É um trabalho de grande repercussão. E já discutíamos filmar a história desde 2004, antes de seu lançamento. Em 2005 fizemos o primeiro tratamento do roteiro.

Vocês precisaram fazer mudanças na estrutura da história para ela fluir melhor no cinema? Como era a participação do Marcal nesse processo?

Nos fizemos uma viagem do Sul ao Norte e por toda parte oeste daquele região. Visitamos cidades menores como Alta Fronteira. Fomos do alto Mato Grosso até Santarém, passamos por Novo Progresso, Cidade dos Milagres a acabamos por optar por Santarem mesmo, e localidades nos arredores para as filmagens. Depois dessas viagens, demos um novo tratamento ao roteiro e a experiência vivida pela viagem interferiu nessa nova versão. Nesse momento, Marçal saiu de campo. Mas o livro dele sempre estava na mão dos atores. Ou seja, de certa forma, ele permanecia presente.

O personagem do pastor Ernani originalmente era uma pessoa com caracteristicas físicas bem diferentes do ator que o interpreta no filme (Zé Carlos Machado)? Como chegou na definição por Zé Carlos?

Quando leio um livro eu nunca presto atenção no perfil físico do ator para transpor ao cinema. Busco o perfil psicológico.

Mas o biotipo de Camila Pitanga se aproxima mais do de Lavínia. Como foi a decisão por ela, então. A que altura do projeto isso aconteceu?

Quando fomos a Santarém, percebemos uma riqueza de cores e etnias. A Camila tem um jeito caboclo e queríamos ver a negritude dela incorporada ali. Quando a chamamos para conversar, havia ainda um jeito diferente nela. Afora tudo isso, ela é uma grande atriz. Tem não só carisma, mas também engajamento. É uma atriz atuante. E quando Camila leu o livro, fez uma leitura muito particular, diferente, que agregou na interpretação, particularmente na perturbação psiquica de Lavínia. Ela pesquisou muito no Rio de Janeiro antes de vir ao set; e ficamos quatro meses em Santarém.

Você vem explorando o corpo de seus atores não apenas pela muito bem encenação do sexo, mas também por outros aspectos fisiológicos. Em “Cão sem Dono” (2007) há a endoscopia de Júlio Andrade, em “Eu Receberia…” há uma forte cena de vômito. Pode comentar isso?

O erotismo já era uma coisa muito forte no livro do Marçal, e tivemos que traduzir no cinema com a mesma voltagem do romance. Desde o princípio havia esse interesse. Depois de beber no livro, a gente ia, junto com o elenco, buscar caminhos para conseguir isso. Todos estavam empenhados nisso, sobretudo os atores. O fato de ter trabalhado anteriormente com o Gustavo Machado (que vive Cauby) no meu filme anterior (“O Amor Segundo B. Schiamberg”) e já ter estado em outros dois filmes com o Zé Carlos, e mais essa vivência de meses com os atores, tudo contribuiu para deixar Camila bastante confortável.

Mais Recentes

Publicidade