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Entrevistas

Entrevista: Todd E. Freeman (Cell Count)

Porto Alegre, capital do terror

Por Luiz Joaquim | 14.05.2012 (segunda-feira)

Há 11 dias, a capital do Ro Grande do Sul vem acompanhando o VIII Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, que já é considerado o mais sério e completo evento do gênero por aqui. Até o próximo domingo (20) serão apresentaremos mais de 150 filmes entre longas e curtas-metragens, de mais de 28 países.

Entre exibições, o Fantaspoa também traz convidados estrangeiros. Este ano são 26, e quem tem o privilégio de encerrar o evento é o diretor norte-americano Todd E. Freeman, que irá fazer o lançamento mundial de seu mais novo filme – “Cell Count” – no Fantaspoa.

Escrito e dirigido por Todd, “Cell Count” fala sobre Russell Carpenter, um homem que relutantemente aceita que Sadie, sua esposa, seja submetida a um tratamento experimental por causa de uma doença desconhecida que a faz correr risco de vida. Não leva muito tempo para o casal se encontrar em quarentena numa prisão junto a seis outras pessoas. Todas elas desconhecem que estarão sujeitas a uma cura que deverá ser pior do que a própria doença.

Feliz com a vinda ao Brasil, Todd conversou dos EUA com a Folha de Pernambuco sobre as expectativas, suas produções anteriores e a parceria com o irmão Jason, outro realizador que vem chamando atenção no cenário independente norte-americano. Leia abaixo:

Como você foi infectado pela “doença” do fazer cinema?

Meu irmão, irmã e eu fomos todos “infectados” muito cedo. Meu pai colecionava cópias em 16mm de filmes clássicos, nos fazia sentar em frente a tela e contava todas as histórias dos sacrifícios que os cineastas tiveram para realizar seus filmes. Nosso pai é um pastor Batista, assim como um ávido cinéfilo… e foi a combinação dos dois que nos colocou no mundo do cinema. Eu ia a igreja três vezes na semana e então nas noites de sexta-feira a gente se sentava, assistia “A Noite dos Mortos Vivos” e escutava como George Romero e companhia sofreram para tornar seus sonhos em realidade. Uma incrível, porém meio estranha, maneira de ser criado. Mas eu não desejaria que fosse de outra maneira.

Seu irmão Jason sempre esteve com você desde o início?

Sim. Jason começou a fazer filmes quando ele tinha por volta dos dez anos e eu era o ator nesses primeiros filmes dele. Ele fez um filme quando tinha 20 em 16mm, assim como eu também fiz e passamos alguns anos estudando na escola de cinema juntos. Então nos mudamos para Portland há dez anos. Desde então, temos produzido intensamente. Ele geralmente escreve e dirige os seus filmes e eu co-produzo e co-fotografo com ele e daí ele faz o mesmo para os filmes que escrevo e dirijo.

Você pode descrever como foi o processo criativo de escrever o roteiro para “Cell Count”?

Sim, é o meu retorno ao cinema fantástico, onde tudo começou para mim. Há oito anos, a minha mãe foi diagnosticada com câncer… um tumor explodiu e basicamente se espalhou pelo seu tórax. Tudo o que eu poderia imaginar é se existia algo que pudesse ser colocado nela… algo que comeria toda a doença e reconstruiria o tecido saudável. Eu estava em choque e foi assim que decidi lidar com tudo isso. Examinando meus sentimentos sobre uma doença incurável, a sensação de desespero, e inventando minha própria maneira de curá-la. Naqueles tempos o meu amigo produtor, Doug Baum, chamou essa minha idéia para fazer um filme de “O Enigma de Outro Mundo 2” e ela foi deixada de lado por alguns anos. Nos últimos dois anos, eu sabia que esse seria o meu próximo projeto porque esse amigo e produtor faleceu e eu queria realizar o trabalho em sua honra.

Julgando pelo trailer, as atuações são um grande ponto positivo em “Cell Count”; também podemos notar dois atores experientes no elenco de apoio: Ted Rooney e Daniel Baldwin.

Sim… as atuações em “Cell Count” precisavam ser muito boas ou ninguém se importaria pelo filme. Foi muito importante para mim que cada ator no filme estivesse perfeito em seu papel. Escrevi esses dois personagens para Ted e Danny. Fizemos testes para os personagens de Sadie Carpenter e William Wallace mas todos os outros papéis foram escritos com certos atores em mente. Sempre me considerei um diretor e roteirista de atores. Amo ele e respeito mais o seu trabalho que eu posso explicar. Todo e cada ator em “Cell Count” é 100% responsável pelo sucesso que o filme tem. Os atores são a razão pela qual ele funciona. Estou em débito com eles para sempre. Quanto mais realizo novos filmes, mais eu noto que preciso contratar pessoas que são tão apaixonadas quanto eu para tomar conta de certas funções. Atuação foi a primeira coisa que eu deixei de lado. Em nossos próximos filmes esperamos juntar forças com um diretor de fotografia assim como possíveis editores.

O que virá a seguir para Todd e Jason Freeman (Polluted Pictures)?

Estamos adaptando o livro de nosso pai “The Dinetah Tapes” que será feito para a sua produtora, a Highland International Pictures. Logo depois voltaremos a trabalhar em nossos filmes pessoais novamente. O meu é um faroeste moderno. O de Jason é uma comédia de humor negro. Os dois filmes… como “Cell Count” e “The Weather Outside”… deverão explodir a mente das pessoas e provavelmente “infectar” cinéfilos do mundo inteiro com a “doença” do cinema por muitas gerações.

Que recado daria aos fãs de cinema independente de gênero no Brasil?

Filmes são feitos para serem compartilhados. Você pode imaginar se os Lumiere escondessem a sua câmera ou se Edison não tivesse projetados aquelas imagens para ninguém com exceção de amigos e família? E se eles tivessem feito do cinema um segredo nunca compartilhado com o resto do mundo? O que é incrível sobre os filmes é que eles são uma das poucas coisas que foram criadas para serem compartilhadas. Não importa a cor de sua pele ou a sua linguagem: Os filmes são feitos para todos nós e criados sem fronteiras. Muitos fazem filmes para onde eles vivem e os exibem apenas para seus amigos e parentes. Mas a experiência deve ser considerada algo bem maior. É minha responsabilidade como contador de histórias em compartilhar filmes com as mais diferentes pessoas ao redor do globo da maneira que for possível. Tenho orgulho de exibir meu filme pela primeira vez no Brasil. O cinema tem uma linguagem própria e estou muito feliz em poder comunicar “Cell Count” com cinéfilos do mundo inteiro, mas primeiro, com os irmãos e irmãs do Brasil. Não vejo a hora de me encontrar com todos vocês. Estou muito ansioso para exibir o filme pela primeira vez.

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