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Entrevistas

Entrevista: Lima Duarte

Lima: Meu trabalho é ser brasileiro

Por Luiz Joaquim | 25.08.2013 (domingo)

Com todo o respeito que merece o belíssimo filme “Sargento Getúlio” lançado em 1983 no Festival de Cinema de Gramado, a homegagem aos 30 anos do título realizado pelo diretor Hermano Penna – que aconteceu na edição deste ano do Festival – foi brilhante muito em parte pela presença de seu protagonista: o ator Ariclênio Venâncio Martins, ou melhor Lima Duarte.

Aos 84 anos, com 63 deles dedicado à arte da interpretação, ativo em cerca de 90 trabalhos na televisão, com mais de 30 participações no cinema e algumas peças teatrais, Lima mostrava um vigor invejável e uma simpatia ainda maior impressionante.

Na entrevista, logo de cara, este patrimônio cultural vivo relembrou da infância sofrida no distrito de Sacramento, interior de Minas Gerais. Com apenas 16 anos, Lima partiu para São Paulo de carona num caminhão. “Eu passava as noites dormindo embaixo do caminhão. Até que um dia um amigo me chamou para conhecer o baixo meretrício. Fiquei assustado mas fui. Foi lá que conheci uma prostituta judia, de uns 40 anos, com quem vivi por um tempo”.

Sob a atenção da imprensa, Lima revelou que a companheira foi importante para o início de sua carreira. “Eu era muito ativo e ela dizia que eu devia aplicar isso num trabalho. Foi quando me perguntou o que eu queria fazer. Eu respondi que queria trabalhar no rádio, pois eu lembrava muito do meu paí, que sempre foi um mistério pra mim, ouvindo seu rádio com muita atenção lá na minha terra. Eu queria que ele me ouvisse pelo rádio também”.

Levada por ela à uma rádio em São Paulo, o jovem fez teste de locução mas escutou que tinha “voz de suvaco” e o jogaram para trabalhar como técnico. Lima seguia fazendo efeitos sonoros nas rádiosnovelas até que um dia o diretor Oduvaldo Viana o convidou para dar voz a um dos personagens da trama.

Foi o trampolim para Lima dar vazão ao seu talento, que chegou logo às dublagens de desenhos animados como Wally Gator, o cão Dum Dum e o gato Manda-Chuva. Para os jornalista abobalhados, Lima não só fez a voz de alguns destes personagens como também simulou o som de um navio singrando no mar apenas com uma caneta e um pedaço de papel. Daí adiante, a carreira deslanchou também na frente das câmeras, onde segue até hoje.

Sobre a carreira que construiu, Lima lembrou que é apenas um ator: “O que vocês querem de mim? Meu modo de melhorar o Brasil é sendo profundamente brasileiro. Sendo fiel às nossas raizes. Quero contar nossa história. Pesquisar nossa alma e colocá-la à disposição de vocês”.

Em busca de desafios
Sobre sua participação em “Sargento Getúlio”, foi questionado a Lima Duarte a razão de seu interesse em participar de um produção tão modesta, rodada em 1978 em Alagoas, quando o ator já era uma estrela nacional. Lima lembrou que, de fato, à epoca abriu mão de projetos grandes para interpretar o personagem criado por João Ubaldo Ribeiro, e foi por ele, pelo desafio de viver o Sargento, que topou estar no projeto.

“No set não tinha nem água. A gente bebia cerveja quente e comia arroz com queijo. Mas me encantava ter de assumir aquele personagem que diante de um rio ele dizia querer ir a outra margem, mas não ia porque é um sargento, é um homem da terra, um homem simples. E isso é lindo”, recordou. E continou: “Espero que o meu sargento esteja à altura do sargento de Ubaldo. Quero crer que ele concorda comigo. Certa vez ele me dedicou um livo assim: Para o Lima, o meu Sargento”.

HISTÓRIA O crítico Rubens Ewald Filho, que estava presente em Gramado na exibição de “Sargento Getúlio” em 1983, conta que ” filme provocou alguma forma de energia que contagiou a plateia. Nada ensaiado ou orquestrado, tudo espontâneo. O público foi se envolvendo, se apaixonando e, depois, explodiu em aplausos, de pé, gritando, numa emoção pura de fazer chorar”.

A respeito dos jovens atores contemporâneos, o veterano deu um bronca na nova geração. “Fala-se muito mal na tevê. Esse naturalismo que se busca nas interpretações é muito baseado na cultural norte-americana”, e interrompe para imitar a dicção embolada de um jovem ator, para depois prosseguir: “É preciso aprender a falar. É um instrumento fundamental para o ator”, concluiu.

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