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Reportagens

Central do Brasil inaugura nova tela do Parque

Maior dimensão e mais luminosidade melhoram a projeção (matéria de 1998)

Por Luiz Joaquim | 23.11.2018 (sexta-feira)

– texto originalmente publicado no Jornal do Commercio (Recife), no ‘Caderno C’, em 27 de julho de 1998
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Os frequentadores de cinema do Teatro do Parque já podem sossegar. Depois de quase dois meses sem projetar filmes, para dar espeço a eventos como O Festival dos Cinco Minutos (vídeos) e o III Festival de Dança do Recife, a casa volta a exibir películas. E volta em grande estilo. Com o já consagrado Central do Brasil, de Walter Salles Jr., será inaugurada a sua nova tela. A dimensão do espaço para a projeção de filmes (agora com 5,20m x 10m) irá permitir uma melhor visualização das outras filmadas no sistema Cinemascope, como a dos filmes Boogie Nights e Jackie Brown.

“A tela ainda não tem a dimensão ideal, a área no palco do Teatro não permite”, explica Geraldo Pinho, responsável pela coordenação do Parque, “mas, pelo menos, o público não vai ficar vendo legendas, ou imagens, escapando da tela”. Pinho adianta que o material utilizado na confecção da tela permite um ganho de 10% no reflexo da luz, e anuncia mais mudanças. Até o final de outubro, a casa provavelmente vai estar climatizada.

FILME – Por que o sucesso de Central do Brasil no exterior e em nosso país? É difícil precisar. Difícil porque o terceiro longa de Walter Salles Jr. traz uma imensa gama de motivos para um bom debate humanista.

Está lá, relevado na película, em primeiro plano, a cara do Brasil. A nossa cara, a qual perdemos a capacidade de reconhecer. Boa parte da responsabilidade por essa dormente inaptidão, provém da abusiva presença de uma mídia capaz de aniquilar com as diferenças culturais específicas de cada povo. A linguagem melodramática que telenovelas transforma qualquer coisa em uma coisa só. Central do Brasil, Urso de Ouro em Berlim, funciona diferente.

Está lá, em segundo plano, a ética e a moral. Alguém lembra do significado dessas palavras? No início do filme, os protagonistas não lembravam mas, no seu decorrer, tanto eles como nós tomamos uma sutil lição.

Dora (Fernanda Montenegro, melhor atriz no Festival de Berlim), uma professora aposentada, escreve cartas e, algumas vezes, as envia para os parentes daqueles que circulam pela estação Central do Brasil. Josué (Vinícius de Oliveira), mantém o primeiro contato com Dora através de sua mãe (Soya Lira, atriz do belo curta paraibano A árvore da miséria), aqui movida pelo desejo de se comunicar com o marido residente no Nordeste.

Um fatídico acidente com a mãe do garoto leva Josué a aproximar-se de Dora. Mas essa já perdeu a inocência e a esperança há bastante tempo. Ela é uma habitante do planeta capital. Dora abriga o garoto em sua casa, mas depois “vende” o menino a um policial inescrupuloso e, com o dinheiro, compra uma televisão de última geração.

Graças a sua vizinha Irene (Marília Pêra), ela se arrepende do seu delírio consumista e vai salvar Josué, fugindo com ele para o sertão a procurar por Jesus, o pai do guri. Daí em frente, o filme mergulha numa cruzada pelo Nordeste,  que acaba por unir a velha e o menino através da autenticidade que existe no desconhecido interior brasileiro. Dora vai recuperar os valores corrompidos pela metrópole e Josué, a esperança na amizade. Com a alma limpa pela necessidade mútua da sobrevivência, os dois renascem.

E, como se não bastasse, o filme traz belas locações, ótimas interpretações e cenas antológicas, como aquela em que Dora corre, a procura de Josué, numa procissão/labirinto em pleno sertão nordestino.

 

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