
“O Agente Secreto” pelo ChatGPT
O ChatGPT acha que já viu “O Agente Secreto”.
Por Luiz Joaquim | 09.09.2025 (terça-feira)

Amanhã (quarta-feira, 10 de setembro), o Brasil ganhará sua primeira exibição pública de O agente secreto, 5º longa-metragem de Kleber Mendonça Filho. Obra premiada em Cannes 2025, já mundialmente celebrada e com reais possibilidades de competir (e vencer?) mais um Oscar para o Brasil em 2026. A sessão acontece no Recife, cidade natal do filme, e na sala que é, ela própria, personagem do filme: O Cinema São Luiz (do Recife). Haverá, ainda na mesma data, uma sessão no igualmente belo Cineteatro do Parque, da prefeitura do Recife.
Não é difícil imaginar a expectativa dos recifenses para a épica sessão que se anuncia. Todos querem ver O Agente Secreto e alguns acham até que viram. Quer dizer… explicamos:
A colaboradora do CinemaEscrito, Renata Malta, resolveu fazer aquela brincadeira, já não tão incomum, de pedir ao ChatGPT uma crítica do filme brasileiro mais esperado de 2025. De tão prosaico, o resultado, resolvemos compartilhá-lo com vocês, nossos leitores, de modo a perceberem o que vocês já sabem: a reunião de um volume de informações predefinidas não estabelece, obrigatoriamente, um pensamento original.
O crítico GPT soa aqui como um péssimo profissional da crítica de cinema. Deita e rola no excesso da pobreza dos clichê de frases de efeito, carrega tinta forte na adjetivação e tem aquela capacidade irritante de desperdiçar um grande volume de palavras para conseguir dizer um grande nada com todas elas. Pode ser cômico, mas pode ser irritante também.
Mas, talvez, a mais inquietante percepção seja perceber que esse texto inócuo poderia ter saído originalmente também da cabeça de algum crítico de cinema cujo espírito analítico é o da insipidez humana; é o da elucubração estéril; é o da simples inabilidade de gerar reflexão em função de sua manca capacidade de traduzir sentimentos. Sim, eles existem.
Com vocês, o crítico ChatGPT
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Crítica gerada pelo ChatGPT para o filme O agente secreto, de Kleber Mendonça Filho (setembro, 2025)
Com O agente secreto, Kleber Mendonça Filho reafirma sua posição como um dos autores mais inventivos do cinema brasileiro contemporâneo. Ambientado no Recife de 1977, em plena ditadura militar, o filme transforma a cidade em um labirinto de vigilância, paranoia e lembranças abafadas — um espaço onde o tempo histórico se mistura com o tempo subjetivo.
Acompanhamos Marcelo, interpretado com intensidade e contenção por Wagner Moura, um professor recém-chegado que retorna à sua terra natal carregando silêncios e suspeitas. Aos poucos, a cidade revela seus olhos ocultos: olhares que vigiam por trás das persianas, microfones invisíveis, festas que escondem esquemas, e um Carnaval que gira como uma máquina de ilusão sobre uma estrutura de repressão.
Kleber filma o Recife como um corpo vivo e febril — não apenas um cenário, mas um personagem que respira, espreita e engole. Sua estética mistura o calor tropical com uma atmosfera de filme noir, entre cores saturadas, lentes vintage, e uma sonoplastia que ecoa o passado e o presente em camadas. Como em Aquarius e Bacurau, o espaço urbano não é neutro: é campo de conflito, de história acumulada, de resistência e de apagamentos.
O filme assume o gênero do suspense político, mas torce suas convenções. O agente secreto, afinal, não é um herói cheio de ação, mas um homem comum preso entre o desejo de viver e a necessidade de lembrar. O que se espionava na ditadura não eram apenas planos subversivos, mas modos de existência — afetos, corpos, ideias.
Há um ritmo hipnótico na forma como o diretor constrói a tensão. Em vez de explosões ou perseguições, há conversas cortadas por silêncios, danças que escondem pactos, e uma sensação crescente de que tudo pode ruir a qualquer momento. Um dos grandes méritos do filme é construir esse clima sem recorrer a didatismos: o horror do autoritarismo aparece nas entrelinhas, nas brechas, nos detalhes do cotidiano.
A atuação de Wagner Moura é o eixo emocional do longa. Seu Marcelo é um homem dividido, que observa mais do que fala, que carrega traumas sem nome. Ao seu redor, personagens surgem como ecos ou sombras — gente marcada por um tempo que não passa, por feridas que não cicatrizam.
O Agente Secreto não é um filme que entrega respostas fáceis. Ele exige do espectador atenção e entrega. É uma obra que se inscreve na memória — assim como os fantasmas que Kleber tanto gosta de invocar — para lembrar que esquecer também é um ato político.
Em tempos de revisionismos e apagamentos, o filme emerge como um grito sutil e contundente. Um lembrete de que o passado não é um lugar distante, mas uma força que ainda molda as estruturas em que vivemos.
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Leia também, aqui, textos escritos por seres humanos que já viram O agente secreto.
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