
49ª Mostra SP (’24) – No Other Choice e outros
Três filmes distintos em suas pretensões cinematográficas
Por Luiz Joaquim | 26.10.2025 (domingo)
SÃO PAULO (SP) – Sobre três filmes vistos aqui na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Um grande, um médio e um pequeno em suas pretensões cinematográficas. São títulos que nos próximos meses, em algum momento, estarão disponíveis num cinema (ou numa televisão) perto de você.
NO OTHER CHOICE – A nova presepada cômico-violenta de Park Chan-wook (Oldboy) chama-se No other choice e deu semana passada ao cineasta sul-coreano o título de melhor diretor no 58º Festival de Sitges, na Espanha.
Antes, exibiu em Veneza e no prestigiado festival de Toronto, onde recebeu o prêmio do público de “melhor filme estrangeiro” (prêmio instituído pela primeira vez nesta edição do festival). No other choice chega com força no mercado internacional e desponta como um forte concorrente a figurar entre os cinco finalistas para a categoria “internacionais” na disputa pelo Oscar 2026.
O plot é simples, mas seu desenvolvimento, complexo. Divertidamente complexo e inventivo. Man-soo (Lee Byung-hun) é, há 25 anos, um bem-sucedido funcionário de uma empresa de celuloide. O papel e derivados são suas paixões. Casado, com dois filhos e dois cachorros, morando na casa dos sonhos, que suou para comprar, vê tudo desmoronar quando a empresa decide redefinir o seu quadro de empregados.
Com poucos especialistas em seu campo de domínio, Man-soo toma uma decisão radical para poder ser o escolhido na disputa pela vaga de um novo emprego: matar seus outros três concorrentes.

Man-soo (Lee Byung-hun) na cômica tentativa de matar seu primeiro concorrente
Chan-wook, como poucos no cinema contemporâneo, nos faz rir sem culpa pelo absurdo da violência, que ele coloca como necessária – “eu não tenho escolha”, repete para si mesmo, o protagonista – mas também a coloca como patética.
Destaque para a divertida sequência de uma tentativa de argumentação, aos berros, de uma das vítimas para salvar sua vida enquanto um aparelho de som toca música num volume absurdamente alto.
90 DECIBÉIS – O título do novo longa-metragem de Fellipe Barbosa (Casa grande; Gabriel e a montanha; Domingo) se refere ao índice num teste de audiometria indicando a surdez total. Protagonizando a história está Benedita Casé Zerbini, filha de Regina Casé, portadora de deficiência auditiva.

Benedita Casé como Ana em “90 Decibéis”
Benedita, cuja performance foi elogiada publicamente por Fernanda Montenegro ao final de uma sessão do filme no Festival do Rio, vive Ana, uma advogada em ascensão num importante escritório de advocacia. Ela descobre, da pior maneira, que sua audição está em rápida progressão de decadência, o que lhe irá custar o emprego.
O filme segue nos colocando lado a lado das dificuldades de Ana em seu novo trabalho (o único que conseguiu), e lado a lado da sua relutância em aceitar a sua atual condição física e social.
Seu novo trabalho é como atendente numa repartição pública onde Pessoas com Deficiência (PCD) podem tirar sua carteirinha que autorizam benefícios. Um departamento todo composto por funcionários PCD – exceto pelo chefe, cuja condição é a pior de todas: “Ele é HEB. Homem Hétero Branco”, brinca Regininha, colega de Ana na repartição.
É bom o roteiro de Júlia Spadaccini (ela própria uma pessoa com limitação auditiva) que apresentou uma das sessões aqui na Mostra de SP ao lado de Benedita. O filme, ou telefilme, entretanto, incorre em problemas.
Há um teor quase professoral, desejoso de dar conta ao seu público de todas as lições a respeito do preconceito vivido pelas PCD e, também, temos em 90 decibéis a estrutura estética e narrativa de um telefilme.
Telefilme é termo erradamente demonizado. Caso haja um equívoco aqui não está no tanto de planos fechado nos rostos dos atores, ou na trilha-sonora melodramática, ou nos planos e contraplanos óbvios, sem muito espaço para o exercício da cinematografia e da sintaxe cinematográfica – características que, sabemos, Barbosa domina.
Mas um acerto, certamente, seria jogar energia (e dinheiro e marketing) para o lançamento deste telefilme direto pela TV ou streaming (já que estamos em 2025). 90 decibéis é uma obra dos Estúdios Globo, que, comentou o produtor Maurício Quaresma, presente na Mostra de SP, já concluiu mais de uma dezena de filmes em um ano. Orgulhoso, salientou também que 90 decibéis foi rodado em apenas 18 dias.
A velocidade (e competência envolvida nisso) não é surpreendente, na verdade, considerando a lógica industrial dos Estúdios Globo. A velocidade na produção soa mais, na verdade, como limitadora que libertadora.
A INCRIVEL ELEANOR – Scarlett Johansson estreia na direção. E estreia bem. Sem muito alarde ou pretensão, Johansson escolhe as circunstâncias da velhice extrema (acima de 90 anos) para nos presentear com a performance de June Squibb, atriz prestes a completar 96 anos.

June Squibb como Eleanor: fofura e talento em igual medida
June é a Eleanor do título. Uma senhora de 94 anos que, com a perda da amiga de toda uma vida, terá de mudar-se da Flórida e se adaptar a uma nova rotina, morando com a filha e o neto num pequeno apartamento em Nova Iorque.
Transbordando energia – “me sinto como se tivesse 16 anos”; “as pessoas pensam que velhos não pensam em sexo” -, Eleanor vai parar, inadvertidamente, num grupo de autoajuda e lá conhece uma jovem estudante de jornalismo (Erin Kellyman). Ali começa uma amizade pela qual as duas sairão emocionalmente beneficiadas.
Simples, direto ao assunto, A incrível Eleanor apela apenas na inserção over de uma trilha-sonora que poderia aparecer menos, sem prejudicar a dramaturgia já muito bem afinada entre a dupla Squibb & Kellyman.
Que Johansson se aventure mais por trás das câmeras. A incrível Eleanor tem distribuição comercial garantida no Brasil pela Sony, ainda sem data de estreia.















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