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Entrevistas

49ª MostraSP (’25) Entrevista: Renata de Almeida

A melhor quinzena cinematográfica do ano começa em São Paulo.

Por Luiz Joaquim | 14.10.2025 (terça-feira)

– Renata de Almeida em foto de Mario Miranda Filho/agenciafoto

A partir de amanhã (15), a capital paulista passa a ser, oficialmente, o melhor lugar do Brasil para se estar se você ama o cinema. É quando inicia a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que chega a sua 49º edição com o habitual fôlego em apresentar ao País o melhor do cinema mundial.

Neste 2025 serão 374 filmes vindos de 80 países que serão exibidos em 52 espaços espalhados pela cidade de São Paulo. O filme que abrirá a Mostra é Sirât, de Oliver Laxe, vencedor do prêmio do júri do Festival de Cannes.

Desfilando um sem-fim de outros títulos atraentes, que se tornarão notícia ao longo do próximo ano, a Mostra também tem uma programação dedicada às crianças; uma seleção de clássicos restaurados; homenagens a cineasta martinicana Euzhan Palcy, ao quadrinista Mauricio de Sousa (com o Prêmio Leon Cakoff), e Jafar Panahi (diretor de Foi apenas um acidente, vencedor da Palma de Ouro de Cannes) que também receberá o Prêmio Humanidade e fará uma conversa com o público.

A propósito da vinda de Panahi a São Paulo, a diretora da Mostra de São Paulo, Renata de Almeida, comenta nesta entrevista ao CinemaEscrito que esta foi uma das grandes conquistas desta edição. Fala também sobre a importância dos clássicos restaurados programados e explica a lógica do Encontro de ideias – que ganha agora a sua 5ª edição -, além de contextualizar a itinerância do Mostra neste 2025, em Manaus (16 a 19 de outubro) e em Belém (23 e 29 de outubro). Confira.

Poderia dizer um grande desafio de conquistar, do ponto de vista da programação, para a edição deste ano?

Acho que, dando tudo certo , trazer o [Jafar] Panahi será uma bela vitória. Ele tem viajado por todo o mundo nessa campanha do Oscar. Aliás, essa corrida pela Oscar virou uma loucura. O Panahi está com a passagem comprada e a decisão de vir a São Paulo nesse momento foi incrível. Porque é uma decisão difícil. São Paulo fica longe e decidir entre estar no Brasil ou nos EUA neste momento, por exemplo, não é uma decisão fácil. Sempre tivemos uma boa relação com Panahi.  Quando foi homenageado com o Prêmio Leon Cakoff, vieram sua esposa e filha, porque ele não podia sair do Irã. A propósito, Panahi foi premiado na Mostra com o seu primeiro filme, O balão branco, na Mostra de 1995. Uma das pessoas no júri era o Walter Salles.

Sei que você tem um apreço pelos clássicos restaurados que a Mostra reúne. Há algum selecionado para esta edição que lhe dá uma satisfação em particular por tê-lo na programação?

Ah, o Queen Kelly, que abriu o Festival de  Veneza, e tem uma história única. Esse filme é cheio de fofocas divertidas (risos). E o Dennis [Doros, responsável pela restauração deste filme do Erich von Stroheim, de 1932], vem para a Mostra. Dennis é quase um “Indiana Jones” desse filme, que tinha o seu roteiro perdido. Na 9ª edição da Mostra, o filme esteve conosco também e recebeu o prêmio da crítica. Estamos felizes em ter o Queen Kelly na programação. Outra alegria é ter o indiano Sholay [de Ramesh Sippy], que completa 50 anos e cuja nova versão traz trechos inéditos. Bom também é ver o Brasil cada vez mais dando visibilidade à sua história, restaurando obras importantes como o filme do Hirszman [Garota de Ipanema, 1967] e o do Tata [Amaral, Um céu de estrelas, 1995], que exibiremos neste ano.

Em 2013 você comentou: “A gente cria coisas novas que dão certo e depois não podemos interromper as novidades.  O  “Encontro de Ideias” me parece já ter conquistado um espaço definitivo na Mostra, certo?

O Encontro… é a soma de atividades que fazíamos na Mostra, mas não com regularidade. Eram ações importantes. Lembrei agora que a Mariana Brennand me contou que o projeto do seu filme Manas ganhou o primeiro fôlego aqui, quando ela conheceu os Irmãos Dardenne e daí saiu sua primeira coprodução, abrindo outras portas. Por uma questão financeira, resolvemos, fazer uma organização dessa diversas ações importantes e concentrá-los no Encontro… Se pensarmos numa lógica de um jornal, o Fórum da Mostra, que é algo já antigo, seria uma espécie de ‘editor’ do Encontro… e o Mercado um ‘colunista’, assim como é o terceiro pilar do evento, o Da palavra à imagem. Nas mesas sempre há discussões atuais, como, neste ano, falaremos do uso da Inteligência Artificial no cinema. A abertura do Encontro… [dia 22/10] será feita pelo Charlie Kaufmann [roteirista de Brilho eterno de uma mente sem lembrança]. A gente entende que o Encontro… veio para ficar e cresce de maneira muito bonita.

Em 2023 a Mostra foi a Manaus. Em 2024, Belém. Em 2025 haverá itinerância em Manaus e Belém. Alguma chance dessa itinerância expandir a outras cidades?

A gente já tem uma itinerância volumosa por uma parceria com o Sesc pelo interior de São Paulo, mas não é fácil expandir tanto. Este ano decidimos realizar um recorte da Mostra tanto em Manaus quanto em Belém pensando na COP30, porque a gente entende que a indústria criativa precisa conhecer aquele Brasil. Agora, seria também maravilhoso levar filmes como, por exemplo, o iraquiano [The president’s cake], para lugares do Brasil onde ele nunca chegaria. Seria a chance de apresentar um tipo de cinematografia que ultrapassa diversas dificuldades a um novo espectador. E este espectador poderia ver esse filme e pensar: “Por que eu não posso fazer um filme assim, aqui na minha comunidade, do meu jeito?”.

Uma pergunta diferente: Se a Mostra fosse uma pessoa, como você a descreveria?

Ah… (risos). Eu vejo uma pessoa generosa, mas de personalidade forte (mais risos) e que é sincera. Só que ela tem um problema: quer abraçar o mundo.

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