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Críticas

Eu, robô

Uma pequena reflexão filosófica em torno do livro arbítrio e de suas implicações… no futuro

Por Felipe Berardo | 09.10.2019 (quarta-feira)

– publicado em 6 de agosto de 2004 na Folha de Pernambuco

Em 1979, o ficcionista Isaac Asimov foi o consultor científico da primeira versão cinematográfica da série Jornada nas Estrelas. De lá até hoje (e mesmo antes), Asimov tem emprestado, através de suas obras, uma série de inspiração a Hollywood. O último rebento sugerido por um romance seu é Eu, Robô (I, Robot, EUA, 2004), filme de Alex Proyas, que estreia hoje nos cinemas.

No gênero ficção científica, o escritor nunca escondeu sua predileção pela tecnologia da robótica e a fascinação pelos limites implicando esses seres autômatos e os humanos. Eu, Robô foi o primeiro de uma série seguida por mais cinco livros envolvendo o assunto. Na versão cinematográfica de Eu, Robô, a história ganhou um jato de adrenalina com o papel protagonista levado pelo astro Will Smith. A estrela aqui brilha, entretanto, sobre o trabalho dos designers que criaram o visual e a parafernália que ilustra a Chicago no ano de 2035, onde a história acontece. A equipe técnica é a mesma de Cidade das sombras e O corvo (trabalhos anteriores de Proyas).

Lá, os carros não usam gasolina, possuem piloto automático, podem se deslocar lateralmente e o estacionamento é vertical. Além da superpopulação humana, robôs modelo NS-4 ocupam as ruas apinhadas de arranha-céus, de viadutos e de túneis gigantescos. Quem acompanha os filmes do gênero não verá aqui tanta inovação na arquitetura e condições de vida urbana no futuro, como as já sugeridas em clássicos como Metropolis (1927), de Fritz Lang, Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), de Ridley Scott, O Homem Bicentenário (1999), de Chris Columbus. Inteligência Artificial (2001) e Minority Report – A Nova Lei (2002) ambos de Spielberg.

Interessante observar que os consagrados autores de ficção científica com obras adaptados para o cinema (Philip K. Dick, Asimov, Ray Bradbury) tomam a essência humana e as perturbações da consciência como recheio de suas tramas. É assim em O homem bicentenário (de Asimov) e Blade Runner (de K. Dick). O primeiro guarda semelhanças com Eu, Robô por apresentar um robô doméstico dotado de inteligência especial que desenvolve sentimentos e, junto a isso, parte em busca de uma identidade própria. Com Blade Runner, o filme de Proyas tem vínculos pela trama policial na obra de Scott, cujo estopim é causada pela rebeldia dos androides da Los Angeles de 2019, inconformados com a pouca longevidade.

Eu, Robô apresenta o NS-5, o novo modelo da maior corporação de robótica no mundo. O autômato é um aparato doméstico da família moderna, com poder de cuidar das crianças, cozinhar, limpar a casa, etc. A previsão é que para cada cinco pessoas, exista um NS-5 servindo aos humanos. A confiança dos humanos pelos robôs é garantida pelas três leis básicas que regem as máquinas: 1) Um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano corra perigo. 2) Um robô deve obedecer as ordens dos humanos, a menos que isso signifique um conflito com a primeira lei. 3) Um robô deve proteger sua própria existência, contato que não entre em conflito com as duas leis anteriores.

A harmonia da total integração dessas máquinas com a sociedade é quebrada quando a maior autoridade científica no assunto, o Dr. Lanning (James Cromwell), é encontrado morto no hall de entrada da U.S. Robotics, antes do lançamento do NS-5. Spooner (Smith), é o detetive que investiga o caso. Nostálgico, com seu All Stars modelo 2004 e sua solitária fobia por tecnologia, o policial começa a desvendar aquilo que imagina ser uma rebelião das máquinas contra a humanidade.

Quando Eu, Robô interrompe os arroubos de violência seguindo a estética de O Exterminador do Futuro (1984) e a Matrix (1993), o diretor Proyas consegue abrir espaço para sugerir uma pequena reflexão filosófica em torno do livro arbítrio e de suas implicações. Dando desconto para a piadinhas, caretas e poses do astro Will Smith, Eu, Robô pode tornar-se uma referência na cabecinha da nova geração de fãs de ficção científica. A classificação etária é de 12 anos.

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