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South Park – O Filme

Coluna Frame

Por Luiz Joaquim | 25.08.2000 (sexta-feira)

Quarteto nojetinho tem os “texticulos” que Mary anseia

Há exatos três anos, o primeiro episódio de South Park foi levado ao ar pela TV norte-americana. Há dois, o desenho animado começou a chamar atenção no Brasil. Para você que não lê jornal, revista, não vê o canal Multishow ou a MTV e veraneia naquele distrito vizinho à Petrolandia (Ei! Como descobriu a Internet?), aqui vai três parágrafos sobre South Park – que chega nesse final de semana (25.agos.2000) aos cinemas brasileiros. Quem já não agüenta mais ler sobre o desenho, pode pular os três parágrafos seguintes.

South Park é o nome fictício de uma gélida cidade onde habitam quatro garotos beirando os oito anos de idade. Eles cospem palavrões a uma velocidade impressionante. O grupo é liderado por Stan, que é ridicularizado pelos amigos pois vive sendo perseguido por Wendy – uma amiguinha por ele apaixonada. Stan fica tão perturbado que sempre vomita na presença da garota. O gordão Eric Cartman (o fat ass – cuzão) é o mais falso, perverso e insolente. Com sua voz medonha – cujo som remete ao emitido por um gato rouco com problemas nasais –, ele acha que o paraíso é ficar diante de uma TV se empanturrando com doces. Graças a esse hábito, o menino tem furiosos ataques flatulentos.

A maior diversão de Cartman é tripudiar de Kenny e Kyle. Este último sofre por ser judeu (e desconta chutando o irmão mais novo, Ike). Kenny é uma figura a parte. É o mais pobre do grupo e tudo o que fala é incompreensível. Uma coisa é certa em South Park, Kenny sempre morre em cada episódio do desenho por uma acidente esdrúxulo, mas volta renascido no episódio seguinte.

Além dessas figurinhas, há outros personagens bem originais criados pela mente positivamente desvirtuada de Trey Parker, 30 anos, Matt Stone, 28 anos, criadores do desenho. São eles o professor da gurizada, Mr. Garrison e seu inseparável boneco Mr. Hat (Sr. Chapéu); e o cozinheiro Chef. Ele é o adulto legal da história. Sempre ajuda as crianças e sempre entoa uma música a la Barry White em cada episódio. Há também Jesus Cristo,que apresenta um programa de auto-ajuda na TV local da cidade.

TURMA DA MÔNICA – O sucesso de South Park é proporcionalmente crescente a capacidade que os quatro moleques têm em cuspir palavrões cabeludos. Mas não é só isso. O criadores Parker e Stone não perdem nenhuma oportunidade de parodiar celebridades, filmes, políticos, situações e costumes dos norte-americanos. A própria mídia (universal), e toda a hipocrisia dela derivada, talvez seja a principal vítima dos esculachos de Kenny, Stan, Kyle e Cartman.

Sob a esfinge de ingênuos e inocentes garotos descobrindo o mundo e, desta forma, isentos de culpa de qualquer falta cometida, Parker e Stone encontraram uma maneira inteligente de falar mal de quem quer que seja e como bem entendem. Em termos comparativo com o Brasil, é como se surgisse um Maurício de Souza junky e bolasse uma nova Turma da Mônica. Desta vez com o Cebolinha detonando gente como o Professor Pascalle – por querer ensinar a falar corretamente – ou o ator Cláudio Heinrich (o Tatuapu da novela Uga Uga) por acreditar que encanta as meninas com seu patético cabelo comprido. Cebolinha seria o nosso Stan, por ser o mais bonitinho.

O alvo da Mônica certamente seria as meninas delicadas, colecionadoras de Barbie, e as adolescentes (que viram Barbies). Garotas heterossexuais iam penar sob seu coelho de pelúcia. Ela seria nossa Kyle, pela discriminação que sofre por ser meia machão e dentuça. Magali rejeitaria aquelas que só ingerem comida dietética e fazem da vida uma eterna vigília contra celulite e pneuzinhos. As modelos brasileiras que ganham milhões no exterior com seus corpos esbeltos e a série Malhação, da Globo, seria um prato cheio para a nova Magali. Ela seria nossa Cartman. O pobre Cascão, a versão Kenny brasileira, não perdoaria gente com mania de limpeza. Dentistas, médicos, enfermeiras seriam humilhados e desmentidos diante dos habituais conselhos contraditórias e viciados da medicina.

Quem pensa em comparar South Park com o Casseta & Planeta (C&P), vai incorrer num crasso equívoco. O programa semanal da Globo funciona mais como um aditivo para estimular a atenção dos telespectadores brasileiros ao universo paralelo gerado pelo deus Roberto Marinho. De três piadas criadas pelo C&P, duas fazem referência satírica (e não irônica) a um outro produto da Globo. Quem o enxerga como o programa mais ‘mal-comportado’ do mundo, deveria desligar a TV e sintonizar os outros canais da vida.

APROPRIAÇÃO – Tentar ser engraçado parodiando o que já é preconceituosamente menosprezado na sociedade (leia-se produtos bregas, homossexuais, negros, etc.) pode ser fácil, mas é pobre, repetitivo, cansativo e desagradável. É chato quando um grupo de ‘rock’ com três integrantes auto-proclamados gays (deixando propositadamente a dúvida no ar), por exemplo, fazem um barulho qualquer para encaixar letras centradas em felações, curras, drogas, perversões e outras preferências pessoais, apenas para serem notados.

Apropriar-se de uma música brega e fazer uma versão pseudo-gay é deplorável. Existe uma graça legítima nas ingênuas canções bregas. Não é preciso um tom pop ou um falso aditivo homossexual para torná-las mais engraçadas. Mas, num país que elege mamonas assassinas como heróis das criancinhas, e faz concursos dominicais de bundas-tchans como alavanca social, a estratégia das falsas bichas roqueiras do Recife acaba surtindo efeito. Parece que só através da boca delas é que o público lembra de certas pérolas bregas. Uma pena.

Há 25 anos, o movimento punk vendia (sim, vendia) propósitos de vida com as mesmas ferramentas da limitada versão pernambucana. A diferença determinante entre os ingleses e o grupo nordestino é que os primeiros carregavam uma crença no que apregoavam. Podiam incomodar, mas eram legítimos. O que se mostra no Recife… bem… Alguém precisar anunciar que presença de palco não significa apresentações teatrais (que sem profissionalismo soam ridículas, e não engraçadas).

Num mundo perfeito, produtos mal-acabados não seriam venerados. Nada feito sem seriedade deveria ser levado a sério (tem lógica, né?). Muito austero? Então leiam o seguinte aviso: confundir a aplicação da palavra ‘seriedade’ com o sentido de ética ou moral é um vacilo. Seriedade é compromisso com o que se acredita. Ponto. Não vale dizer que as pseudo-bichas não querem atenção, que é só uma brincadeira pessoal. Deixa de ser particular quando passa a ser agenciada e vendida para Festivais de Rock. E pior, viram referência de contestação (mesmo quando não havia intenção) quando, na verdade, é mais um meio de ganhar grana… alimentando o, por vezes, maquiado penico cultural recifense.

NOVOS FILMES NO CINEMA – Além de South Park, Maior, Melhor e Sem Cortes estréia no Recife, Mar em Fúria (Perfect Storm, EUA, 1999). Uma versão fictícia para um caso real ocorrido em 1991. A trama parte de Gloucester, um dos principais portos de pesca do Atlântico Norte. O porto abriga o barco de pesca Andrea Gail, do capitão Billy Tyne (George Clooney), um pescador veterano que não anda dando muita sorte em mar aberto. Bobby Shatford (Mark Wahberg) se apresenta para trabalhar na última viagem da temporada no Andrea Gail.

Billy Tyne acredita que pode faturar alto indo além da área freqüentada pelos barcos da Nova Inglaterra – o Cabo Flemish, um lugar remoto conhecido por sua abundância de peixes. Quando já está no mar, ele fica sabendo de uma tempestade que está se formando no litoral. Ai começa a ação do filme.

Entra também em cartaz Meu Adorável Sonhador (Just the Ticket, EUA, 1999). O filme de Richard Wenk traz Andy Garcia como um cambista sedutor. Ele espera fazer seu último e maior negócio da vida com a visita do Papa, e daí partir para conquistar sua amada, Andie MacDowell. Na Sessão de Arte, apenas nesta sexta (25.agos.2000), Truques da Paquera (Trick ,EUA, 1999). Aqui, rola as aventuras de dois jovens gays que buscam um lugar para ficar sozinhos durante uma noite em Manhattan.

O Cinema da Fundação continua mobilizado para reparos no teto da sala. O Cineteatro Apolo dá mais uma chance de ver Hans Staden (Brasil, 1999) – filme corajoso e verdadeiro exibido em única sessão no Recife, durante IV Festival de Cinema, em março último. O Hans Staden no título do filme de Luiz Alberto Pereira foi um alemão que, em 1550, naufragou no litoral de Santa Catarina e permaneceu prisioneiro da tribo Tupinambá (inimiga dos portugueses e dos alemães) por nove meses. O alemão só conseguiu manter-se vivo, longe da prato de comida dos índios antropófagos, quando os convenceu de que era um francês, um aliado. O filme é fiel a história em vários aspectos. O diálogo dos índios, por exemplo, é lengendado, mas não porque eles não falem inglês, como os cara-vermelhas norte-americanos. Em Hans Stadem os índios falam em Tupi mesmo.

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