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Críticas

Jogos Mortais (2004)

Reality show medonho

Por Luiz Joaquim | 02.02.2005 (quarta-feira)

Há uma maldade sofrida pelos concorrentes e uma espécie de sadismo saboreado pelos telespectadores que estão embutidos no formato dos realities show, como o “Big Brother”, exibido pela Rede Globo. Esses dois elementos do televisivo estão escancarados no filme de James Wan, “Jogos Mortais” (Saw, EUA, 2004), que estréia amanhã. Espécie de -reality show medonho-, os BBB no filme são apenas dois homens. A audiência é o departamento de polícia, e o “Pedro Bial”, que dá as regras, é um psicopata (claro) ultraperturbado.

Na TV, sempre que um BBB vai ser eliminado o programa tortura os concorrentes mostrando a família enquanto Bial fica de olho na taquicardia da vítima. No filme, numa das cenas mais perturbadoras (e das mais amenas em termos de violência gráfica), o psicopata mantém uma mãe e filha pequena uma ao lado da outra, amarradas e amordaçadas. Com um estetoscópio, ele escuta os batimentos cardíacos da assustada garotinha. Depois, tira um revolver gigante e, enquanto aponta para a cabeça da mãe, volta a escutar o coração disparado da menina.

Mãe e filha estão, de certa forma, fora deste jogo demente. Elas são apenas esposa e filha do médico (que não é o Rogério do BBB5), que está preso com outro homem, Adam (Leigh Whannel, também roteirista do filme), num banheiro imundo. É assim que inicia “Jogos Mortais”. Como o público, os dois personagens, quando acordam de um sono profundo, não têm nenhuma informação de como nem porque foram parar ali. Acorrentados pela perna a uma tubulação de ferro, cada um num canto do banheiro, eles tomam o primeiro susto quando vêem um homem com a cabeça aberta deitado sobre numa poça de sangue no meio do banheiro. Numa mão do defunto, um revolver, noutra, um gravador.

Retomado o fôlego, o médico (Cary Elwes) descobre no bolso da calça uma fita cassete e uma bala de revolver. Adam também encontra um tape. Ambas gravações explicam, por uma voz medonha, que os dois estão ali porque não dão valor a vida e agora terão de lutar por ela. Para ganhar o direito de viver, o médico deve matar Adam até às 6h. Se não conseguir, além de morrer terá esposa e filha assassinadas. Já Adam só precisa se defender.

No decorrer do filme, via flashback, somos levados a conhecer a vida pregressa dos dois acorrentados e o método vil pelos quais as outras vítimas do psicopata foram mortas. O mais interessante de “Jogos Mortais” está no processo de convivência forçada dos dois sequestrados. Como na TV, eles criam um pacto de amizade no início, para depois brigarem entre si. Por outro lado, o requinte de crueldade e tortura que o roteiro de Whannel e a direção de Wan oferecem são como um exercício de tolerância à violência gráfica e psicológica para qualquer pessoal.

Afora a interpretação frouxa de Elwes nos últimos instantes do filme, somada a uma maquiagem questionável, pode-se dizer que “Jogos Mortais” é competente, inclusive quando reverte as certezas que o público tem sobre o assassino. Competente, mas não recomendável para quem procura doces fantasias no cinema. Para quem acredita (erradamente) que o papel de uma crítica de cinema é dizer se um filme é bom ou ruim, é importante discernir que a obra em questão é um bom filme, mas não é, em momento algum, agradável de se ver. Para os sádicos assumidos, é possível fazer uma sessão tripla abordando Snuff Movies (filmes mostrando morte ao vivo). Basta alugar “Aconteceu Perto da Sua Casa” (Cest arrivé près de chez vous, 1992), do belga Rémy Belvaux, e “Morte ao Vivo” (Tesis, 1996) de Alejandro Amenábar (de “Os Outros”) numa boa locadora.

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