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Críticas

Carros (2006)

Ignição para a amizade

Por Luiz Joaquim | 30.06.2006 (sexta-feira)

Mais uma vez, um longa-metragem de animação como
“Carros” (Cars, EUA, 2006) pode sair prejudicado se
for avaliado numa primeira olhadela. Isso porque nessa
primeira olhadela o que se verá será uma simples
fábula sobre um personagem que vai amadurecer no
decorrer da história, aprendendo a ser menos egoísta e
a respeitar os mais “lentos”, os diferentes. Para
aqueles que esperam sempre encontrar um novo “Shrek”
quando vão aos multiplex para ver uma animação, a
inocência de “Carros” pode soar como um defeito. Mas
não o é.

O que pode parece uma limitação do enredo, é no final
uma postura corajosa e competente da Pixar. “Carros” é
declaradamente um filme infantil, e nada melhor para
crianças em formação (todas elas estão) que uma
história humorada sobre o amadurecimento pelo
sacrifício do que lhes é mais valioso, ou seja, o
sacrifício de saciar imediatamente um desejo qualquer.

A ‘criança’ da animação é Relâmpago McQueen (voz de
Marcelo Garcia/Owen Wilson). O nome do personagem é
uma homenagem declarada do diretor e roteirista John
Lasseter (de “Toy Story”) ao ator Steve McQueen, para
emprestar à imagem de Relâmpago a idéia de ação e
velocidade. Ele é um corredor talentoso, mas
inexperiente que, num fato inédito, chega empatado na
linha de chegada da Copa Pistão junto com o veterano O
Rei e o invejoso Chico Hicks (Michael Keaton/ Samir
Murad).

Para decidir, uma nova disputa é marcada para
acontecer na Califórnia. Na viagem até lá, Relâmpago,
encantado com a possibilidade de ser uma celebridade,
se perde na estrada e vai parar na semi-deserta
Radiador City, um município relegada pelo progresso,
cujo esquecimento pelos turistas veio junto com uma
nova estrada construída para economizar dez minutos do
trajeto.

Tendo de fazer trabalho sociais para consertar o
acidente que causou na chegada a Radiator City,
Relâmpago é obrigado a viver no marasmo da vida sem
pressa e a conviver com figuras de bem com a vida como
o reboque bobo-legal chamado Mate, como ‘tomate’ sem o
‘tó’ como ele mesmo explica. Há também a bela Posche
Sally (Bonnie Hunt) por quem Relâmpago se apaixona e,
um outro carro/personagem vital aqui é Doc (Daniel
Filho/Paul Newman, que aos 81 ainda pilota carros de
corrida).

É Doc, um automóvel dos anos 1950 e lendário
tri-campeão do Copa Pistão, que vai ensinar ao garoto
que vencer não é o mais importante. As lições de Doc
rendem um belo final para o filme, durante a tão
desejada vitória de Relâmpago na corrida.

É de se esperar um carga pesada de piadas vinculando o
universo dos automotivos com o dos humanos. E nesse
ponto “Carros” não decepciona. Seja com as
moscas-fusca, seja com os tratores que, de tão lentos
são comparados a vacas, seja com a Kombi riponga, o
filme dá gás suficiente para abrir um sorriso nos
adultos. Se isso não acontecer, o impressionante
realismo das paisagens digitais da produção fará os
adultos abrirem a boca para se perguntarem o que é “de
mentira” e o que é animação (É tudo animação).

Mas, se por um lado “Carros” pode servir aos moleques
como uma lição de altruísmo, o filme também nos
aparece como um reflexo da forte obsessão na cultura
norte-americana: os automóveis, e o consumo, numa
segunda instância. Apesar de divertido, é um pouco
assustador ver um mundo habitado apenas por carros.
Não é tão improvável que crianças mais sensíveis
possam estranhar a brincadeira.

“Carros” é antecedido pelo curta “A banda de um Homem
Só”, esta sim, uma animação que deve deixar os adultos
com felizes. Sarcástico e sem nenhum diálogo, mostra a
disputa entre dois artistas mambembes para ganhar a
única moeda de uma garotinha. A expressão da
molequinha já vale a entrada.

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