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Críticas

O Caçador de Pipas

Amizade infantil afegã pelos olhos de Hollywood

Por Luiz Joaquim | 18.01.2007 (quinta-feira)

Boas intenções rodeiam a adaptação para o cinema do livro “O Caçador de Pipas” (The Kite Runner, EUA, 2007), história de culpa e redenção do escritor afegão Khaled Hosseini que vendeu milhões de cópias ao redor do mundo. O diretor Marc Forster optou por ser relativamente fiel ao livro, transpondo para a tela tanto suas qualidades quanto seus defeitos, mas sem perder de vista que este é um filme “para toda a família” – ou seja, certas passagens desagradáveis ou pouco estéticas do best-seller foram simplesmente cortadas. Se não é uma decepção completa, também não chega a empolgar este filme apenas correto, onde visivelmente falta algo mais.

O filme passa em revista 25 anos da história do Afeganistão centrado na relação entre Amir (Zekeria Ebrahini), um garoto rico, e Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada, excelente), filho de seu empregado e, ao mesmo tempo, seu melhor amigo. Essa condição essencialmente contraditória terá uma grave conseqüência, assim como acontece em outra adaptação em cartaz, “Desejo e Reparação”, onde também há um personagem que, já adulto, tenta consertar um erro que cometeu quando criança. Mas, ao contrário da película inglesa, a culpa fundamental do personagem está em uma omissão, que destrói a ligação entre Hassan e seus patrões. Enquanto este último sofre as conseqüências das ocupações soviética e talibã no Afeganistão, Amir, imigrante nos Estados Unidos, se depara com a necessidade de voltar a seu país natal e “ser bom de novo”.

O filme emula o naturalismo dos filmes orientais (principalmente iranianos) de forma relativamente bem-sucedida, mas tem falhas graves, como a caracterização do personagem Amir. Enquanto no livro o protagonista é complexo, com hesitações que mostram seus dramas de consciência diante de ações cruciais, no filme, sua figura infantil é extremamente simplificada, chegando a ser antipática, de difícil identificação com o espectador. Isso tornou o Amir já adulto (Khalid Abdalla, o terrorista de “Vôo 93”) um personagem frio, opaco, com um arrependimento fácil de ver, mas duro de assimilar. A música também não ajuda, sublinhando de forma manipuladora e até irritante a emoção da narrativa, que, em certas passagens, toma um ritmo apressado, querendo mostrar o máximo possível de situações em detrimento da profundidade das emoções. Se “há um jeito de ser bom de novo”, frase-chave do livro que tantos adotaram, isso infelizmente não aconteceu com o filme.

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