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Críticas

Hollywoodland: Os Bastidores da Fama

Herói deprimido

Por Luiz Joaquim | 22.06.2007 (sexta-feira)

A imagem de um velho, muito velho, de sunga, praticando alterofilismo num condomínio decadente na Hollywood dos anos 1950 entrecorta a narrativa de “Hollywoodland: Bastidores da Fama” (EUA, 2006) que estréia hoje no Cine Rosa e Silva (Recife). O contraste de um homem idoso, com rugas, esforçando-se para manter uma imagem jovial remete à angústia da busca pela beleza e pelo sucesso tão desejado entre aqueles que povoam aquela fogueira das vaidades na Califórnia. Entre estes habitantes estava George Reeves, ator que encarnou o primeiro Super-Homem nas telas da TV, entre 1951 e 1958, até cometer o suicídio e virar alvo de investigação (fictícia) neste filme de Allen Couter.

No mesmo condomínio do velhinho, vive o falido detetive Louis Simo (Adrien Brody). Em busca de um trabalho decente, que vá além de investigar adultérios, Simo descobre que a mãe de Reeves acredita que, ao invés de suicídio, seu filho foi acometido por um homicídio. É então que sob a pressão do detetive, ela decide abrir um caso para descobrir o que houve por trás da morte de Reeves (aqui vivido por Ben Aflleck, melhor ator no último Festival de Veneza).

O que à princípio seria um serviço que resgataria o status de Simo, torna-se uma obsessão se consideramos a crise familiar que passa com seu filho pequeno. O moleque tem sua primeira grande decepção na vida ao saber que o ator que vivia seu herói preferido deu um tiro na cabeça com uma arma nazista.

Apesar da interessante ligação no roteiro entre a vida pessoal e profissional de Simo, a amarração parece frouxa, o que não chega a atravancar a narrativa fluente imposta por Couter, amparada por uma envolvente trilha sonora, de autoria do brasileiro Marcelo Zarvos (da extinta banda “Tokio!”) e uma direção de arte correta.

“Hollywoodland” também nos brinda com um elenco que não titubeia na hora de dar vida aos diálogos afiados deste roteiro, tão comuns nos títulos realizados durante a época de ouro de Hollywood. Além de Brody, convincente, e Affleck, dedicado, temos Diane Lane como Toni, a esposa de Eddie Mannix (o ótimo Bob Hoskins), executivo todo poderoso da Metro Goldwin Mayer.

Sendo muito influente e mais velha que Reeves, o filme de Couter, de forma interessante, não ratifica o que sugere, ou seja, uma possível postura aproveitadora do jovem ator para conseguir bons papeis na hollywoodland. Ainda interessante são os bastidores onde vemos Reeves com seu perfil deliberadamente boêmio e beberrão em contraponto aos ideais de justiça, honra e honestidade que representam o Homem de Aço.

Mais na frente, vemos também seu desolamento ao perceber que aquilo que acreditava ser seu passaporte para a fama, viver um herói na TV, tornaria sua jaula. O que fica bem claro na premiere de “A Um Passo da Eternidade” quando, ao surgir em uma ponta na tela, a platéia inicia uma série de galhofas em torno de seu célebre personagem televisivo.

Quando sabemos que o “Hollywoodland” trata da busca pela verdade na morte de uma ascendente estrela do cinema norte-americano, a primeira referência audiovisual que chega é a de “Dália Negra” (2006), quando Brian De Palma se utiliza do caso real de Elizabeth Short, uma aspirante à atriz nos anos 1940, cujo razão do assassinato nunca foi desvendado. Mesmo sem o virtuosismo de De Palma, Couter faz um filme envolvente, no qual desejos, fantasias e frustrações são os condimentos em tempero.

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