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Críticas

Ratatouille

Diretor de Os Incríveis aposta numa nova história de determinação e redenção

Por Luiz Joaquim | 06.07.2007 (sexta-feira)

O todo poderoso Brad Bird, diretor da animação de sucesso automático “Os Incríveis” (2004), produzido pela revolucionária Pixar, apresenta agora “Ratatouille” (EUA, 2007). Desenhando o trajeto de Remy, um rato (literalmente) que sonha virar um chef da cozinha parisiense, Bird nos dá um exemplo de redenção e humildade através de seu personagem Anton Ego (voz de Peter O’Toole no original). Se contivesse apenas isso de merito, “Ratatouille” já valeria o ingresso. Mas há mais.

Para começar por Ego (o nome é ótimo para um crítico, seja lá de que categoria), vale dizer que ele é o mais duro, ácido e temido resenhista gastronômico de Paris, onde, diz o filme, se faz a melhor comida do mundo. É Ego quem dá ou tira as estrelas que emprestam crédito, aos olhos do mundo, para os restaurantes franceses.

Após duas horas de reviravoltas na trama que leva o ratinho Remy ao requintado Gusteau’s, Ego se depara com uma obra de arte em forma de comida e aí passa a entender o que dizia o velho mestre daquele restaurante ao vaticinar que ‘qualquer um poderia ser um chef’. A lição por trás disso é que ‘um grande artista pode surgir de qualquer lugar’. E, uma vez diante de tanta beleza, o pomposo Ego assume sua limitação dizendo: ‘é provável que a maior das bobagens realizada possa vir a ser mais valiosa do que as palavras que nos críticos escrevemos aqui’.

A expressão de Ego diz de forma elegante que o compromisso da beleza é com a autenticidade, seja ela de origem abastada ou humilde, e “Ratatouille”, o filme, é uma bela fábula sobre esse percurso de descobrimento do ratinho Remy. O caminho para o roedor alcançar seu sonho é longo.

Primeiro ele precisa vencer o preconceito de ser diferente entre sua família e comunidade. Com um faro delicado para o alimento, Remy sabe que comida não é apenas “combustível” como diz seu pai, mas algo que abre portas e sensações.

E no filme, com muita simplicidade e eficiência, Bird criou imagens que ‘traduzem’ a sensação do gosto de um queijo ou de um morango, ou dos dois elementos juntos. É uma estratégia cinematográfica para tentar passar o prazer sentido pelo seu ratinho a nós que estamos numa platéia insípida.

Brad Bird certa vez comentou em entrevista que não importa a tonelada de efeitos especiais que um filme possa oferecer pois o que vai permanecer na cabeça do espectador são as nuanças da história. Nada mais correto.

Entre tantos recadinhos de teor humano que passa ao longo de seu longa-metragem, está aquele no qual Remy chega ao apartamento de Linguini – o garoto da limpeza do Gusteau’s que se alia ao rato para manter seu emprego. O garoto vive num cubículo e se desculpa ao ratinho pela singeleza do lugar. Mas Bird, no mesmo plano, mostra que o moleque é na realiade um felizardo pois a vista que tem ali de Paris não tem valor, ou ainda, mostra que não é preciso dinheiro para reconhcer o belo quando se depara com ele, requer apenas sensibilidade.

O próprio prato que Remy escolhe para impressionar Anton Ego, o ratatouille (uma espécie de comida camponesa na França) é outra sugestão para destacar as possibilidades que estão nas coisas simples da vida.

É como se Bird dissesse às crianças (e aos adultos) para prestar mais atenção nas possibilidades do belo ao seu redor. Talvez as crianças nem percebam tanto o recado, pois “Ratatouille”, assim como “Os Incríveis” tem o peso da longa duração contra si (110 minutos). O protagonista também não deve suscitar nenhuma paixonite infantil. Nenhum criança deve querer levar Remy para casa como gostaria de levar a priguiça Sid de “A Era do Gelo”. Ratatouille também tem um discurso um tanto sofisticado para os com menos de 1,2 metro. Mas não nada que os pais não possam desdobrar quando forem por os moleques para dormir.

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