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Críticas

Os Matadores

Elipse que funde um só tempo

Por Luiz Joaquim | 18.11.2007 (domingo)

Em 1997 o cinema nacional ainda encontrava-se em processo de soerguimento após o duro golpe dado pelo governo Collor no início daquela década. Enquanto Carla Camurati com seu “Carlota Joaquina – Princeza do Brazil” havia reconquistado o público três anos antes, Fábio Barreto e “O Qu4trilho”, ao concorrer ao Oscar de filme estrangeiro em 1996, mostrava que as novas produções brasileiras já tinham fôlego para impressionar o mercado estrangeiro.

Foi também em 1997 que surgiu no horizonte do nosso circuito comercial cinematográfico Beto Brant com seu primeiro longa-metragem, “Os Matadores”. O jovem Brant, então com 34 anos, em pouco tempo viria a se tornar um dos mais produtivo, corajoso e eficaz entre os realizadores de sua geração.

O cineasta já havia dado sinal de vida inteligente no campo da produção audiovisual, fosse na confecção de videoclipes, fosse nos anteriores curtas-metragem: “Aurora” (1987), “Dov’e Meneghetti?” (1988) e particularmente em “Jó” (1993). Com “Os Matadores”, Brant dava continuidade e elaborava melhor seu desejo de registrar a realidade com uma narrativa seca, direta, sem firulas; estando o homem e seus conflito com o próximo e com o ambiente como principal problemática.

A secura e objetividade narrativa não escondia, porém, uma esmero dramatúrgico e um roteiro laborioso, com um requinte pouco visto pelo cinema que se fazia no Brasil em 1997. E o mais importante, com uma identidade da classe média brasileira bem marcada. Coisa mais rara ainda quando o gênero era o policial nacional, que prescindia de glamour mas necessitava de um perfil audiovisual enxuto. Perfil que Brant conseguiu imprimir muito bem em “Os Matadores”, assim como em seus projetos posteriores, tais como “Ação entre Amigos” (1998) e “O Invasor” (2001) cuja trama também envolvia violência física e psicológica.

No caso de “Os Matadores” os homens em conflito são os assassinos de aluguel Toninho (Murilo Benício) e Alfredão (Wolney de Assis) que esperam à noite num bar na divisa entre o Brasil e o Paraguai uma vítima que nunca chega. Enquanto o condenado não aparece, o veterano Alfredão fala ao novato e impaciente Toninho sobre o pistoleiro Múcio (Chico Diaz, estupendo) seu antigo parceiro, considerado uma lenda na região.

Em elipses que unem o presente e o passado, o roteiro escrito pelo próprio Brant em parceria com Fernando Bonassi, Victor Navas e Marçal Aquino (cujo conto “Matadores” deu origem ao filme) abre espaço para acompanharmos não só as perturbações internas de seu personagens como também para observamos o ambiente atuando sobre esses personagens. Este último aspecto fica bem marcado com as seqüências do rodêio e do comércio no Paraguai, que ‘invadem’ a enredo como um olho documental, oxigenando a veracidade da história ali contada.

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