X

0 Comentários

Críticas

O amor no tempo do cólera

600 mulheres e um casamento

Por Luiz Joaquim | 25.12.2007 (terça-feira)

Nunca foi fácil transpor um livro para o cinema. Pode até parecer fácil se ao levarmos o mote para a tela, encaixarmos atores aclamados no elenco, produzirmos um belo cenário com um figurino caprichado para que o resto caminhe sozinho. Mas a equação nunca dá certo porque o cinema, ou o resultado dele, não funciona por meio de uma equação como esta. “O Amor em Tempos de Cólera” (Love at The Time of Cholera, Ing., 2007) filme de Mike Newell, que estréia hoje, é um bom exemplo para reforçar nossa observação.

Em se tratando da adaptação de uma obra densa como a homônima de Gabriel Garcia Marquez, da qual o filme de Newell foi adaptado, fica então mais grave a análise. Mesmo transcorrendo por mais de duas horas, o filme quase não atinge os momentos deste denso e sugestivo trabalho do escritor colombiano. Ao contrário do profundo mergulho numa estória de amor, política e social que atravessa décadas do século 19 e adrenta no século 20, com todas as pompas culturais que a virada do milênio pedia, a versão fílmica de Newell apenas resvala apenas em alguns pontos chaves daquele período.

Newell é conhecido no Brasil pelo filme “Quatro Casamentos e um funeral” e alguém, ao saber que o meticuloso realizador britânico iria adaptar o romance latino-americano, soltou a farpa: “inglês filmando realismo-fantástico latino… não vai dar certo”. A análise rasteira pode ser preconceituosa mas define bem um pouco do que se vê aqui.

Há uma lista de problemas que dificultam a imersão do espectador naquilo que poderia uma história de vida e devoção ao amor único, como aquele que desenvolve Florentino Ariza (na adolescência, Unax Ugalde, na vida adulta e idosa, Javier Bardem) para Fermina (a italiana Giovanna Mezzogiorno). O mais superficial dos problemas mas que distrai de forma inegável é a maneira como os personagens agem em diferentes posturas sob uma pesada maquiagem de diferentes níveis de convencimento. Mas complicado ainda é a ausência no filme da sutileza entre a comédia e a tragédia da qual Marquez, em seu livro, converteu as memórias de Florentino, tornando sua existência num vida de casos amorosos sem sentido.

A, talvez, necessidade de tornar o filme universal com os diálogos ditos em inglês, também soa estranho uma vez que, com um elenco globalizado temos aqui um idioma esquisito, onde todos falam um inglês com um sotaque não muito bem definido. Além do espanhol Bardem, da italiana Mezzogiorno, temos nossa Fernanda Montenegro (provavelmente escalada para ser a mãe de Bardem não só pelo talento, mas também por uma característica ocular), temos os colombianos John Leguizamo e Catalina Sandino Moreno, e os norte-americanos Bejamin Bratt e Liv Schreiber.

Mais Recentes

Publicidade