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Críticas

Um Beijo Roubado

Kar-Wai adestrado para as massas

Por Luiz Joaquim | 11.07.2008 (sexta-feira)

O cineasta chinês Wong Kar-Wai já consolidou uma carreira firme de sucesso e angariou diversos fãs pelo mundo inteiro. São fãs que cultuam Kar-Wai pela seu estilo impressionista, presente em imagens abusando de closes, da cãmera lenta e transbordando vermelho, sempre, para moldar úma atmosfera lúdica na qual um romance entre um casal (seja ele hetero ou homossexual) possa decolar, não antes sem sofrimento e privações. Entre outros motivos, a carreira de Kar-Wai segue bem porque ele continua dando a esse público exatamente o que eles pedem. E isso não é necessariamente bom. É assim em “Um Beijo Roubado” (My Bluebarry Nights, EUA, 2008) que chega finalmente aos multiplex do Recife como estréia.

Com elenco estelar, a começar por Jude Law, Natalie Portman e Rachel Weisz, Kar-Wai neste filme “yankee” parece apenar domar estas estrelas e o cenário dos EUA, para dentro do metafísico universo Karwariano, que flutua dentro de sua cabeça e depois ganha concretude nas telas do mundo. Não há como exigir que Kar-Wai faça um filme diferente de Kar-Wai mas, em “Um Beijo Roubado” – que traz inegáveis beleza plástica para cenas de carinho entre um casal – o que se vê parece ser apenas uma adequação pela qual atores e locação servem apenas a um propósito raquítico: o roteiro.

Law, com ar de cansado e maneirismo carregado, não seduz como o dono de um lanchonete em Nova Iorque. Mesmo sendo o cara solitário, largado pela namorada do leste europeu, e que coleciona chaves como se fossem corações partidos seu Jeremy não funciona. A falta de estofo também é o problema de seu par romântico Elizabeth, vivido pela bela surpresa chamada Norah Jones. Entretanto, o fator parece não interferir tanto na performance da cantora de Jazz que, aos 29 anos, debuta aqui como atriz de cinema. Talvez exatamente menos por uma despretensão e mais por naturalidade, ela surja mais agradável que a todos seus companheiros, como no caso do ‘overacting’ (exageros) deprimentes de Weiz e Portman.

“Um Beijo Roubado” também passa a imprensão de um fascínio de Kar-Wai pela possibilidade de explorar a América enquanto cultura e cenário geográfico, mas o resultado é exatamente o contrário. O que fica é a idéia de uma América de “estúdio”, como se tudo fosse falso, inclusive o drama de seus personagens. Se não falsos, capengas.

De resto fica a fofoca sobre a tal seqüência do beijo entre Jones e Law que, segundo alardeado pela mídia, foi refeita mais de mil vezes pelo casal para satisfazer o desejo do chinês em alcançar a perfeição. Será que conseguiu?

PS – em breve teremos nas telas brasileiras outro filme de um não-americano, o austríaco Michael Haneke, adequado ao gosto médio do norte-americano, sem precisar fazê-lo ler legendas – trata-se de “Funny Gammes 2008”.

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