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Críticas

Última Parada: 174

A linha da morte

Por Luiz Joaquim | 22.10.2008 (quarta-feira)

Chega finalmente (na sexta, 24) o dia em que o público poderá ver o já tão comentando “Última Parada 174” (Brasil, 2008), filme em que Bruno Barreto dramatiza a história de Sandro do Nascimento, garoto mais conhecido pelo seqüestro do ônibus da linha 174, em 2000 no Rio de Janeiro. Sandro também foi um dos sobreviventes, anos antes, do episódio chamado ‘Chacina da Candelária’, quando ele testemunhara a morte de oito meninos assassinados pela polícia na calçada da principal igreja carioca.

Saber que um mesmo personagem participou destes dois eventos tão emblemáticos da violência no Brasil só podia estimular a cabeça de um cineasta para desenvolvê-lo em um filme. Estimulou a cabeça de dois. O primeiro, José Padilha (o mesmo que depois faria “Tropa de Elite”), fez o comovente documentário “Ônibus 174” (2002), tentando entender quais foram os passos que Sandro havia tomado até chegar onde chegou.

O segundo foi Barreto que, como já disse em entrevista, ficou impactado com a história toda e, sobretudo, quanto à mulher que assumiu Sandro como se fosse um filho desaparecido. No roteiro de Bráulio Mantovani, foi criado o personagem Alessandro (Marcello Melo Jr), como o filho legítimo de Marisa (Cris Vianna), a senhora que quis adotar Sandro (Michel Gomes).

Mantovani e Barreto capricharam na articulação de situações e coincidências entres os dois personagens, a começar pelo nome deles, até se encontrarem por duas vezes e se tornarem parceiros no crime, de modo que só torna a história ainda mais envolvente pelo seu teor de acasos definidores da tragédia que foi a vida do menino Sandro.

Por trás da dramatização, estão lá um sem-número de mazelas sociais, bem apresentadas por todo um aparato técnico (direção de arte, figurino, fotografia, etc), além de performances muito bem defendidas por todo um elenco de não-profissionais. Tudo isso faz de “Última Parada” um filme sério, que angaria simpatia pela urgência do assunto, sem alardear tanto o próprio assunto.

Como Barreto também já falou, “Última Parada”, apesar do cenário social definindo o protagonista, está interessado mesmo é no conflito particular do menino. E se em alguns momentos o filme possa soar esquemático, em prol da aceleração da trama, não é nada que determine alguma deficiência. Há sim uma tragédia social, que o filme retrata com comoção e estupefamento, assim como aquele que sentimos, há oito, acompanhando o seqüestro ao vivo pelos telejornais.

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