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Críticas

Orquestra dos Meninos

A música que revoluciona

Por Luiz Joaquim | 05.11.2008 (quarta-feira)

É lamentável que a lembrança mais marcante que ficou a respeito do personagem chamado Mozart Vieira, o maestro que nos anos 1980/90 criou uma orquestra de crianças pobres no agreste do Ipojuca, em São Caetano (a 148 quilômetros do Recife), tenha sido uma acusação indevida de pedofilia em 1995, quando seu trabalho de duas décadas como musicista já seria digna de um filme. Mas o filme aconteceu, e veio pelas mãos do cineasta Paulo Thiago, que coloca hoje nos multiplex seu “Orquestra dos Meninos” (Brasil, 2008).

Com o filme, que também passa a limpo a história que outrora denegriu a imagem de Mozart (na tela vivido por Murilo Rosa), o público vai conhecer, primeiro, a razão pela qual o maestro foi exitoso em seu sonho – visto como delírio por muitos em sua terra natal; e depois saberá porque o êxito de sua orquestra (reconhecida inclusive na Europa) incomodou tanto seus conterrâneos.

Apesar de profunda pesquisa antes de escrever o roteiro, feita por Paulo Thiago e sua equipe sobre o trajeto de vida de Mozart, uma opção na narrativa (com algumas situações ficcionadas) foi a de não desdobrar tantos detalhes – ou todos os detalhes – em cima da fatídica injúria de 1995. “Orquestrar dos Meninos” não é um filme sobre este episódio, estão lá apenas as informações, situações e personagens essenciais para compreendê-la.

“Orquestra…” é mais um filme sobre o trajeto de vida sofrida (e vencedora) de Mozart, cujo tal episódio foi apenas mais uma barreira. Talvez a mais dura de transpô-la, segundo comentou o próprio maestro em coletiva com a imprensa no último dia 8, junto a Thiago, Rosa e à produtora Gláucia Camargos.

Em função desse opção, temos em “Orquestra dos Meninos” um trabalho muito mais interessado na dinâmica dos acontecimentos. E aí, o que se vê na tela é um desenvolvimento do esforço mais físico que psicológico dos atores. Atores, à propósito, que não tem tanta visibilidade curricular no audiovisual – com exceção dos televisivos Rosa e Priscila Fantin (no papel de aluna e futura esposa de Mozart). As crianças que compõem a orquestra também foram escolhidas a dedo, e estão adequadas ao todo da proposta de Thiago.

Como disse Rosa em entrevista, “Orquestra…” é um filme simples e, segundo Thiago, vai na contramão de um socialmente fatalista cinema brasileiro que é praticado hoje. Nesse sentido, ao entrar no cinema, o espectador pode esperar uma história objetiva, linear e sem firulas sobre perseverança e determinação a partir da crença de que a música (ou a arte) pode ser revolucionária.

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