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Reportagens

O que aconteceu em 2008?

Retrospectiva 2008

Por Luiz Joaquim | 06.12.2008 (sábado)

Que imagem representaria o ano de 2008 pelo cinema? Pergunta difícil, mesmo porque a indústria não se comportou como esperado. No quesito mercado, aqui no Brasil, 2008 inteiro teve performance de bilheteria inferior em relação a 2007. Só no mês de outubro é que aconteceu uma alta discreta de 0,1% de público em relação ao mesmo período do ano passado.

Se tomarmos como referência os arrasa-quarteirões que costumam surgir na ponta da pirâmide financeira do mercado cinematográfico, tivemos este ano apenas dois títulos – “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (julho) e “Kung-Fu Panda” (julho) – ultrapassando o número de três milhões de espectadores, contra cinco filmes em 2007.

O diferencial em 2008 é que títulos dito “de público médio” tiveram uma alta em relação ao ano anterior. Isso significa que obras como “Super-Herois – A Liga da Justiça”, “As Duas Faces da Lei”, “Os Mosconautas”, “Noites de Tormenta” e “High School Music 3” tiveram uma performance melhor que a esperada, dando um maior equilíbrio às distribuidoras sobre os resultados financeiros deste ano.

Outros medalhões marcantes, mas não necessariamente sucessos de bilheteria, chamaram atenção no primeiro semestre, muito deles vinculados à premiação do Oscar, com ótima safra em 2008. Sendo assim, fevereiro foi um mês concorrido com os novos filmes de Paul Thomas Anderson (“Sangue Negro”), de Tim Burton (“Sweeney Todd”), de Paul Higgs (“No Vale das Sombras”), e dos Irmãos Coen (“Onde os Fracos Não Tem Vez”) – e que agora em novembro nos deram o humorado “Queima Depois de Ler”.

Outro mestre do cinema que também nos deu dois filmes novos em menos de 12 meses foi Wood Allen. Mês passado estreou o ótimo “Vicky Cristine Barcelona” (que entrou para a história como a melhor bilheteria de estréia de Allen no Brasil em todos os tempo); e junho tivemos “O Sonho de Cassandra”, sobre como a ganância pode corroer uma família. A história, muito semelhante, marcou outro filme de um também veterano, Sidney Lumet, com seu espetacular “Antes que O Diabo Saiba que Você Está Morto”.

Por outro lado – com a exceção da nova edição do Homem-Morcego, citado acima, e do ótimo “Homem de Ferro” (maio) de Jean Favreau – obras anunciadas como grandes lançamentos para o ano tornaram-se grandes decepções, entre elas: “O Caçador de Pipas” (janeiro), “10.000 a.C.” (março), e as adaptações “Speed Racer” (maio) dos irmãos ‘Matrix’ Wachowski. O esperado retorno do sessentão Indy, em “Indiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal” (maio) não chegou a ser uma decepção, mas também não empolgou muita gente.

Na animação, além do citado panda vitorioso com a voz de Jack Black, o elefante Horton e os microscópicos “Quem!” (março) agradaram. Mas foi um robozinho ultrapassado, de olhos tristes, que deixou todo mundo com o coração mole em seu drama, correndo atrás de uma amada ultramoderna. “Wall-E” (junho) chegou silencioso e resgatou o lúdico para as crianças de todas as idades, com muita referência ao clássico “E. T. – O Extraterrestre” (1982).

Entre aqueles que roubaram a cena nos multiplex estão a animação “Persépoles”, o ‘fim-do-mundo’ “Cloverfield”, o suspense espanhol “[REC]” e a comédia “Trovão Tropical”. Pelo outro lado, também vimos catástrofes como “O Olho do Mal”, (março), “Across the Universe” (março), “Jogos de Amor em Las Vegas” (junho), “O Agente 86” (julho) e talvez o pior filme do ano, “Zohan” (agosto), com Adam Sandler.

BRASIL
Não é bem um filme brasileiro, mas teve cenas realizadas em São Paulo, Alice Braga no elenco, e seu capitão era Fernando Meirelles. Havia grande ansiedade para ver “Ensaio Sobre a Cegueira” (setembro), que teve sua estréia em Cannes. Lá, e fora de lá, gerou controvérsias, mas agradou a quem Meirelles queria agradar, o próprio Jose Saramago, autor do livro que deu origem ao filme.

Também em Cannes uma brasileira (Sandra Corveloni) levou a Palma de Ouro como melhor atriz 22 anos depois de Fernanda Torres em “Eu Sei que Vou te Amar”, de Jabor. O filme “Linha de Passe” marcou também o reencontro de Walter Salles com Daniela Thomas na direção conjunta.

2008, entretanto, não gerou um arrasa-quarteirão como o fenômeno “Tropa de Elite”, de José Padilha, em 2007. Curiosamente, o mais próximo do que se pode chamar de sucesso nacional realizado aqui em 2008 foi “Última Parada 174”, de Bruno Barreto, criado em cima do personagem que seqüestrou a linha 174 no Rio de Janeiro em 2000, que gerou o doc. “Ônibus 174” pelo mesmo Padilha em 2002.

Tivemos também atores estreando na direção de um longa-metragem – Selton Mello (“Feliz Natal”) e Matheus Natchergaele (“O Caso da Menina Morta”) – e veteranos (Walter Lima Jr) decepcionando com um projeto antigo chamado “Os Desafinados”, e não fazendo nem 200 mil espectadores. Boas surpresas foram a animação “O Garoto Cósmico”, de Alê Abreu, e “Nome Próprio”, com performance empolgante de Leandra Leal, inspirado nos textos de Clarah Averbuck

Produção pernambucana vai de vento em popa

A produção pernambucana parece só aumentar mais seu brilho a cada novo que passa. Só no segundo semestre de 2008 veio a público a versão cinematográfica dos documentários “Pindorama – A Verdadeira História dos Sete Anões”, de Lula Queiroga, Léo Crivelare e do carioca Roberto Berliner, e também “KFZ-1348”, de Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso , tendo sido exibido e premiado pelo júri oficial na Mostra de SP, chamando a atenção do alemão Win Wenders.

Outro doc., “Crítico”, de Kleber Mendonça Filho, também começou a circular pelo mundo, e continua em 2009. O realizador também comemora a seleção da fundação holandesa Hupert Balls para apoio de seu novo projeto em longa, a ficção “Histórico de Violência”. Já a ficção “Amigos de Risco”, de Daniel Bandeira encerrou seu circuito brasileiro em festivais em ritmo de comemoração com o anúncio de apoio para desenvolver outro projeto de longa em ficção, “Propriedade Privada”. A outra ficção que estreou foi “Deserto Feliz”, de Paulo Caldas.

Entre os curtas-metragens, “Muro”, do jovem Tião, encantou o mundo a partir da “Quinzena dos Realizadores” em Cannes 2008. Filme repercutiu tanto que gerou a seguinte resposta do ator Rodrigo Santoro quando perguntado com que diretor ele gostaria de trabalhar no futuro: “Tião”, disse ele. Daniel Aragão também comemorou a seleção de seu “Solidão Pública” pelo Festival de Amsterdã.

Mais recentemente, “n° 27”, de Marcelo Lordello, e “Superbarroco”, de Renata Pinheiro, estiveram no Festival de Brasília, com este último saindo vencedor em unanimidade. Antes disso, “Ocidente”, de Leo Sette, ficou com o prêmio de experimental e melhor filme no festival Curta Cinema, ficando o título de melhor curta-metragem para “Menino Aranha”, de Mariana Lacerda. E o mestre Fernando Spencer voltou a filmar, com a Página 21, o curta “Nossos Ursos Camaradas”.

Em 2008, Recife também ganhou dois novos festivais de cinema, o “Janela Internacional de Cinema do Recife” do CinemaScopio) e “Animage” (da RecBeat) tendo acontecido ambos em novembro no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

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