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Críticas

O que é nosso

Paulo Emílio sabia das coisas, claro

Por Luiz Joaquim | 08.06.2009 (segunda-feira)

Vendo dois filmes, um estrangeiro (“Duplicidade”) e um brasileiro (“A Mulher Invisível”), em cartaz nos cinemas hoje e, refletindo não apenas sobre a opção temática que cada um toma mas, principalmente sobre o ‘como’ eles têm a dizer ao espectador, lembramos de uma clássica frase do crítico Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977). Nela, ele sugeria que o pior filme brasileiro diz mais que o melhor filme estrangeiro. Os dois títulos em exibição nos multiplex do Recife servem como exemplo claro para a assertiva. Por que? Em “Duplicidade”, num roteiro extremamente bem articulado, como um jogo de xadrez, temos um casal envolvido numa trama industrial internacional de espionagem ao mesmo tempo em que eles tentam resolver uma questão amorosa entre si, em meio a um constante jogo de mentiras. Tudo, inclusive o humor, é frio, asséptico e visa um alcance planetário, muito embora as marcas do Tio Sam estejam todas lá (“Bem Vindo a Itália”, ironiza o ator Clive Owen sobre o serviço mal-feito num hotel cinco estrelas da lá). Em “A Mulher Invisível”, cuja intenção também é a universalização do assunto a partir do coração partido de Pedro (Selton Mello) e de seu encontro com uma mulher ideal e imaginária. Mas, também, estão lá marcas brasileiras indeléveis como quando Pedro chega em casa e encontra sua mulher de mentira acompanhando um jogo da terceira divisão com muita empolgação. Há também a maneira carioca de conquistar as mulheres, que se revela em maior escala no personagem de Vladimir Brichta, um paquerador inveterado. Não que ser ‘paquerador inveterado’ seja uma exclusividade dos cariocas, mas são os meios da paquera, estampadas no filme, deste personagem que o fazem um brasileiro autêntico. É a essa autenticidade, automaticamente reconhecível pelo público brasileiro, que Paulo Emílio se referia em sua frase. Existe um comunicação entre os iguais de uma mesma nação que funciona numa camada inalcançãvel para um estrangeiro. Tudo isso para dizer que, mesmo com todo o apuro técnico no roteiro de “Duplicidade” e mesmo com as fragilidades do roteiro (principalmente no final) de “A Mulher Invisível” é com este último que a platéia deve sair mais satisfeita da sala de cinema.

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Ancine
Foi definido, há duas semanas, pelo Senado e pelo presidente Lula o corpo diretor que irá coordenar a Agência Nacional de Cinema (Ancine) pelos próximos dois anos. Manoel Rangel Neto foi reconduzido como Diretor Presidente e Paulo Xavier Alcoforado e Glauber Piva foram selecionados para os cargos de diretores.

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Público
“Divã”, com seus 1,6 milhões de espectadores (até agora), vem alavancando o número de espectadores nos cinemas para um filme brasileiro. Junto ao grande campeão nessa área em 2009, o “Seu Eu Fosse Você 2” (6,08 milhões de espectadores), os dois filmes soman 7,7 milhoes de ingressos vendidos para um filme nacional. Isso significa 88% de público para filmes nacionais em 2008. Estamos indo bem nessa área, e há de se considerar outro possível arrasa-quarteiro verde-amarelo chamado “A Mulher Invisível”.

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Estreias nacionais
Pela trilha de sucesso de “A Mulher Invisível”, também deve percorrer “Os Normais 2” (foto), com estreia em 28 de agosto e agora totalmente produzido pela Globo Filmes. Antes, em 14 de agosto, teremos “Tempos de Paz”, drama de época de Daniel Filho, e “Salve Geral”, sobre ataques do PCC em São Paulo em 2006. Um dos grandes esperados é “Do Começo ao Fim”, de Aluizio Abranchez, sobre dois irmãos homossexuais incestuosos (cujo trailer na internet tornou-se um sucesso). Filme deve estrear em dezembro. Ainda no segundo semestre, estão marcados “Jean Charles”, com Selton Mello vivendo o brasileiro assassinado pela polícia inglêsa em Londres, “Besouro”, sobre um capoeirista baiano e “O Contador de Histórias”, sobre o pedagogo Roberto Carlos Ramos. No circuito alternativo, teremos “À Deriva”, de Heitor Dhalia, “No Meu Lugar”, de Eduardo Valente, “Moscou”, de Eduardo Coutinho, e “A Erva do Rato”, de Bressane. Em 2010, veremos “O Bem Amado”, “Chico Xavier” e “Lula – O Filho do Brasil”.

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