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Críticas

Valsa com Bashir

Tentando curar um trauma da guerra

Por Luiz Joaquim | 05.06.2009 (sexta-feira)

“Valsa com Bashir” (Vals In Bashir, Isr., 2008), longa-metragem de animação para adultos dirigida por Ari Folman, e que exibe em apenas seis sessões durante a semana a partir de hoje na Sessão de Arte do UCI/Ribeiro (vide roteiro), é um espetáculo visual de primeira grandeza que sugere reflexão sobre o espetáculo da destruição. Sugestiona também como é traiçoeira a memória humana, ou mesmo, como ela age impedindo o homem de encarar suas próprias culpas. É material rico para análise psicológica, e mais rico ainda como instrumento político que relembra a investida armamentista de Israel sobre o Líbano em 1982.

Não é nova a técnica de rostocopia que o animador Yoni Goodman aplica aqui, mas “Valsa…” talvez seja o primeiro longa-metragem animado que funciona como um docudrama ao colocar em questão o massacre vivido pelos palestinos, quando cerca de 3 mil civís foram assassinados em vingança pela morte do então recém-eleito presidente Libanês Bashir Gemayel.

Exibido em Cannes 2008 e indicado ao Oscar estrangeiro 2009, o filme parte de um pesadelo que um ex-soldado israelense conta a seu amigo Ari (o diretor Folman), que foi seu parceiro de batalha em Beirute. No sonho recorrente, 26 cães raivosos que lhe perseguem. Ari, por sua vez, revela que não possui nenhuma lembrança sobre aquele período em sua memória. Nenhum imagem sequer.

Indignado, começa a procurar e a entrevistar todos os antigos parceiros que passaram pelo trauma da guerra junto a ele para daí tentar resgatar a memória e entender a razão de sua branco sobre um momento tão dramático em sua vida. Nessa trajetória, Folman molda os relatos de seus com sequências tensas e lindas. São sequências que beiram ao surreal e nos seduzem pela animação, através de sua beleza plástica e do lúdico contido nas memórias, ora falhas, ora precisas de seus entrevistados.

Excelente administrador dessas lindas imagens û algumas tão fortes que dificilmente serão esquecidas – Folman vai visualmente encantando seu espectador ao mesmo tempo em que o alimenta com um volume de informações deprimentes dadas pelos entrevistados sobre a condição bélica em Beirute naquele momento. Tudo é catalisado para um final aterrorizante e deprimente, no qual sai a animação e entram as imagens de arquivo de um telejornal das vítimas de um campo de refugiados em Sabra e Chatyla. Elas provocam um sopapo brutal no espectador, para acordá-lo e fazê-lo perceber que apesar da imagens daquela guerra estarem hoje esquecidas da nossa memória, elas existiram e tiveram responsáveis pela sua produção.

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