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Críticas

O Equilibrista

Caminhando nas nuvens

Por Luiz Joaquim | 15.07.2009 (quarta-feira)

Em 7 de agosto de 1974, Philippe Petit e seu pequeno grupo de amigos esticaram um cabo entre as, ainda em construção, torres gêmeas World Trade Center, e então Petit passou cerca de 45 minutos caminhando em pleno ar, sem nenhuma proteção a 400 metros de altura, enquanto a polícia o ameaçava capturá-lo de helicóptero. Este episódio fantástico de pura expressão artística ganhou um documentário consagrado mundo afora (recebeu o Oscar da categoria neste ano) pelas mãos de James Marsh e estréia hoje no Recife pelo Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

O filme segue paralelo e alternadamente em dois tempos diferentes. Um, narrando as peculiaridades do tenso dia em que a equipe de Petit invadiu clandestinamente o WTC, e o outro resgatando a história de vida desse cativante maluco que iniciou suas performances mirabolantes na Catedral de Notre Dame, indo depois para a ponte Harbor, em Sidney, Austrália até chegar aos monumentais edifícios nova-iorquino.

Com belo acervo de imagens feitas por Petit e amigos no final dos anos 1960 e 1970, “O Equilibrista” intercala não só o depoimento atual do próprio Petit como o de todos os seus comparsas espalhados pelo mundo. O tom é mesmo o do humor, apresentando esses comparsas como verdadeiros “criminosos da arte”.

A idéia central em “O Equilibrista” está na perseverança de seu protagonista, para o qual o impossível é um estímulo. Sua frase, ao subir pela primeira vez no teto do WTC e se deparar com a distância e forte ventania no local é bem definidora do seu espírito. Ele disse: “Ok, agora vejo que é oficialmente impossível atravessá-las. Vamos começar o trabalho”.

Interessante observar na condução do filme por Marsh a evolução do processo de fixação dentro da cabeça de Petit a respeito das torres gêmeas. Sua meticula descrição dos fatos, detalhadamente, como foi planejado o crime artístico, abre um outro leque para além do fato em si, espetacular por natureza, da travessia entre os dois prédios. Exemplo disso era o plano que Petit precisava articular para burlar a segurança da construção e dos detalhes de amarramento do cabo entre um edifício e outro com 60 metros de distância.

O retrato que fica aqui do agitado (quase infantil) Petit é o de um artista nato e autêntico, nos dando um belo e assustador espetáculo único, até porque o WTC, catastroficamente, virou história. Um dos aspectos mais interessantes neste “O Equilibrista” está na reflexão que Petit faz ao recordar a grande pergunta que os norte-americanos lhe faziam terminado o feito: “Eles me perguntavam por que eu fiz isso. Eu não entendia. Tinha lhes dado o maior espetáculo da vida deles e eles só se preocupavam em escutar uma resposta para o seus ‘por quês”.

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