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Críticas

Atividade Paranormal

Filmadora no lugar da água benta

Por Luiz Joaquim | 03.12.2009 (quinta-feira)

Vez por outra aparece alguém, lá nos EUA, realmente competente que fura, pela inteligência afiada, o mainstream hollywodiano. Fura e entra nele. O nome da vez é o do diretor Oren Peli,natural que Israel e radicado na América, que criou um fenômeno de bilheteria já em seu primeiro longa-metragem: “Atividade Paranormal” (Paranormal Activite, EUA, 2007). Rodado na primavera de 2006, em apenas sete dias na casa do diretor, e com apenas R$ 11 mil dólares, o filme já arrecadou mais de 100 milhões, apenas nos EUA.

Quando um jovem executivo da DreamWorks, de Spielberg, viu o filme, há dois anos, tratou de falar para seu chefe na Paramount, que rapidamente contratou Peli para refazer uma versão mais arrojada. A idéia foi abandonada. A diferença na versão que chega hoje às telas ficou apenas no final do filme, que ganha um encerramento psicologicamente menos radical que a original, e também em termos de violência gráfica na tela. Isso significa uma classificação etária menor para o filme e mais $ entrando no caixa.

Peli já declarou que uma das coisas que queria com “Atividade…” é que o filme “pudesse definir o horror para uma geração, como “Psicose” fez com que as pessoas tivessem medo de ir pro chuveiro, ou depois de “Tubarão” e “Mar Aberto” as pessoas não queriam mas nadar no oceano, ou depois de “A Bruxa de Blair” ninguém mais quisesse acampar. Imaginei que ninguém pode evitar de dormir sozinho em casa, logo, se eu pudesse por medo nas pessoas apenas por ficar em casa, o filme poderia ser um sucesso”, escreveu no site oficial da produção.

À propósito, pode-se dizer que “Atividade…” é o irmão mais novo de “A Bruxa de Blair” e “Mar Aberto” no sentido de que tudo o que é mostrado na tela é vendido como verdade. As imagens que vemos aparecem sob a perspectiva de uma câmera amadora, sempre ligada sober um tripé, ou pelas mãos de Micah (Micah Sloat) ou ainda sua namorada, Katie (Katie Featherston). É um jovem casal morando há pouco tempo numa casa que produz sons estranhos à noite. A filmadora, à propósito, foi comprada por Micah especificamente para entender a origem desses barulhos.

“Atividade Paranormal” é bom porque é inteligente e é inteligente porque é bom. Usa um dos medos mais infantis do ser-humano, o medo do escuro, para esticar a tensão em seu espectador. Agrega a isso situação paranormais complicando ainda mais o raciocínio desse seu público, e sempre com situação críveis. Situações que todo mundo já ouviu falar e se arrepiou só de ouvir. É a televisão que liga sozinha, quadro que teve o vidro quebrado sozinho, ou o barulho de passos pesados pela casa, e por aí vai.

É cinema inteligente porque transporta o espectador para o cotidiano dos personagens, e sabe que para fazer isso bem feito precisa de “tempo morto”. Aquele tempo em que aparentemente não acontece nada. Esse “não acontecer nada” deve irritar muitos espectadores dos multiplex, habituados a ação e barulho o tempo inteiro. “Atividade…” pede o contrário. Pede silêncio. E é um pena que esses mesmos espectadores provavelmente não se dêem conta que quando chega o momento em que “as coisas acontecem”, ou seja, quando anoitece e o casal vai para a cama, esse expectador experimenta um frisson pelo qual ele se pergunta: “e agora, o que acontecerá?”. Se você fizer essa pergunta durante a projeção de um filme (e se ainda estiver amedrontado), tenha certeza de que você está diante de um bom filme.

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