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Entrevistas

Entrevista: José Padilha

Padilha: Comunicar é o primeiro fim do cinema

Por Luiz Joaquim | 02.12.2010 (quinta-feira)

Em poucos dias, a história do cinema brasileiro vai mudar. E o principal responsável pela modificação da realidade comercial do cinema brasileiro como a conhecemos, e como os livros ensinam há 34 anos, chama-se José Padilha. Com seu “Tropa de Elite 2” , o realizador carioca deve bater um recorde impensável de ser atingido há poucos anos. Seu longa, há oito semanas em cartaz, já passou dos 10,4 milhões e falta pouco para ultrapassar o título de “a maior bilheteria oficial do cinema brasileiro”; resultado alcançado por “Dona Flor e seus Dois Maridos”, longa-metragem de Bruno Barreto, que em 1976 chegou a quase inabalável marca de 10.735.524 espectadores.

Antecipando-se a notícia que irá ocupar toda a mídia nacional (e talvez internacional) em poucos dias, quando se der o novo recorde, conversamos por telefone, de Brasília, com Padilha no Rio de Janeiro. O cineasta mais bem sucedido do ponto de vista de comunicação com seu público. Na entrevista, Padilha comenta sua estratégia de distribuição, da possível carreira do filme no exterior, e de alguns projetos futuros, já em andamento.

Fale um pouco sobre a estrutura montada para a distribuição do filme. Em que ela contribuiu para esse sucesso?
A gente quis fazer uma distribuiçao independente. Nao queríamos transferir nosso patrimonio para ninguém. Queríamos entrar em contato com exibidores diretamente. Já que não tínhamos esse know-how, convidados o Marco Aurélio Marcondes (da distribuidora MovieMobz) para desenvolver uma estratégia com James D’Arcy – diretor de marketing da Zazen (produtora de “Tropa”). Juntos, os dois pensaram em como lançar, que data, etc. Mas, é preciso falar que tivemos um grande apoio do Cadú (Carlos Eduardo Rodrigues) da Globo Filmes. Acho que o lançamento foi de certa forma igual ao de outros filmes, a diferença é que a Zazen assumiu um risco de investimento nesse lançamento, mas esse investimento voltou.

O primeiro Tropa venceu o Festival de Berlim, em 2008. Existe alguma estratégia para tentar chegar no mercado estrangeiro com o 2º. Tropa , aproveitando a força da bilheteria brasileira?
O “Tropa 2” tá vendido a muito países estrangeiros. Através da IM Global (companhia americana que descobriu “Atividade Paranormal”, entre outros), o filme já tem distribuição em países menores. Mas não vendemos pro mercado norte-americano ainda. Queremos mostrar a festivais como Sundance (EUA), ou Berlim (Alemanha) e daí partir para outro trabalho de venda no exterior.

A gente poderia considerar a seleção para Berlim uma barbada já que o primeiro “Tropa” foi vencedor lá?
Não sei, não gosto de fazer previsões. Vai que tem muito filme bom nessa safra, e o meu fica de fora. Isso acontece.

Você recebeu uma proposta para dirigir um filme no exterior?
Não. Engraçado, todo mundo me pergunta isso. Já fiz trabalhos lá fora, e já faz tempo que os fiz. Mas agora vou retomar alguns trabalhos, dentro e fora do Brasil.

Que tipo de reflexão a gente pode fazer a partir do fato de que “Dona Flor…” teve êxito com uma história de amor e erotismo, enquanto o sucesso hoje de “Tropa 2” está relacionado com uma história que envolve corrupção e violência?
Quando o filme cai no gosto do público vira sucesso, independente do genero. Isso que falo pode ser até visto como um bobagem, mas é o que acontece simplesmente. O mercado de “Dona Flor…” era um e hoje é outro. Não tem muito sentido compará-los. Eu posso falar do meu filme, e fico muito feliz com seu sucesso. Um filme pensado para funcionar como um filme cujo tema é a política. “Tropa 2” foi montado pra completar uma trilogia que iniciou com “Ônibus 174” (documentário de Padilha, de 2002) e o primeiro “Tropa”.

Pergunto do ponto de vista da comunicação direta e interação imediata com o espectador.
“O Dona Flor…” foi muito importante, o respeito, e ele tem ótimos atores, mas não vivi aquela época e não gosto de falar do que não conheço minimamente.

Alguma possibilidade de termos um 3º. Tropa? Ou algo nessa linha vindo de você para a TV?
Uma amigo diz que figurinha duplicada não completa álbum.

Mas você repetiu a figurinha (com “Tropa 2”) e completou mais de dez milhões de álbuns…
Mas aí era um contexto diferente, esse planejamento já existia desde o início. Tudo estava encaminhado desde antes para o segundo filme existir.

Quais seus próximos projetos?
Trabalho no “Nunca Antes na Historia desse País”, que é levemente inspirado no episódio do “mensalão”. Tem também um outro filme chamado “Academia”, a respeita de educação no Brasil. E tem também um filme estrangeiro co-produzido por Don Cheadle, junto comigo.

Qual a sensação de ser o diretor de cinema mais bem sucessido do País?
O diretor mais bem sucedido do país é Fernando Meirelles. Ele tem quatro indicaçoes ao Oscar (referindo-se a “Cidade de Deus”). E não é por ser um filme estrangeiro. E recentemente recebeu enorme respaldo na Inglaterra, sendo seu filme considerado um marco na história mundial do cinema. O meu filme deu certo no Brasil e tem muito água pra rolar debaixo da ponte. Mas claro, fazer publico é muito bom, pois esse é o fim primeiro do cinema. Comunicar.

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