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Festivais

5º Janela (2012) – Doméstica

Voz às domésticas

Por Luiz Joaquim | 19.11.2012 (segunda-feira)

São tantas as boas qualidade de “Doméstica”, longa-metragem de Gabriel Mascaro que exibe às 20h de hoje no Cine São Luiz, que fica difícil sintetizar o tamanho de seu valor num restrito espaço de jornal. O documentário que integra a programação do 5º Janela Internacional de Cinema do Recife também esteve no Festival de Brasília, há dois meses. Lá realizou sua primeira exibição pública e, tendo impressionado e emocionado público e críticos especializados, foi injustiçado pelo júri, quando saiu sem nenhuma premiação oficial.

É larga demais a problematização sócio-cultural no Brasil das relações entre patroa e empregadas domesticas, e com “Domestica” Mascaro bolou um genial dispositivo que abre um leque de reflexões também imenso no campo cinematográfico. O processo consistia em oferecer equipamentos e dar coordenadas básicas de filmagem para adolescentes fazerem imagens de suas domésticas por uma semana. “Foi um processo difícil esse de esperar pelo retorno do material que os adolescentes fariam. Uma semana depois, recebíamos as imagens brutas sem saber se teríamos consistência para montar um filme”, lembra Mascaro.

Depois da decepção constatada no primeiro material recebido, Mascaro pensou em orientar os jovens a usar um tripé, o que ofereceria também uma nova dimensão estética ao filme. “O tripé deu uma nova possibilidade estética, para uma linguagem até política, pois a imagem fixa está distante do repertório imagético daquilo que seria uma imagem íntima, feita em casa, entre pessoas próximas. O mais curioso em Doméstica é essa dubiedade de uma câmera sendo operada na ordem da performance, mas com uma intimidade presente”, teoriza o realizador.

Uma vez com o material bruto, Mascaro, ao lado de Eduardo Serrano, montava os momentos que deram corpo ao longa, fazendo do documentário um produto com diversas camadas de leituras, fosse por questões de autoria, fosse pela legitimidade de depoimentos impregnados por uma relação de poder previamente dada.

Para além de elucubrações estéticas e teóricas, Mascaro fez um filme delicado e envolvente, pelo qual qualquer um irá fatalmente rir ou chorar (ou os dois). É um filme pelo qual temos um reflexo muito interno, de dentro, e íntimo das relações na classe média brasileira, revelando ecos de “Casa-Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre. No meio disso tudo, Mascaro teve o talento de administrar a construção do humano nestas relações, e nos brindar com personagens que transcendem qualquer pré-conceito, nos oferecendo verdades universais.

O cineasta não estára na sessão de hoje. Motivo: está em Amsterdã, onde apresentou ontem a premiere internacional do filme em festival por lá. “Lamento muito não poder ficar, mas minha presença no exterior é importante para que ele possa circular mais por lá”, explicou.

JANELA
Outras atrações de hoje no 5º Janela são, no Cinema da Fundação: às 16h, a sessão do clássico “O Sacrifício”, de Andrey Tarkovsky, para em seguida, ás 19h, mostra “No”, filme de Pablo Larraín estrelado por Gael Garcia Bernal, sobre a crise política no Chile à época de Pinochet. Amanhã a sala da Fundaj reserva as 18h para exibir os curtas premiados pelo festival. Já o São Luiz hoje, às 16h, exibe um série de curtas selecionados pela curadoria da Quinzena dos Realizadores, de Cannes, e às 18h fecha sua 5ª edição com o clássico absoluto de David Lean, “Lawrence da Arábia”.

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