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Críticas

As Aventuras de Pi – texto 1

A jornada de fé de Ang Lee

Por Luiz Joaquim | 14.12.2012 (sexta-feira)

Três aspectos fortes ligam “As Aventuras de Pi” (Life of Pi, EUA/Chi., 2012), filme de Ang Lee que estreia próxima sexta-feira (21/12) no Brasil, a “Titanic” (1997). Um é a representação cinematográfica de um naufrágio; o outro é o investimento em efeitos especiais para a verocidade do naufrágio; e o terceiro está no fato do protagonista, o Pi do título, ser um adulto (Irrfan Kahn) que conta a história de sua vida para um escritor, como a Rose velhinha no sucesso de James Cameron.

Mas as comparações devem encerrar aí, pois “Pi” não quer falar do romance de um amor eterno, e sim sobre fé. Nesse sentido, pela combinação de beleza visual e reflexão humana, temos em “Pi” talvez o mais interessante trabalho do diretor de “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005) e “O Tigre e O Dragão” (2000).

Falando em tigre, “As aventuras de Pi” resgata este animal para o roteiro que David Magee adaptou do best-seller homônimo de Yann Martel, publicado em 2001. Pode-se dizer que o filme é dividido em três partes bastante definidas, mas não declaradas. O espectador vai visualizando-as na medida em que o indiano Pi adulto, morando no Canadá, as relata a um jovem escritor em busca de uma história que, segundo lhe disseram “o fariam acreditar em Deus”.

Na primeira parte, sabemos sobre a infância do menino Pi (Gautam Belur), diminutivo de Piscine, nome dado pelo pai em homenagem a uma piscina francesa a qual adorava. O nome estranho rendia piadas na escola, com a molecada relacionando a sonoridade de Piscine com Pissing (urinando). Por um esforço pessoal e amparado na matemática, Piscine fez seu apelido de Pi prevalecer e, durante o processo, divide sua vida entre o zoológico de seu pai ao mesmo tempo que procura Deus em todas as religiões.

Na segunda e terceira parte (hipnóticas), o filme concentra-se no naufráfio durante a viagem na adolescência de Pi (Suraj Sharma), quando mudava com a família para o Canadá e lá venderia alguns animais do zoo indiano. Entre eles está o trigre que chama de Richard Parker, com quem Pi precisa lidar no único bote que restou do acidente. Mais da metade dos 127 minutos de “As Aventuras de Pi” é dedicada a passagem do pavor para o da boa convivência do garoto com a fera em alto-mar.

Nesse aspecto, a produção ganha fácil a admiração do espectador, não tanto pelos bons efeitos tridimensionais, mas pelo poder de convencimento das sequências em que o garoto contracena com o tigre. Na verdade, quatro tigres diferentes foram usados servindo como base de referência para se criar os efeitos digitais nesta interações com o ator Sharma – que na verdade contracenava sozinho em cima do bote salva-vidas.

As cenas em alto-mar têm a força que se vê por conta da criação do maior gerador de ondas artificiais que existe. A máquina fazia movimentar 6,4 milhoes de litros dentro de uma colossal e real maquete com um tanque de 70 por 30 metros. Assim como em “Titanic”, são essas referências no concreto (e não apenas no efeito digital) que dá a “As Aventuras de Pi” seu aspecto de elegância nas imagens de ação.

Elegância que combina com o discurso pouco comum para um filme hollywoodiano: a busca por Deus. Um tema difícil de equilibrar, sem pender para o piegas, que Lee conseguiu associar ao prazer de ver um bom filme de aventura.

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