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Entrevistas

Entrevista: Kleber Mendonça e Emilie Lesclaux (Jan

KLEBER: Um festival deve impactar as pessoas

Por Luiz Joaquim | 08.10.2013 (terça-feira)

Próxima sexta-feira tem início o 6º Janela Internacional de Cinema do Recife. Reforçando a aura dos cinema São Luiz e Cinema da Fundação Joaquim Nabuco como lugares sagrados para imergirmos nas melhores experiências e reflexões que os fimes podem proporcionar, o festival evolui a olhos visto. Este ano, além da já tracional mostra de títulos classicos, firma parceria com novas intistuições no exterior, promove oficinas e uma aula de cinema. Querendo ainda mais, os produtores e curadores Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux conversaram com a Folha sobre suas motivações e desejos quando arregaçam as mangas para abrir esta janela ao recifense. Leia abaixo:

Qual era o cenário no Recife quando surgiu o Janela em 2008 e o que os levou a trabalhar num projeto de um festival de cinema naquele momento?

Emilie – O Janela nasceu com o edital do audiovisual [Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco, ou Funcultura Independente, do Governo do Estado]. Fomos contemplados logo na primeira edição. Mas a ideia de criar um festival já existia há uns três anos. Nós sentíamos a falta na cidade de um festival que abarcasse filmes de todos os lugares, e de forma mais democrática quanto ao formato. Hoje, por exemplo, é comum os festivais reunirem projeções em digital e em 35mm num mesmo programa, mas não era assim em 2008.
Kleber – Queríamos também fazer um festival que não aprisionasse os filmes numa gaiola. Algo como o ‘festival do filme russo’, ou ‘pernambucano’. E se gostássemos de um filme baiano? Iríamos deixá-lo de fora?

Vocês diriam que o Janela já tem um perfil definido, ou ainda é um processo em construção?

Kleber – Ele tem um perfil definido para as questões práticas. Mas um bom festival precisar estar sempre em processo de mudança. É a natureza dos filmes. Seria estranho um festival rígido e imutável. E esperar que os filmes se adaptassem a um festival não seria correto, mas sim os festivais se adaptarem aos filmes.

Assim como a maioria de outros festivais de cinema no Brasil o Janela depende de recursos públicos, o que de certa forma revela uma estrutura frágil. Qual seria uma alternativa contra essa dependência?

Emilie – Eu gostaria de poder contar com um profissional exclusivamente para captar recursos, mas esta não é uma função com a qual a gente encontra com facilidade, principalmente no Recife.
Kleber – É de fato frágil, mas eu acredito numa boa política cultural. O melhor exemplo disto esta na forma como o governo francês resolveu seu compromisso com a cultura. E o pior exemplo está nos EUA. Lá, para conseguir seguir adiante com seus projetos não basta apenas a competência, acertos pessoais e prestígio contam bastante.

Kleber já mencionou que gostaria de fazer exibições ao ar livre pelo Janela, mas não era possível com os recursos de hoje. Além disso, com que outras invenções o Janela poderia agraciar seu espectador?

Kleber – Além da beleza de, por exemplo, fazer uma projeção no Marco Zero com uma excelência de qualidade tecnica, uma ação assim também iria agregar um novo público ao festival. Ele estaria chegando à pessoas que normalmente não alcança. Seria mais um modo de devolver à população os recursos, em forma de cultura, que o governo nos confiou. Certaz vez Emlie apontou um espaço na Cidade Alta, em Olinda, que pensamos também ser perfeito para uma sessão a céu aberto. Gostaríamos também de poder utilizar outros cinemas do Recife. Ano passado tivemos 14 mil espectadores ocupando duas salas, o que acho bom, mas esse número poderia ser ainda maior com novos espaços. O Festival Internacional do Rio Janeiro faz isso de forma sensacional. Ele cria uma rede em diversas salas que envolve todos os cariocas. Seria sensacinal poder ter o Janela acontecendo em diversos bairros aqui do Recife. Mas equipar tecnicamente, e de forma adequada, estas outras sala está além do que o nosso orçamento permite.

E interiorizar o festival?

Emilie – Tavez mais para frente… quem sabe. Ia demandar uma estrutura bem maior que ainda não temos hoje.
Kleber – Sim, seria ótimo termos uma comissão do Janela, em que pudéssemos confiar, trabalhando no interior do Estado e administrando as sessões.

Um festival de cinema tem alguma função? Ou uma principal função? Qual seria?

Kleber – Comunidades que possuem elementos formadores geralmente se beneficiam de um impacto destes elementos formadores. Uma boa escola numa cidadezinha molda como esta cidade vai avançar. Recife tem uma movimentação forte em cinema, isso é notório, e um festival forte, bom, tende a alimentar a cultura do cinema de maneira ainda mais forte. E isso não é uma questão de pretensão. É pragmatico. É como entendemos o funcionamento de uma estrutura maior. Um festival deve impactar as pessoas. Percebemos isso acontecendo no Janela. E a ideia aqui é que não há soberania nesse processo. O festival se beneficia do público e público se beneficia do festival. Adoraria saber que alguém muito jovem decidiu fazer cinema, seja escrevendo críticas, ou realizando filmes, por conta dessa energia em torno do festival. E isto hoje em Pernambuco não é um sonho maluco como foi na minha geração, no final dos anos 1980. Isto é viável.

O que vocês escutam dos realizadores sobre Janela?

Emilie – Um assunto que sempre comentam é sobre a projeção. Ele gostam da forma como seus filmes são tratados aqui.
Kleber – Eles se sentem acariciados quando lêem uma sinopse sobre o seu flime e sabem que alguém viu seu filme e se preocupou com ele. Entendem também que a programação não é automatizada. Que houve uma combinação entre diversos filmes na grade que valoriza a sua obra. Que faz sentido para aquele filme estar entre os outros.

No que vocês evoluíram e em quais aspectos vocês esperam melhorar o Janela?

Emilie – No início fazíamos de tudo, até projetar as legendas eletrônicas durante as sessões. Hoje já temos funções mais compartilhadas e definidas.
Kleber – As vezes parece que o festival ainda está se escondendo, quando sabemos que ele já é respeitado no Brasil. Toda vez que estamos prestes a iniciar uma nova edição, percebemos, por exemplo, que não conseguimos trazer a imprensa de outros estados. Nós também não trabalhamos com publicidade. No nosso caso, ela se resume ao que a imprensa local publica e ao interesse das redes sociais.
Emilie – Pagamos uma divulgação em cinco outdoors.
Kleber – Ah é (rindo) tem os cinco outdoors. Na verdade não entendemos a lógica de alguns festivais que possuem um orçamento ‘X’ e metade deste ‘X’ é destiano à publicidade. No Janela nem sei como poderíamos trabalhar mais nossa publicidade.
Emilie – Se tivéssemos dez salas à nossa disposição para encher aí talvez a publicidade fizesse mais sentido.

Entre tantas atrações deste 6º Janela, poderiam indicar três imperdíveis?

Kleber – Os clássicos no cinema São Luiz. O Recife tem a sorte de ter um cinema como aquele, o que é um sorte também para o Janela. Poderíamos fazer sessões em três salas num shopping center, mas a energia não seria a mesma. E ver um filme clássico num espaço arquitetônico que também é clássico gera uma sensação particular. Os clássicos pertencem a todos nós e essa sensação de pertencimento deve ser preservada. Uma segunda agenda imperdível é a aula [quarta-feira, 16/10] com o professor e pesquisador João Luiz Vieira. Se chama “O espetáculo começa na calçada”. João Luiz é extremamente articulado e ele vai falar exatamente dessa relação entre o espectador e a sala de cinema.
Emilie – Outra boa dica é aproveita a presença dos profissionais de fora do país para trocar experiências e conhecer programas especiais como o da USC [University of Southern California] ou do IndieLisboa [Festival Internacional de Cinema Independente].

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