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Críticas

Jia Zhang-ke, Um Homem de Fenyang

Jia Zhang-ke por Walter Salles

Por Luiz Joaquim | 17.09.2015 (quinta-feira)

Um dos mais reconhecidos cineastas do Brasil fez um filme sobre um dos mais reconhecidos cineastas da China. Em “Jia Zhang-ke, Um Homem de Fenyang” (Bra., 2015), filme de Walter Salles estreando hoje no Cinema do Museu, o diretor de “Central do Brasil” olha para as origens que formaram o amigo de longa data como o realizador celebrado no mundo inteiro (já premiado em Cannes, Berlim e Veneza) que é Zhang-ke. Ao fazê-lo, Walter também olha para as transformações pelas quais passaram a China nos últimos 30 anos.

Walter tornou-se amigo de Zhang-ke quando ganhou o Urso de Ouro em Berlim (1998). Lá, o chinês concorria com “Prazeres Desconhecido”. Na Mostra de São Paulo, o asiático viria a ganhar um prêmio humanitário e foi aí que Walter começou a desenhar a idéia do documentário.

Em entrevista Walter chegou a comentar que Zhang-ke foi a artista a melhor representar as transformações brutais pela qual passou seu país nas últimas décadas. De fato, em um de seus filmes seminais – “Plataforma” (2000), Zhang-ke cobre em três horas de duração um período entre 1979 e 1989 da juventude chinesa que começava a descobrir, ainda clandestinamente, o universo pop, e a transição para a vida adulta numa economia a caminho da globalização.

Um dos registros do documentário mostra um debate realizado numa Academia de Belas-Artes na China. Lá, Zhang-ke fala a propósito de seu “Um Toque de Pecado” (melhor roteiro em Cannes 2013). Para um auditório com uma platéia abarrotada, o cineasta resume que seu cinema é sobre os “não detentores de poder”.

Esse é o ponto que mais parece atrair Walter em seu filme. Na verdade, a beleza que Walter busca é essa combinação que Zhang-ke produz entre o drama dos “desimportantes” com a própria história social da China.

Há aí também, claro, o interesse pela criação cinematográfica. Depois de inicialmente acompanhar o cineasta no vilarejo onde morou na infância em Fenyang, quando lá é lembrado até hoje como Lailai (“o moleque”); e depois de desdobrar aspectos de sua família, com a mãe, irmã e a memória de seu pai; Walter intercala cenas de “O Mundo” (2004), o documentário “Dong” (2006) e “Em Busca da Vida” (2006) com depoimento de atores e técnicos para que assim o espectador entenda o um pouco do que se passa na cabeça daquele que é, segundo palavras do jornal Le Monde, “o mais importante cineasta em atividade”.

PRODUÇÃO – “Um Homem de Fenyang” teve locações em Pingyao, Hong Nan-che e algumas cidades e vilarejos da Shanxi, em Pequim, na Academia de Cinema, na Academia de Belas-Artes da China e na produtora de Jia Zhang-ke, a Xstream Pictures.

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