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Festivais

26º Cine Ceará (2016) – noites 5 e 6

Sobre o devagar e furioso Clever, do Uruguai, e o tocante cubano Casa Blanca

Por Luiz Joaquim | 11.07.2016 (segunda-feira)

22-junho-2016 (quarta-feira)

LUIZ JOAQUIM*

FORTALEZA (CE) – O concorrente local na disputa pelo troféu Mucuri entre os longas-metragens do 26o Cine Ceará: Festival do Audiovisual de Cinema apresentou-se na noite de segunda-feira (20). Falamos de Clarissa ou alguma coisa sobre nós dois, do cearense Petrus Cariry.

O filme encerrou a quinta noite do festival, com sua proposta introspectiva para contar uma história muito particular entre pai e filha (Sabrina Greve, ótima neste personagem duro) quando tratam de um passado interrompido por um trauma. Entre as sequencias de abertura e encerramento, Petrus amarra suas ilações metafóricas postas ao longo do filme, concluindo-as com uma exposição violenta sobre a dor e a intimidade dessa personagem tão feminina.

Antes, a mesma noite mostrou o longa-metragem, também concorrente, “Casa Blanca”, da diretora polonesa Aleksandra Maciuszek sob os auspícios da Escuela Internacional de Cine y Televisión de Cuba. E é na ilha onde se sucede o registro feito por Aleksandra.

Seus protagonistas são a, provavelmente octogenária, Neusa e seu único filho de 37 anos, Vladimir, portador da síndrome de Down. Antes de uma avaliação analítica mais técnica sobre o filme, importante dizer que, nobremente, a condição limitadora de Vladimir não é em nenhum momento do filme posta contra ele ou a favor dele.

A apresentação de Vladimir dentro de seu contexto social – a comunidade muito pobre de pescadores na região marina de Casa Blanca, Cuba – o coloca incluso naquela sociedade sem nenhum tipo de benevolência, caridade ou privilégios (ou o contrário de tudo isso) por ele ser Down.

E, o que para algum espectador possa parecer duro, como as brincadeiras de tripudiação dos amigos da vizinhança contra Vladimir – o xingamento de brincadeira quando ele passa na rua, ou a tentativa de empurrá-lo na água, elemento que Vladi tem medo – é, na verdade, a prova de que o filho de dona Neusa é tratado como um igual naquela comunidade.

A única situação em que o documentário chama a atenção como grave pela limitação daquele homem com índole de uma criança está exatamente quando a gravidade da saúde de sua mãe coloca-se imperativa.

Quem poderia dar-lhe o cuidado necessário nesse caso, já que Vladi não alcança uma total autonomia em suas ações?

Até chegar a esta questão mais adiante na narrativa de Casa Blanca, o filme nos presenteia com a intimidade dessa pequena família como só as produções cubanas conseguem. Apresentando um registro das sutilezas da vida cotidiana dessas duas pessoas e seu amor incomensurável entre um e outro.

Deixa claro que o alicerce que mantém dona Neusa viva é a devoção de Vladi, é o que ajuda Vladi a seguir digno é o olhar atento e o calor maternal que essa mulher devota ao seu “príncipe de olhos puxados”.

HUMOR – Na última noite competitiva do 26o Cine Ceará, terça-feira (21), o cineteatro São Luiz cearense deu espaço ao humor sutil e cínico do uruguaioClever, da dupla Federico Borgia e Guillermo Madeiro.

Clever é o protagonista da obra. Ele (Hugo Piccinini) é um desquitado e ciumento professor de artes marciais – fã de Bruce Lee, nome que estendeu ao seu filho de 10 anos de idade -, alem de cultuador de outra paixão: dos chamados automóveis “tunnados”, ou seja, carros que são transformados de sua originalidade para uma pintura e acessórios mais agressivos.

Sendo o que poderíamos chamar de uma versão uruguaia pobre de Vin Diesel da franquia Velozes e Furiosos, Clever é dono de Chevette modelo, talvez 1980. Carro que ficou conhecido como o “Chevette-tubarão”, em função de seu design.

Ao lembrar que haverá um concurso para carros tunnados, e também descobrir que há um artista recluso na pequena vila interiorana de Las Palmas, Clever parte numa viagem em busca daquele que poderá realizar seu sonho.

Como bem disse o critico gaúcho Marcelo Müller, Las Palmas é apresentada aqui como uma espécie de Twin Peaks uruguaia. Com personagens excêntricos, misteriosos, bizarros mesmo.

Mas o tom aqui é o do humor. E refinado.

Naquilo que se mostra um roteiro bem rebuscado em sua criatividade – e também em sua realização fílmica -, vamos conhecendo pela trama deClever um dono do único bar da cidade, que ali serve apenas picolé de vinho tinto. Ou halterofilista sensível para a arte, que toca piano e gosta de fotografias audaciosas, ao mesmo tempo em que discute o conceito de arte com sua mãe, uma já senhora, sexualmente inquieta, e com uma fixação em fazer esboços da genitália masculina.

Dentro desse contexto deliberada e desconfortavelmente cômico, Cleverarrancou boas gargalhadas neste 26o Cine Ceará, corajoso por trazer humor dentro de uma competição tradicionalmente séria.

* Viagem a convite do festival

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