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Digital

The Crown (temporada #1)

Reflexões tardias sobre um campeão de cliques

Por Luiz Joaquim | 14.06.2020 (domingo)

No futuro (ou já hoje?) há de existir seções em sites voltados à reflexão sobre o audiovisual dedicadas exclusivamente aos, então, clássicos lançados em plataformas streaming. A série The crown – criada e lançada na Netflix, há quatro anos, por Peter Morgan, roteirista do filme A rainha (2006) – dirigido para o cinema por Stephen Frears -, certamente estará em análise em tais sites, residindo com destaque na segmentadora aba de ‘classicos’.

Em 2020, é, talvez, cedo para olhar com uma perspectiva limpa pelo distanciamento temporal sobre The crown ­– até porque uma 4ª e 5ª temporada ainda estão para nascer -, mas é também legítimo dizer que, independente da celebração de série com a enxurrada de prêmios (incluindo o Globo de Ouro e o Bafta) conquistados ao longo desta quase meia década de existência, e sem citar o carinho de um público fiel, o programa [estamos falando apenas da primeira temporada – 2016] é dono de qualidade não só certeira mas também refinada; estando as duas qualidades intrinsicamente correlacionadas.

Em síntese, The crown já parte do acerto de tornar acessível, ainda que ficcionalmente, um ambiente inacessível – o universo e o cenário cotidiano da realeza britânica, com diálogos entre os membros da família real que, ok, poderiam ser por nós intuídos, mas, provavelmente, não com tanta elegância como nos apresenta a série.

Nesse sentido, a magnitude das locações, entre interiores de palácios e castelos, salta aos olhos, reforçando a original ideia de luxo e esplendor, mas também rigor, que emoldura a vida dos nobres britânicos. Tais cenários batem, naturalmente, com espantoso impacto sobre a retina de burgueses e plebeus no mundo inteiro.

Sendo também direto, é clara a estratégia dramática e dramatúrgica de The crown em ilustrar os contextos pessoais e políticos da rainha Elizabeth (Claire Foy, T1 e T2) a partir de “fracassados”. Nada mais certeiro do que criar tensão, comoção, identificação incluindo com destaque injustiçados no enredo.

Lithgow como Churchill

As aspas servem para reforçar que não há fracassados no contexto da série, o mais correto residiria no termo ‘frustrado’, de qualquer forma é pelo inconformismo ou sofrimento de Philip, o Duque de Edimburgo (Matt Smith, T1 e T2), do primeiro ministro Winston Churchill (John Lithgow, T1 e T3), da irmã caçula da rainha, a princesa Margaret (Vanessa Kirby, T1 e T2) com seu par romântico, Peter Townsend (Ben Miles, T1 e T2), e, inclusive, David, o Duque de Windsor (Alex Jennings) com todo o seu peso de ser um eterno ex-rei, banido da realeza e da família.

A própria jovem rainha Elizabeth, quando, em 1953, aos 26 anos de idade, teve a coroa repousada pela primeira vez na cabeça, é apresentada pela séria como uma, digamos, vítima da tradição contra a nascente modernidade que o mundo vislumbra. Modernidade da qual é ela própria uma testemunha e que também deseja, intimamente, ser uma agente, como qualquer jovem com energia e inteligência.

Para concluir, é impossível deixar de pontuar as várias excelentes performances em The crown, com destaque para, obviamente, Claire Foy, pela econômica riqueza de sugestões emotivas criadas com seus olhos, e Lithgow, pela imponência na composição do corpo que criou para representar o tamanho do poder e do sagaz e divertido mau-humor no temido líder inglês.

PS – Aos que ainda não tiveram a chance de acessar The crown e se arriscarão nela, atentem para os episódios #4 (Ato divino), #7 (Saber é poder) e #9 (Assassinos). Esta última, em particular, uma pérola.

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