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Trânsito mata

Sugestão, em 1997, de um aluno de jornalismo para minimizar a crescente violência no trânsito do Recife.

Por Luiz Joaquim | 11.06.2020 (quinta-feira)

– texto originalmente publicado na seção de Opinião do Diário de Pernambuco em 27 de novembro de 1997. A foto acima é meramente ilustrativa, é de 1967 (portanto, 30 anos antes desse texto ter sido escrito) e mostra engarrafamento na av. Martins de Barros, Recife.

É com horror que observamos o quão pouco vale, hoje,  uma vida humana. Se atentarmos para os periódicos nos últimos dias, podemos perceber o crescente registro de mortes causadas  pela “explosão” de impacientes motoristas portando armas de fogo.

Estamos vivendo em uma sociedade em que casos, como a de uma simples ultrapassagem, já se tornam motivo suficiente para matar outra pessoa.

A importância da vida humana fica relevada ao simples desejo de se livrar de um problema ou da tentativa de resgatar a pseudo-honra perdida por ter sido “fechado” por um carrão.

Isso acontece porque, quando estamos na rua, levamos conosco todo o estresse de uma vida agitada é cheia de problemas aparentemente insolúveis. Daí, nos sentimos injustiçados e bastante  suscetíveis à revolta.

No trânsito, tendemos a sentir segurança dentro da  nossa “fortaleza”, que é o nosso automóvel. Desta forma, quando somos insultados de alguma maneira enquanto dirigimos (e por menor que seja este insulto) costumamos responder mal criadamente, xingando até a mãe do outro motorista.

Mas quando se tem uma arma, que fortalece a falsa sensação de um  poder absoluto, aí a coisa foge de controle. Verdadeiras tragédias acontecem. Tragédias que poderiam ser evitadas com o mínimo de paciência e com um pouco de uso da razão.

Está certo que o trânsito maluco do Recife é revoltante e ensandecedor, mas isso não é uma exclusividade nossa e muito menos razão para chegar onde chegamos, assumindo o inglório título de segunda metrópole  mais violenta no trânsito do Brasil.

Como o autocontrole no trânsito está em vias de extinção, cabe ao governo uma fiscalização mais veemente neste sentido.

O Detran poderia muito bem aproveitar as atuais blitzes computadorizadas, que estão nas ruas verificando quem está quite com o pagamento do IPVA, e fazer um trabalho em conjunto com a polícia civil, averiguando se os motoristas encontrados portando arma possuem também o documento obrigatório para o manuseio da mesma.

Nada mais eficiente para por em prática uma lei que pretende diminuir a violência. O porte ilegal de arma é crime, e, conforme o delito, inafiançável.

Voltando ao trânsito, constatamos que, infelizmente, o individualismo impera acima de tudo e, junto com ele, a hipocrisia também. Nunca nos responsabilizamos pelas colisões e sempre queremos resolver as coisas da maneira mais rápida (mas nem sempre a correta, como ameaçar o outro envolvido com um revolver).

Esta é a preocupante realidade que nós traz à tona a fragilidade de nossa segurança nas ruas.

O ideal mesmo seria que víssemos o motorista, que dirige aquela outra “fortaleza” ao nosso lado, como um ser humano com tantos problemas quanto os nossos ou, quem sabe, até mais.

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