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Festivais

48º Gramado (2020) – O Samba é Primo do Jazz

Quando a programação ajuda a destacar o que há de valioso em cada filme.

Por Luiz Joaquim | 22.09.2020 (terça-feira)

O destaque da noite de ontem (21) na programação competitiva do 48º Festival de Cinema de Gramado ficou com a própria programação. Foi mais que acertada a reunião dos quatro títulos escolhidos para compor os programas de curtas-metragens e longa brasileiro, além do longa estrangeiro (no caso, uruguaio).

Isso porque Wander Vi, o curta do Distrito Federal, assinado por Augusto Borges e Nathalya Brum, sobre o jovem aspirante à artista que dá título ao filme funcionou como uma peça audiovisual do presente que toca em questões caras ao passado da protagonista do longa carioca O samba é primo do jazz, de Angela Zoé. Nesse último, a diretora revisita a trajetória e a persona de Alcione, um dos nomes mais queridos, há décadas, da música brasileira.

O longa é, enfim, uma dedicatória de amor a nossa Marrom. E quando usamos tal pronome possessivo à frente de uma artista, significa que ela já ganhou uma dimensão gigantesca, a ponto de ser considerado um patrimônio brasileiro.

A relação entre Wander Vi e Alcione – e foi particularmente interessante ver os filmes tão próximos – se dá por conta de três aspectos: a paixão absoluta e a centralidade da música na vida de ambos os personagens; a dificuldade no início da carreira (sendo, no caso do jovem Walder Wi, esse o atual estágio da sua carreira musical); e a escancarada alegria de viver, desde que a música esteja constantemente presente na vida dos dois.

Festival providencia procedimentos diários de higienização das instalações do Palácio dos Festivais (crédito: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto)

Mais uma curiosidade une os dois documentários. Tanto Wander Vi quanto Alcione abrem seus filmes sendo entrevistados num meio de transporte em movimento. Enquanto a Marrom fala à câmera sentada num tuk tuk lisboeta, Wander Wi conversa com Nathalya Brum sentado num táxi, ou uber, no Distrito Federal.

No caso de O samba é primo do jazz, o sumo deixado pelo documentário concentra o que há de autêntico e, portanto, rico e valioso, no trabalho de Alcione, ressaltando o reconhecimento que a artista merece como uma das peças fundamentais que formam o mundialmente invejado mosaico da música popular brasileira.

No caso do segundo curta brasileiro, Extratos, de Sinai Sganzerla, a comunicação se deu com o longa El gran viaje al pais pequeño, de Micaela Solé, ainda que em escala mais sutil, é verdade. Isso porque, no curta, Sinai amarra sobras de imagens feitas em Super-8 por Rogério Sganzerla (1946-2004) e Helena Ignez no período em que o casal se exilou no exterior (passando por Londres, Marrakech, Rabat e a região desértica do Saara) entre 1970 e 1972. Sob o off de Helena Ignez, temos uma costura de belas imagens e muitas cores, e seguimos nesse trajeto que, na realidade, foi traçado com bastante dificuldades pelo casal.

O longa uruguaio também parte de um movimento de fuga dos protagonistas por questões políticas em seu país de origem. No caso, temos prioritariamente a família síria de Sanaa e Ibrahim Almohammad, aderindo a um acordo diplomático para ir morar em Montevideo e escapar da guerra (leia em breve aqui no CinemaEscrito, crítica sobre El gran viaje al pais pequeno).

Acompanhe a entrevista de hoje (22) com os realizadores dos filme exibidos na noite de ontem (21) no vídeo abaixo, hospedado no canal do Festival de Gramado no YouTube.

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